Shannon Blythe
— Obrigada, dona Deana! — agradeci pelo pote cheio de farinha.
— Não há de quê, querida. — a vizinha sorriu e fechou a porta.
Estava morando há quase quatro meses na rua mais pacata da cidade de San José, onde havia vários sobrados americanos e uma vizinhança composta, basicamente, por famílias perfeitas de propaganda de margarina com dois ou três filhos pequenos. Aquele ambiente familiar me agradava, até porque nunca tive uma família. Era reconfortante.
— Aqui está. — entreguei o pote para minha avó, como sempre envolvida nos afazeres domésticos.
— Obrigada, Shan. Deana é uma boa pessoa, não é? — perguntou, varrendo o chão da cozinha.
— Sim, vó. Gostei dela.
Saí da casa e tirei a carteira de cigarros do bolso traseiro do shorts. Acendi um, a cortiça laranja entre meus dedos e soprei fumaça calmamente, observando-a se dissipar no ar. Ao longe, apenas duas crianças brincavam em seus quintais, até que avistei Deana. Ela caminhou em minha direção e sentou do meu lado, no degrau da varanda.
— Oi, Shannon. Estava me sentindo tão sozinha que decidi vir conversar com você, se importa?
— De forma alguma!
— Obrigada. — ficamos em silêncio, visivelmente desconfortáveis. — Meu filho também fuma... É uma decepção enorme.
Ri sem jeito e dei a última tragada antes de apagar o cigarro no cinzeiro que coloquei no colo, sobre minhas coxas.
— Quem é seu filho?
— Ele se chama Frank. — me encarou. — Faz tanto tempo que não nos vemos! Deve estar com 20 e poucos anos ou... Morto. Já nem sei mais, também não procuro saber.
— E ele mora em San José?
— Não, Los Angeles.
Meu sorriso esmaeceu. Tinha um flashback de todos meus malditos momentos sempre que lembrava daquela cidade.
— Está tudo bem, Shannon?
— Ah, sim! — meneei a cabeça. — Só recordei algumas coisas... Eu vim de lá.
— Sua avó me contou.
— Por que não surpreende? — rimos. — Pelo menos estou acostumada com mudanças desde pequena. Fui de Seattle para Nova Iorque, Nova Iorque para Seattle, Seattle para L.A. e L.A. para San José.
— Gostando daqui?
— Sim. — dei de ombros. — Muito melhor do que a "Cidade dos Anjos" que de cidade dos anjos não tem nada.
— Shannon, desculpa a curiosidade, mas por que tanta mágoa de Los Angeles?
— É que... Em poucos palavras... Eu fui stripper.
— Nossa! Sério? — Deana arregalou os olhos.
— E prostituta... — completei. — Sofri poucas e boas, não tinha outra saída. Nunca me orgulhei de vender o próprio corpo.
— Foi o que te restou, querida, não estou aqui para julgá-la. Frank adora prostíbulos, é um frequentador assíduo, então seria injusto dizer qualquer coisa a seu respeito.
— Obrigada. — sorri fraco.
Samantha Smith
— Não acredito que você me fez vir até San José, cara.
— Não se preocupa, Sammy! Providenciei os melhores atestados falsos da Califórnia para você entregar ao Brooke! — ele gargalhou, parando no semáforo. — E... Obrigado por estar aqui. Sem sua ajuda não conseguiria encontrá-la nunca mais.
— Nikki, o que Shannon tem de tão especial assim?
— Ah... Ela é linda. — suspirou. — Não sei explicar. É uma coisa que apenas sinto. Quando vi a Shan pela primeira vez, soube sem sombra de dúvidas que ela era minha mulher ideal, mãe dos meus filhos se eu tiver algum, sei lá, uma parceira para toda vida. Cansei de ser o Nikki babaca de 20 anos que não pensa no futuro e acha que o pau sobe até ficar velho. Sexo desgasta, amor não e isso é amor verdadeiro.
— Uau! Você é o homem mais amável e determinado que já conheci! — Nikki abaixou a cabeça, tímido. — Por isso te disse que é normal se apaixonar, que estilo de vida e amor não se batem de frente. Cada coisa é uma coisa. Shannon apareceu e te colocou na linha.
— É, mas às vezes acho que estou bancando o idiota. — ele me olhou e riu pelo nariz. — Dude... Viajei mais de quatro horas só pra ver uma garota que não sai da minha cabeça e nem sei se esse sentimento é recíproco. Se você fosse ela, o que acharia disso tudo?
— Maravilhoso.
Nikki sorriu e entrou em uma rua pouco movimentada. Ela ficava próxima ao centro da cidade e a vizinhança me pareceu bem tranquila. Ele estacionou o carro, debruçou no volante e tomou fôlego.
— Esqueci de falar que eu vivi aqui.
— O que? Onde?
— Ali! — apontou. — Morei durante toda minha infância e adolescência naquela casa, Samantha. Além de reencontrar Shannon, hoje vou rever minha mãe.
Fiquei calada, não sabendo o que responder. Nikki tomou fôlego mais uma vez, saiu do carro e eu o acompanhei, perdida em devaneios.
— Sua expressão não me engana! Está nervoso, né?
— Só um pouco.
Gargalhei.
— Coitadinho... Você não sabe mentir.
Shannon Blythe
— Shan! — minha avó chamou de outro cômodo. — Atende à campainha, por favor!
— Merda. — rolei os olhos, levantando preguiçosamente do sofá.
Abri a porta de supetão e quase caí de costas. Nikki e Samantha estavam parados inexpressivos à minha frente.
— O que você... Vocês estão fazendo aqui?!
Desejava matar aquela loira bocuda por ter dito meu novo endereço ao baixista. Sammy sorriu aflita, temendo minha reação seguinte, e voltou ao Porsche. Inacreditável.
— O que quer?
— Conversar com você.
— Como assim?
— Por favor...
Droga, não tinha jeito!
Nenhuma mulher do universo seria capaz de recusar um pedido de Nikki Sixx com carinha de cachorro que caiu da mudança.
— Tá, conversamos nos fundos da casa. Minha avó não pode ver.
Puxei sua mão e lancei um olhar psicopata para Samantha, que nos observava pela janela do carro, antes de dar as costas.
Lá vamos nós de novo...
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Call Girl | Nikki Sixx
FanficShannon "Holly" Blythe, nos anos 80, era a stripper mais cobiçada do Seventh Veil. Dona de um incrível SEX APPEAL, a garota enlouquecia os clientes, mas não era enlouquecida por ninguém. A prostituição a fazia acreditar que pessoas como ela não podi...