Call Girl | Nikki Sixx

Kickstart My Heart

Nikki Sixx

Despertei após horas desacordado — ou dias? — em uma cama de hospital e tentei me mexer, mas todos aqueles aparelhos ligados a mim me impediram. Dirigi o olhar à bolsa de soro e bufei. Lá vamos nós de novo passar por esse processo desgraçado de desintoxicação... Minha cabeça estava latejando, não conseguia abrir totalmente os olhos e sentia meu corpo fraco pesar no colchão. Naquele momento, eu parecia um cadáver.

— Ei, dude! Que bom que acordou! — Vince entrou no quarto.

— Oi, Vinnie. — disse baixo, rouco. — Que porra é essa? Tive uma overdose?

— Não... Você não.

Sua resposta fez meu coração disparar e o monitor cardíaco apitou.

— Como assim "você não"? O que quer dizer com isso?

— Vocês ficaram loucos, porra?! — ele começou a gritar. — Na hora de chapar ninguém pensou que poderia morrer?

— Cara, como assim?! Fala logo! O que aconteceu?

— Shannon teve uma overdose, Nikki!

— Não, não, não... Não!

Vi o mundo desabar ao meu redor. Tudo poderia me afetar, ou afetar qualquer pessoa desse mundo, menos minha Shannon. Tive vontade de arrancar a agulha do braço, os malditos fios emaranhados e ir correndo até ela.

— Eu quero vê-la! Onde ela está?!

— Calma, Nikki!

— Eu quero vê-la! — berrei em desespero.

Shannon Blythe

— Amor? — murmurei, olhando-o no fundo dos olhos verdes. — Onde estamos?

Tudo era branco; sem exceção alguma. E, apesar de estar confusa, sentia uma grande paz interior que me fazia querer sorrir, sorrir por tempo indeterminado. Olhei para meu próprio corpo e me deparei com as roupas que usava com frequência: um bustiê de couro e uma minissaia. Depois, passei as mãos nos cabelos e percebi que tinham sido cortados desniveladamente, como quando se passa uma navalha, muitas pontas rebeldes. Sua cor também estava diferente, aliás, um tom marrom-escuro quase preto. Então, pensei naquela possibilidade... Assustadora.

— Nós morremos, Shan. — Nikki respondeu, sereno, arrancando palavras da minha boca.

Senti lágrimas quentes molharem meu rosto, abracei-o apertado e, assim que abri os olhos, mamãe estava ali, nos observando ao longe com um sorriso nos lábios. Minha dúvida foi solucionada: ela tinha aprovado nosso relacionamento.

Barulhos altos preencheram meus ouvidos, uma mistura de murmúrios confusos, passos, o lugar era gelado e bastante iluminado. Esforcei-me para abrir os olhos.

— Eu estou viva? — balbuciei.

Ouvia-se um bip na sala e vi pessoas vestidas de branco, quatro de cada lado da maca, me olhando com atenção.

Porra, não...

— Sim, Shannon. — um dos médicos respondeu. — Bom, pessoal, preciso que ela fique em observação na Unidade de Terapia Intensiva.

A equipe assentiu e, enquanto isso, eu continuava sem entender. Colocaram um medicamento no meu soro que me fez apagar.

Tommy Lee

— Parada cardiorrespiratória, um minuto e meio sem pulsação. Shannon está na UTI, por enquanto não pode receber visitas! — essas foram as informações que me deixaram petrificado.