Shawn
Cerro a mandíbula diante da cena.
Honestamente, mal consigo me lembrar de como respirar, atingido por uma violenta sensação em vê-las assim. Tudo o que faço é permanecer imóvel, observando, fascinado.
"Minha nossa, você nunca me disse que tinha um vizinho tão..." o sujeito em sua casa interrompe o momento, dando ênfase exagerada à minha presença, e me pego detestando a interferência. Eu poderia apenas assistir às duas rindo deste jeito por horas... Oh, merda, o que estou dizendo?
Ao me notar, o sorriso de Camila morre lentamente. E me vejo rígido enquanto ela limpa o canto dos olhos (lágrimas provavelmente provocadas pelo riso).
— Shawn — meu nome é sibilado em seus lábios, desprevenida.
Inferno, quando você pensa que a mulher não pode ser mais atraente, ela te surpreende.
Limpo a garganta e aceno com a cabeça, sutil.
Lembro-me então do prato pesando em minha mão. Cheguei em casa a tempo de pegar Marieta embalando os doces como cortesia à vizinha. Não consegui perder a boa desculpa para vê-la novamente. Se eu for sincero, este par de olhos castanhos está perturbando meus pensamentos nos últimos dias. Há muito tempo eu não me via pensando tanto em alguém...
— Eu trouxe... doces — digo, com a voz abafada, rouca, traindo minha vontade de parecer imune.
Noto, pela maneira como ela limpa as mãos na saia, que Camila foi pega de surpresa por minha presença. Mais do que isto, é como se a guarda confiante que sempre exibe quando estou por perto estivesse baixada e este aqui fosse seu lado real.
— Papai! — Ellie grita, pronta para vir até mim.
Camila se gira para a criança na velocidade da luz.
— Não, não, senhorita — ela intercepta a intenção de minha filha — Espere um pouquinho. Deixe-me tirar isto de você, primeiro. Não queremos que a peça que você me pregou seja pra valer, não é?
O tom é um tipo afetuoso de autoridade. Falando deste jeito, até eu a obedeceria.
Inapropriadamente, me pego imaginando se ela tem este perfil mandão enquanto fode. Maldição, uma ereção agora é tudo o que eu menos preciso.
— Você vai colocar botões brilhantes? — a pequena acompanha com total atenção os movimentos da mulher tirando seu vestido.
Não escuto a resposta que Camila dá ao seu pedido, mas, seja lá o que for, faz minha filha rir, animada.
Um estalo de língua vindo do sujeito em pé na sala me lembra de sua presença. O jeito espertamente conhecedor como ele olha de mim para as meninas, inferno, me ruboriza. Com um elevar de sobrancelha e um sorrisinho, sua expressão sustenta algo como: "Eu sei o que você está pensando".
— Afinal, quem é você? — rosno baixo, para que elas não me ouçam.
Ele cruza os braços, elevando o queixo orgulhosamente.
— Sou Mau... Mauro. O assistente da Camila.
— Hum — resmungo, sem nenhuma vontade de bater papo com ele, principalmente com esta sua expressão sacana de quem me pegou no pulo.