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Camila

Estar nesta sala, assistindo à Ellie com uma peruca enorme na cabeça jogar a trança de um lado para outro – fingindo que é realmente seu cabelo –, enquanto desliza por seus lábios um de meus melhores batons, sem nenhuma piedade, me preenche com uma plena sensação de satisfação. Sim, de estar em casa e não desejar outro lugar no mundo que não este.

Entre uma passada do produto e outra, ela sorri para mim, dentinhos manchados, boca completamente borrada, e jorra fofurices do tipo “Eu adoro esta cor”. A criança tem bom gosto, por sinal.

— Bem, eu acho que já é hora de uma mocinha ir para o banho. O que você acha, Camila? — Shawn caminha para nós, pés descalços, camiseta e jeans, num tipo relaxado que eu amo ver. Seu semblante tranquilo, apesar da ruga no cenho, enriquece meu peito de um enorme alívio por tê-lo de volta em minha vida. Eu não suportaria não ter.

— Ahhh, papai… — a espertinha reclama, olhos piedosos, de um jeito difícil de ignorar.

Levanto-me do chão onde estamos, limpando as mãos na calça.

— Hum, eu acho que seu pai tem razão, princesa. Mas eu posso te ajudar nisso, se quiser.

E, como sempre, sou contemplada por aquele olharzinho cheio de admiração, de interesse, parecendo que tudo o que envolve nós duas é uma aventura para ela. Se Ellie soubesse o quanto me faz feliz… O quanto traz uma parte do meu coração de volta à vida.

A Matraquinha marcha para o quarto com vigor. Sorrindo para o cara que me tem sob seu olhar intenso, eu a sigo. Quando passo por Shawn, ele prende meu cotovelo e se aproxima um pouco mais, encostando seus lábios em meu ouvido.

— Se você quiser, eu posso te ajudar com o seu banho mais tarde também.

Dou um tapa de leve em seu estômago, mascarando a reação de meu corpo diante de sua voz sussurrada roucamente contra minha pele.

Não controlo o suspiro baixo, ofegante.

— Promessas, promessas… — provoco.

— Um fato. — morde meu lóbulo, dizendo em voz baixa — Encare como um fato.

Antes de fraquejar, marcho para o banheiro da menina.

Depois de quase meia hora entre banho e brincar na água com as bonecas, finalmente consigo tirar Ellie de dentro da banheira. Seu pé e mãos chegam a estar enrugados. Seco-a e a visto no pijama cor-de-rosa de princesa.

O esforço de erguê-la no colo provoca uma picada leve de dor no machucado em meu supercílio. Ellie percebe e toca meu rosto, bem próximo ao local, enquanto a levo para seu quarto.

— Dói? — indaga baixinho, um bracinho envolvendo meu pescoço.

— Um pouquinho só, mas já passa.

— Você quer que eu fique em casa amanhã para cuidar de você?

Mordo o sorriso. Muito sagaz, apesar de tão pequena.

— Hum… — finjo pensar na ideia — Eu acho que não… sabe o que pode ajudar? Eu me deitar um pouquinho com você — coloco-a em cima da cama.

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