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Shawn

Ellie esteve internada por três dias, para que mais exames fossem feitos e todas as suspeitas de qualquer dano tivessem sido aniquiladas. Minha pequena está bem agora. Novos testes de alergia lhe foram aplicados, evitando que algo similar volte a acontecer no futuro. 

A pequena lidou muito bem com tudo isso. Aliás, minha filha gosta da atenção. E eu gosto que ela esteja bem, devolve o ar aos meus pulmões. Por outro lado, Camila parece estar construindo uma linha muito evidente entre nós. Sinto que ela está um pouco mais afastada de mim em toda oportunidade – não de forma física, até porque, nesses três dias, a mulher esteve com Ellie no hospital quase que em tempo integral. É mais sobre o que eu sinto nela. Seu comportamento distante não deveria ser motivo de preocupação para mim, passamos por momentos de muita tensão com essa situação toda. O afastamento é aceitável... É disso que tento me convencer enquanto finjo não notar que até mesmo seus beijos se tornaram superficiais.

Esta tarde, minha filha finalmente voltou para casa. Camila ficou com ela aqui quando precisei sair para ir à maldita reunião com o advogado de Francine. Não contei à Camila sobre o pedido de minha ex; gostaria de compartilhar, mas, maldição, mal sei em que pé estão as coisas entre nós.

Retornei há alguns minutos, mas ainda não me fiz ser notado. Massageio discretamente a têmpora, desejando afugentar a dor de cabeça constante que me acompanha desde a noite em que recebi a notícia sobre minha filha ter sido hospitalizada. Estou numa desordem, tentando duramente não demonstrar nada a nenhuma delas.

Recostado contra a parede, observo Camila cobrir Ellie, que ainda resiste bravamente ao sono, resmungando algumas coisas em meio ao bocejo. As piscadas pesadas avisam que a batalha está quase perdida para ela.

— Nós podemos fazer um para tia Evie também, Camila. — a criança sugere, sonolenta.

— Sim, você tem razão. Agora durma um pouquinho, amanhã teremos muito tempo para isto, princesa.

Assim que a última gota de resistência é derrubada e Ellie adormece, Camila lhe beija o topo da cabeça. E então, ao se girar, límpido como água, percebo o desconforto dela por ter de me enfrentar sozinha, sem minha filha como pretexto para me evitar.

— Bem... — diz em voz baixa, alisando as mãos nas laterais das pernas — Eu acho que vou indo também...

Não me movo. Não consigo.

— Fique... — meu pedido é feito de forma grave, abafada.

De cabeça baixa, ela nega.

— Eu preciso mesmo ir, Shawn. Tenho trabalho a fazer.

Quero sacudi-la e obrigá-la a me contar o que está havendo. 

Parecendo prever minha intenção de confrontá-la, ela se dirige à porta do quarto, como se qualquer coisa que eu tenha a falar não tivesse importância. Ao passar por mim, seu perfume suave entra em meu sistema como uma injeção de adrenalina.

Jesus, eu sinto tanta saudade...O conhecimento desta necessidade é uma pancada. Estou me tornando dependente do nosso contato. Nunca estive por nenhuma outra e sei que este é possivelmente um grande erro.

Aperto meus olhos por um ligeiro instante.

— Espere. — exijo, baixo, forçadamente sob controle, antes que ela tenha a oportunidade de se afastar — Eu vou te levar até a porta.

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