Thiago e eu chegamos ao hospital de mãos dadas. Andamos até o quarto onde Eliot estava, ainda inconsciente, mas, segundo o médico, agora, sem risco de morte. Entro no quarto e vejo Lavigne fazendo carinho no cabelo de Eliot.
_Oi, quer ir comer alguma coisa? Eu fico com ele! – Falo, atraindo a atenção de Lavigne.
_Tem outra base? Longe daqui? – Lavigne pergunta, presa nos próprios pensamentos.
_Em Miami! Porque? – Pergunto.
_Quero ser transferida! O mais rápido possível! – Lavigne fala e eu respiro fundo.
_Tudo bem, depois que Eliot acordar eu transfiro vocês! – Falo e Lavigne nega com a cabeça.
_Você não entendeu, Sophia. Eliot vai ficar, eu vou ir! – Lavigne fala com lagrimas nos olhos.
_Lavigne eu sei que é muita coisa, mas, Eliot iria querer que ficasse com ele! – Falo e ela suspira.
_Eu não posso! Eu faço parte desse mundo, mas Eliot não. Quanto mais longe eu ficar melhor vai ser! – Lavigne fala e eu me aproximo dela.
_Eu vou pedir para Thiago preparar as coisas para a sua transferência, mas, quero que saiba que Eliot iria querer que você se despedisse dele! – Falo e Lavigne suspira.
_A despedida fará isso doer mais que o necessário! – Lavigne fala, me olhando, cabisbaixa.
_Tudo bem! – Falo, saindo do quarto.
Quando contei a Thiago sobre a decisão de Lavigne, ele apenas jogou a cabeça para trás e voltou a me encarar longos segundos depois.
_O que estamos fazendo com essas crianças, porra!? – Thiago perguntou e eu, não soube o que responder.
_Eu não sei, mas, por hora, é isso o que ela quer que a gente faça por ela! – Falo e Thiago suspira.
_Eu vou ligar para o pai dela e solicitar o transporte! – Thiago fala, obviamente contrariado com a decisão de Lavigne.
Fiquei no hospital, ao lado de Lavigne, no quarto onde Eliot estava, até o carro que Thiago solicitou chegar, em seguida, acompanhei Lavigne até o carro, me despedi da mesma, com um abraço apertado e um convite para que ela ficasse com a gente, entretanto, Lavigne apenas sorriu e me entregou um pequeno bilhete interessado a Eliot, o qual pediu que eu entregasse quando, e se, ele acordasse.
_Isso tudo é uma droga! – Falo, olhando para Thiago, que me abraçou.
_Eu sei! – Thiago falou, depositando um beijo no topo da minha cabeça.
_O que eu falo quando ele acordar? – Pergunto.
_Fale a verdade! Não podemos mentir para ele, não seria justo! – Thiago fala e eu suspiro.
_O conselho já soube? – Pergunto, arrumando minha postura.
_Sim. Querem uma reunião amanhã! Vai ser um longo dia! – Thiago fala, preocupado.
_Eu vou ficar com Eliot, pode ir e descansar! – Falo e Thiago sorri, fraco.
_Não vou. Faz um bom tempo que não consigo dormir quando estou longe de você! Além disso, não me importo de ficar aqui! – Thiago fala e eu apenas aceito seu argumento.
Eliot acordou quando o sol já estava quase nascendo, quatro horas depois do horário previsto pelos médicos, enquanto minhas mãos tremiam e Thiago enchia mais uma vez, o copo de café.
Eliot perguntou onde estava, em seguida, o que tinha acontecido. Contei a ele que, alguns ladroes de alto nível tinham tentado roubar nossa carga e ele acabou ferido, mas, que todos já haviam sido pegos, logo depois, Eliot perguntou por Lavigne, e então, eu quis o abraçar, mas não fiz, apenas expliquei que sua amiga e colega de trabalho, havia sido transferida, por pedido dela e que concordamos com a decisão para garantir a segurança da mesma, também falei que se ele quisesse, poderíamos transferi-lo para outro lugar também, em seguida, antes de o deixar sozinho por alguns minutos, entreguei o bilhete de Lavigne.
Quando voltei ao quarto, pronta para falar para Eliot que ele poderia ir para a nossa casa quando ganhasse alta do hospital, escutei ele e Thiago conversando.
_Antes da invasão, a gente se beijou, acha que foi por isso que ela foi embora? – Escutei Eliot perguntar para Thiago, então, paralisei na porta, esperando para ver o que ele responderia.
_Eu não sou a melhor pessoa para falar sobre isso, na verdade, fugi da Sophia quando fiquei com medo de como o nosso amor iria terminar, mas, acho que não foi por isso que Lavigne foi embora! Acho que ela apenas imaginou que a dor de perder o melhor amigo, ou, até mesmo o primeiro amor, seria maior do que ir embora e deixar as coisas se arrumarem com o tempo! – Thiago fala e eu não consigo evitar o sorriso espontâneo que surgiu nos meus lábios ao escutar isso.
