Capitulo 36

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— Você ai! Você tá livre! — ela ouviu Kion dizer em um tom esganiçado.

Ainda estava muito cedo para ele aparecer, o sol mal havia acabado de nascer. Ravena desfez o escudo de sombras que a cobria para olhar para ele. O general cambaleava e exalava um cheiro forte de álcool.

— Você está bêbado?

— Não, eu vim te libertar.

— Alguém mais sabe disso?

— Sabe, o rei me mandou te soltar. — Ele lamentou.

— E ai você decidiu beber?

— Tá tudo uma bagunça. É por isso que eu bebi. Desde que a Alana morreu o rei Holand não tá sabendo lidar com nada e a tonta da Ariela só quer saber daqueles humanos. Ela não tá nem ai pra guerra. Nós já perdemos 20% da população em dois meses, e vamos perder mais.

— Ei, calma ai, mataram tantos flyers assim

— Sim, vamos todos morrer. Vamos todos morrer! — ele gritou pelo buraco da parede. — A culpa é sua.

— Eu não tenho nada a ver com isso, eu sempre fui contra essa guerra.

— Eu vou te soltar.

— Calma ai, eles vão me soltar assim do nada?

— É.

— Eu acho melhor você esperar até estar sóbrio.

— Não. Eu vou te soltar agora.

Kion destrancou suas correntes antes que ela pudesse protestar mais. Ela poderia simplesmente aproveitar que estava livre e fugir dali antes que alguém fosse lhe procurar. Mas o general não era de todo ruim, e ela ainda tinha um coração bom o suficiente para não deixar que ele se desse mal. Esse mesmo coração quase te matou, Ravena. Mas aquela história ainda era estranha, ela só iria confirmar se estava mesmo livre.

Com Kion se apoiando em seu ombro, ela andou pelo acampamento a procura de alguém que estivesse acordado, o acampamento parecia vazio, triste. Depois de andar um pouco mais, entendeu o porquê. Metade dos soldados estavam reunidos em uma extremidade das montanhas, pareciam abatidos. E o rei conversava em um canto com mais algumas pessoas, entre elas, Ariela, o reizinho humano e a garota que ela se recusara a matar, Laís.

Ravena se aproximou e interrompeu a conversa, que parecia ser bem séria, descaradamente.

— Com licença, desculpe interromper essa conversa, mas eu preciso de uma informação muito importante para o rumo que a minha vida irá tomar. O general Quirien me disse que estou livre, mas como podem ver, as informações dele não são muito confiáveis nesse momento.

— O que você fez com o meu filho? — perguntou um dos homens ao redor do rei.

— Ah, eu não fiz nada. Ele quem bebeu demais.

— Ei, você me matou! — acusou Laís.

— Pelo contrário, eu não te matei, e eu quase morri por causa disso. Você deve estar falando da minha irmã gêmea.

— Quem é ela, Holand? — perguntou uma mulher vestida com armadura de ferro.

— Esta é Ravena Levirat, uma ex-espiã de Karayan e Valkiria. Kion está certo, você está mesmo livre.

— Espere ai, Holand, você vai mesmo deixa-la livre, quando nosso povo está morrendo por causa do que os reis dela estão fazendo? — disse um homem loiro que ela jamais esquecera, e como poderia depois de tudo o que ele havia feito?

Um ódio antigo tomou conta de Ravena, que puxou a espada de Kion da bainha e pulou em cima do homem.

— Não ouse falar deles, quando você é igual, matando pessoas inocentes por puro prazer. — disse ela, com a espada pressionando a garganta do homem.

— Do que você está falando?

— Não lembra de mim, não é? Você me feriu, invadiu minha casa, matou meus pais e os queimou.

— Ah, era você.

— Eu era só uma criança! Você destruiu a minha vida! Não ouse falar da morte do seu povo, quando tudo o que você fez foi matar.

— Larga a espada. — disse a mulher de armadura, colocando a ponta de uma espada em suas costas. — Se fizer mais um movimento eu atravesso a espada pelo seu coração.

— Pode atravessar. — ela respondeu, ao mesmo tempo em que empurrou o homem da montanha. 

Reino de Asas e Redenção - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora