Camila
Sim, bom Deus, ele acabou de dizer as palavras! Mal sei lidar com toda a agitação que se forma na borda do estômago e esta palpitação desenfreada… Mas basta um olhar mais atento em Shawn para notar que algo o perturba, então simplesmente sinto as emoções se dividirem em mim.Eu sei que as palavras são reais, eu as sinto na pele... não obstante, também enxergo a inquietude nas profundezas de seus olhos acinzentados. E minha preocupação fala mais alto, querendo saber o que há de errado.
Ante a indagação, ele sorri. Sorri de verdade. Seus lábios se curvam naquele tipo risada de lado tão atraente que me suga o ar.
— Porra, eu estou aqui te dizendo que te amo, é isso o que você responde? — murmura rouco, quente.
—Shawn — lambo meus lábios outra vez, devolvendo umidade — E-eu… — investigo novamente seus olhos, sem saber muito em que direção ir — Ouvir isso é… Quero dizer, eu poderia falar que é cedo, e, sim, é cedo mesmo, mas, mas… — meu raciocínio parece todo atrapalhado.
Paro de falar para tomar um fôlego, sem ter como fugir. Ele está aqui, diante de mim, sendo completamente honesto com o que sente. Não há como deixar de fazer o mesmo. Simplesmente não há.
— Eu me sinto da mesma forma sobre você… — revelo, desarmada — Se eu for honesta, a verdade é que eu amo como me sinto quando estou ao seu lado. Amo como você sorri e de repente nada mais em volta parece ter a menor importância — gesticulo ao ar — Amo seu cheiro e tudo o que faz comigo — fecho meus olhos brevemente — Deus, eu te amo... Como isso é possível assim tão rápido?
O sorriso se alarga, iluminando tudo em seu rosto. Há tanta vida, tanta paixão.
Shawn recosta sua testa contra a minha e sussurra:
— Não é ruim. — sinto o humor em seu timbre — Me amar não é ruim.
Deslizo as mãos em seu peito firme.
— Eu sei — mordo o lábio — E já que estamos neste momento tão revelador… Preciso te dizer que eu nunca me senti assim com ninguém antes… É-é tão louco — cochicho em uma mistura de graça e lamento.
Seu peito retumba, rindo baixo.
— Eu me pergunto se você é real.
Levanto meus olhos para ele.
— Pois eu me faço esta pergunta desde que te conheci, doutor. Ninguém pode ter tantas qualidades assim, juntas. Um excelente pai, cria a Matraquinha tão bem, salva a vida das pessoas como profissão, tem este maldito olhar comedor que me faz derreter… e ainda fode como um deus… — acrescento um toque de malícia nesta última parte — Agora, ajude-me a descobrir seus defeitos, sim?
Estamos na base de sussurros. Suas mãos seguram meu rosto de frente para ele.
— Fodo com um deus, hein…
Mordo a risada.
— De tudo o que eu disse, você só escutou isto, não é? Que convencido…
Soco de leve seu ombro.
O sorriso morre aos pouquinhos, e a intensidade vai ganhando célula a célula de sua expressão, até dominar tudo.