_Não quero ir embora daqui! Sei que a Sophia falou que eu posso, mas, não quero! É errado? – Eliot pergunta.
_Nunca será errado fazer o que você quer! – Thiago fala e então, eu abro a porta.
_Tudo bem por aqui, meninos? – Pergunto, fazendo Eliot rir.
_Eu vou ganhar uma medalha por sobreviver? – Eliot pergunta.
_Acho que eu posso conseguir isso! – Falo, arrumando os cabelos bagunçados de Eliot.
_Vocês irão chamar os meus tios? – Eliot pergunta.
_Eu pensei em oferecer o quarto de hospedes, lá de casa, ao invés de ligar para eles. O que acha? – Pergunto.
_Eu concordo! Vocês são legais! – Eliot fala e eu sorrio.
Quando passei por todo o processo de iniciação da mafia, eu não esperava que isso fosse fazer parte do trabalho, não esperava lidar com coisas normais, pessoas normais, problemas, de pessoas que não envolveriam ter que torturar alguém para descobrir segredos obscuros.
Quando Mikhail morreu, tudo o que ele criou durante anos, além da mafia e do rastro de sangue ficou no pacote também, isso inclui pessoas como Eliot, pessoas que não precisam fazer nada além do que vieram destinados a fazer.
Eliot não veio de uma família muito equilibrada, os pais morreram em um incendio criminoso que até hoje, cinco anos depois, ainda é investigado pela mafia, já que a justiça comum não chegou a um culpado. Os tios, nunca deram muito valor ao garoto, que se destacava imensamente nas aulas de programação e tecnologia.
Não serei eu a defender o que a mafia faz de errado, sei bem que somos parte do lado errado da historia e que, pessoas são feridas por conta disso, mas, Mikhail tentou deixar algo bom, algo além da mafia, algo que, apesar de ser bancado com dinheiro ilegal, mudaria a vida de jovens.
Acredito que toda história tenha dois lados e que na maioria das vezes, a mesma pessoa possa ser vista como herói, mas também, como vilão, dependendo de quem narra os fatos.
Não existem seres humanos perfeitos, ao menos, não que eu tenha conhecimento, entretanto, cada ser humano deveria poder escolher qual a sua realidade, qual destino quer seguir, talvez por isso, pessoas poderosas como Mikhail tenham feito essas coisas, para tentar mudar não a própria realidade, mas, a de outras pessoas, pessoas que jamais saberiam seu nome, mas, saberiam que, de alguma forma, ele mudou a historia de muitas pessoas.
_Sophia! Posso fazer uma pergunta? – Eliot fala, me tirando do transe onde eu estava presa.
_Claro! – Falo, direcionando minha atenção á ele.
_Você tem saudade de casa? – Eliot perguntou e eu sorri.
_Tenho! – Falo e ele sorri.
_Pode me contar algo sobre a sua casa? Minha cabeça está doendo e eu preciso me distrair! – Eliot fala e eu suspiro.
_Você já viajou para o Brasil, Eliot? – Pergunto.
_Não. – Eliot fala e eu sorrio.
_Eu morava em uma cidade conhecida, um daqueles lugares que tem praia e aparecem no jornal, sabe? – Pergunto e Eliot ri.
_Parece bom! – Eliot fala e eu sorrio.
_Sabe do que eu mais sinto falta? – Pergunto, ao ver que Eliot fechou os olhos.
_As festas? – Eliot pergunta.
_Errou! Eu sinto falta de brigar com os meus irmãos! Eles me enlouqueciam! Minha mãe só sabia rir da gente! Uma vez, cismei que queria ver neve, então, infernizei meus pais para irmos até uma cidade que nevava no inverno! Sabe o que eu descobri? – Pergunto.
_Que neve faz a gente passar muito frio? – Eliot pergunta e eu sorrio.
_Também! Mas eu descobri que, eu não precisava sair do meu pais para realizar meus sonhos, se valorizasse o que ele tinha a me oferecer! – Falo e Eliot ri, se ajeitando na cama.
_E aí você casou com o Thiago e teve que vir para a Rússia? – Eliot perguntou.
_Eu fiz a minha escolha! Assim como a minha mãe fez a dela quando saiu de Londres e foi para o Brasil! As vezes mudar é bom, deixa aquele gostinho de saudade! – Falo e Eliot finalmente começa a pegar no sono.
_Sabe o que eu queria ser, quando era pequeno? – Eliot pergunta.
_Diga! – Falo e vejo ele soltar um leve suspiro.
_Tony Stark! – Eliot fala e eu sorrio.
_Você está quase lá! – Falo e ele ri.
_A garota nunca deixa o herói, acho que, eu sou o nerd que fica abandonado! – Eliot fala e eu seguro o riso.
_Todos somos heróis, mas as vezes, não sabemos reconhecer o nosso próprio superpoder! – Falo e Eliot abre os olhos, para me olhar.
