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Shawn

Através do sistema de comunicação nos fones, ouço a informação do piloto sobre a aterrissagem no heliporto do Hospital Central. Foram os quarenta minutos mais angustiantes da minha vida. 

Minha filha, eu preciso saber como ela está. 

O recado de Emanuelle não foi animador, tampouco deixou-me saber o que houve de fato. Inferno, o que deu errado?

— Vai ficar tudo bem, Shawn — ele diz, enquanto maneja o helicóptero na pista desenhada no alto do prédio.

Não precisei pedir a Raled Saleh pela aeronave disponibilizada pela secretaria de saúde para os casos de emergência que precisariam ser transportados à capital. Assim que voltei ao ponto de atendimento instalado da maldita festa (após socorrer o oitavo caso de intoxicação por excesso de álcool), eles já estavam me aguardando.

— É o que eu espero. — grunho, embargado de todas as piores emoções.

Minha pequena, minha garotinha.

Não espero que as hélices parem. Quando o último instrumento é desligado, abro a porta e salto para fora. Já fiz este trajeto tantas vezes antes, mas hoje ele parece mais assustador do que nunca. 

O elevador não está no local. Corro pelas escadarias e vou empurrando portas, todas elas no caminho que leva à UTI. É onde está minha pequena.

Paro na recepção do andar apenas para verificar em qual ala Ellie está... Com uma breve olhada de longe através da pequena janela de vidro acoplada na porta que separa o corredor ao lado de fora da unidade, eu a vejo... 

Camila, sentada no chão, pernas puxadas até o peito, braços em volta de si, encolhida, vestida de pijama e um chinelo simples para a noite fria. Em seu rosto, enxergo o evidente pânico. Ela parece... tão frágil, tão quebrada. Seu estado me parte ao meio. Quero ir até lá, arrancá-la do chão e trazê-la contra meu peito...Vê-la assim só intensifica minha preocupação com Ellie. E isso leva a melhor. 

Minha filha vem em primeiro lugar. Sempre.

Camila vai entender. Eu sei que vai.

Entro no leito e imediatamente sou tomado pela dilacerante fraqueza em todos os músculos do meu corpo. A dor que me rasga o peito é tão familiar, tão malditamente familiar. É como voltar no tempo... no dia em que a encontrei nesta mesma situação, adormecida como um pequeno anjo. Meu anjo. Minha pequena. 

Olho-a descansando tão tranquilamente que é como se ainda estivesse do mesmo jeito que a deixei horas antes, em nossa casa, na sua cama de princesa. A minha princesinha.

Aproximo-me da maca sem controlar a queimação a inundar meus olhos. Este pequeno ser é a razão da minha vida. Antes dela, eu apenas existia. Ellie passou a ser o único propósito de tudo. A ideia de que ela esteja em risco é insuportável.

— Filha — murmuro, arrebentado de dentro pra fora.

— Ellie está anestesiada, Shawn.

Só então percebo Manu sentada na poltrona no canto do quarto escurecido. Ela se aproxima e toca meu ombro em apoio.

Meu olhar cai para a ficha de admissão com as informações de minha filha na condição de paciente. Leio rapidamente o prontuário... Por um instante, nem sei o que dizer. Ellie teve obstrução das vias respiratórias e chegou a receber o RCP ainda em casa. O procedimento de reanimação cardiorrespiratória em alguém tão pequeno aterroriza até mesmo a mim, com toda a minha experiência. 

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