Dois meses haviam se passado e todo dia era a mesma coisa. Suas mãos e pés eram presos a algemas e dois guardas a vigiavam noite e dia, Kion levava comida pra ela duas vezes ao dia e ela ouvia, pelo buraco na parede, soldados que passavam por ali murmurar sobre ataques de nebulosos aos flyers. Ela passava a maior parte do tempo envolta em um escudo de sombras, era a única coisa que ela ainda tinha.
— Toc toc. — disse Kion.
— Quem é?
— O almoço. E ele está sem paciência hoje.
— E quando o almoço está com paciência?
— Você vai querer comer ou não?
— Vou. — respondeu Ravena, dispersando as sombras.
Kion soltou seus pulsos das correntes e se sentou ao seu lado. Os guardas não estavam ali.
— Deixa eu te perguntar, a comida daqui é ruim, ou ela é feita especialmente pra mim?
— Você não é tão importante assim, tá. Ela é ruim mesmo.
Ravena o encarou por um momento.
— Tem alguma coisa na minha cara por acaso?
— Não, mas é que você é muito parecido com o Karayan.
— De novo isso, que inferno!
— Mas é sério. Tem uma pintura no palácio de quando ele era mais novo e é idêntico a você. Será que vocês são parentes?
— É claro que não. Agora será que dá pra comer e calar a boca?
— Tá, não tá mais aqui quem falou.
— O conselho finalmente tomou uma decisão. Sobre o que vão fazer com você.
— Legal. Mas eu não quero saber.
— Qual é o seu poder? Além de manipular as sombras.
— Você não quer saber.
— Eu quero sim.
— É um poder idiota.
— Fala logo.
— Eu posso sentir o desejo mais profundo de uma pessoa quando toco nela.
— Uau, que inútil.
— Nem sempre, é bem útil quando se quer manipular alguém. E o seu?
— Fogo. Mas eu não consigo usá-lo.
— Ah, é claro. Toda aquela baboseira de ativos e inativos. Nebulosos não tem isso, ninguém compara o seu nível de magia.
— Você fala como se fossem os melhores seres do mundo.
— É porque somos, mas você ainda não está pronto pra essa conversa. Como vai o casamento dos seus pais?
— Minha mãe não traiu o meu pai se é isso que você quer dizer. Ela morreu quando eu era criança, e além do mais, eu sou adotado.
— Eu sinto muito pela sua perda. E isso não muda minhas suspeitas de que você tenha algum grau de parentesco com o Karayan, só aumenta.
— Eu sou flyer, ele é um nebuloso! Está ai o motivo de não termos nada a ver um com o outro.
— Está bem, continue acreditando nisso.
— Onde estão os seus pais, afinal?
— Mortos. Eu já terminei e comer, pode me prender de novo e ir embora.
— Com todo o prazer. Ah, você vai se juntar aos seus pais logo, o conselho decidiu te executar.
— Vai sonhando. Eu não sobrevivi a flecha da minha irmã pra morrer pelas suas mãos.
— Ok, só não vá cometer os mesmos erros da outra vez.
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Reino de Asas e Redenção - Livro 2
FantasyA coisa mais importante para os flyers não é o poder, mas sim suas asas, a capacidade de ser levado por e através do vento. As asas é o que os leva de volta ao lar. Um flyer sem suas asas é um flyer morto. Mas ela está viva, e lutará por seu povo. ...