_Você é boa nisso! – Eliot fala e eu sorrio, brevemente.
_Tomara que você esteja certo! – Falo, acho que mais para mim mesma do que para ele.
Quando Eliot começou a roncar, Thiago me encarou e sorriu.
_O que foi? – Pergunto, olhando para ele.
_Prometa que vai falar essa mesma frase para os nossos filhos! – Thiago falou e eu sorri.
_Eu posso tentar! – Falo e ele ri.
_Eu achava que esse meio ia te tornar alguém sem sentimentos, mas, agora eu vejo que você não pode ser mudada! A bondade está em você, por isso não ficou com medo de morrer por Lavigne! – Thiago fala e eu suspiro.
_Eu não sou perfeita, você sabe disso! Tenho mais sangue nas mãos do que a maioria das pessoas, sei como ser cruel, mas, às vezes, eu posso escolher entre ser quem preciso ser, e, ser quem realmente sou! Mostrar para as pessoas o lado frágil nunca é algo seguro, mas as vezes, é necessário! – Falo e ele anda até mim e me abraça.
_Não sei o que faria sem você! – Thiago fala e eu suspiro.
_Seria um ogro sem sentimentos! – Falo, o fazendo rir.
**************
“Uma hora, a conta chega.”
Lembro exatamente de quando meu pai disse isso pela primeira vez, eu tinha acabado de dar o meu primeiro tiro em um alvo vivo, comecei a vomitar dez segundos depois que vi o corpo caindo no chão, sem vida.
Meu pai e minha mãe não queriam que, nós, os filhos, se envolvessem com os assuntos do morro, mas, na maioria das vezes, acabávamos sabendo. Pitty tinha terminado minhas aulas de tiro uma semana antes de invadirem o morro, com a polícia nós estávamos acostumados a lidar, mas, com os rivais do morro, não estávamos.
Eu estava encolhida, embaixo da mesa do escritório que fica na boca de fumo quando os homens entraram no mesmo, carregando meu pai, ensanguentado por conta das pancadas que levou.
Eram dois. Eram apenas dois.
Eu, confiei no meu instinto nada protetor a minha vida e disparei contra os dois, matando os mesmos, assim que meu pai me olhou, ele provavelmente esqueceu da dor física e começou a chorar desesperadamente, quando perguntei o que havia acontecido, ele respondeu que não queria que eu tivesse feito aquilo, pois, teriam consequências.
Ele não estava falando do vomito.
Sabe porque as pessoas não fazem justiça com as próprias mãos? Porque na maioria das vezes, ela vicia. Matar alguém que você julga ser pior do que você, soa quase como uma grande recompensa ao próprio ego.
Encaro os olhos assustados da mulher amarrada a minha frente, ela está sangrando. O sangue não tem mais aparência de saudável, ele corre por sua perna, como um líquido gosmento preto e a ferida por conta do tiro, começa a feder.
“Uma hora a conta chega!”
_Sua amiga me deu um nome, antes de morrer, que tal você me dar um pouco mais? – Pergunto para ela, que chora, ao encarar meus olhos.
_O que quer saber? – A mulher, com a voz fraca pergunta.
_Eu tenho dois nomes para um mesmo homem, quero o verdadeiro! Hunter, ou, Derek Ballard? Qual dos dois quer essa briga? – Pergunto e a mulher parece perdida.
_Eles são irmãos! Não sei de onde surgiram, mas eles têm poder! Muito poder! – A mulher fala e eu tiro a faca que anteriormente cravei em sua mão.
_Você sabe de mais coisas! Eu consigo ver quando estão mentindo e não gosto disso! – Falo, travando o maxilar.
_Eles falaram com os chineses! – A mulher fala e eu procuro por Nickolas.
Ando até a mesa de metal que fica bem no centro do galpão onde estou, coloco munição na pistola e disparo contra o corpo fraco da mulher, sabendo que, não me sentirei melhor quando sai daqui.
Meu estomago embrulha, assim que chego em casa, corro para o banheiro, colocando tudo para fora, sinto minhas mãos tremerem e minha cabeça girar cada vez mais. Aperto minhas unhas contra a mão, enquanto tento puxar o ar.
_Sophia! – Verônia grita, entrando no banheiro.
_Sai Verônia! – Falo, afastando-a.
_Que porra está acontecendo com você? – Verônia pergunta.
_A máfia Verônia, a máfia está acontecendo! – Falo, me sentando na cama.
_Descanse! – Verônia fala, me entregando um comprimido, que não vi ela pegar.Cinco capítulos postados, estão gostando?
Sexta tem mais!!!
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A Mulher Do Boss - Livro 2 -
RomanceAté onde o amor te manteria de pé? E se esse amor, colocasse a quem você ama em risco? Valeria o preço ? Qual o preço do amor? O reencontro de Sophia e Thiago os fez notar que o amor que sentiram um dia um pelo outro, nunca deixou de existir. A má...