The end of Riverdale

• 04 •

Cheryl Blossom

Acordo bem cedo essa manhã e vou correr um pouco pelas ruas de Sunnyvale. Faz um tempo que não corro, sempre usava isso como uma rota de fuga para os meus problemas. Apenas eu e os meus fones de ouvido, com músicas tristes que parecem saber exatamente pelo que estou passando, fora o tempo nebuloso da cidade.

Hoje é sexta-feira e os meus pais viajam às 9:00. Estou muito ansiosa para voltar a Riverdale e pegar minhas coisas antigas, sinto muita falta do meu colar de cereja. Eu sempre fui fascinada por cerejas, desde que descobri que o meu nome significa flor de cereja. Flor derivado do sobrenome Blossom e cereja de Cheryl, que deriva de Cherry, cereja em inglês.

Assim que volto para casa, vou direto para o banheiro e tomo um banho quente. O clima não está dos melhores, mas é um costume meu tomar banho em água quente. Coloco uma saia preta com botões vermelhos, uma blusa de lã de gola alta vermelha e uma bota da mesma cor, que vai até as minhas coxas. Guardo todos os materiais na minha bolsa e saio do quarto, descendo para a cozinha.

- Você foi correr essa manhã?- meu pai pergunta assim que sento na mesa.

- Sim.

- As ruas são ótimas para correr, Sunnyvale é uma cidade muito boa.- minha mãe sempre faz esses discursinhos sobre a nova cidade, apenas para tentar me convencer que aqui é melhor que Riverdale- Você não acha, Cheryl?

- Aqui é legal, mas eu sinto falta de Riverdale.- levo uma torrada com geleia a boca e a como completamente, terminando o meu café da manhã- Tenham uma boa viajem.

- Tchau, querida!

Pego as minhas chaves e vou para a escola. Estou bem animada, preciso encontrar os meus amigos antes das aulas começarem e combinar tudo pessoalmente. Assim que deixo meu carro no estacionamento, avisto Kevin de longe.

- Kev!- eu grito e ele para na entrada da escola, me esperando- Animado para hoje?- falo baixinho, tem muitas pessoas ao nosso redor.

- Estou contando os minutos.- ele responde com animação- Acredita que eu sonhei com a minha revista da Lady Gaga? Preciso encontrar aquela revista mais que tudo.

- Meus pais vão viajar agora de manhã. Tá afim de ir para a minha casa depois da aula?

- Claro! Eu te encontro no seu carro assim que acabar.

Confirmo e sigo o meu caminho, indo para o meu armário. Guardo tudo que não será útil e vou para a sala de aula. Como esperado, passo a aula inteira imaginando meus passos, pensando em cada lugar que irei. Na hora do almoço, pego meu lanche e vou direto para a nossa mesa, sentando com um sorriso enorme no rosto.

- Archie já decidiu se vai com a gente?- pergunto, notando que Verônica está encarando a mesa dos garotos do time friamente.

- Acho que não, ele provavelmente terá uma festa e vai com o pessoal do time.- ela responde com frieza, ainda encarando o garoto.

- Porque ainda somos amigos dele mesmo?- questiono, recebendo um olhar sério de Betty.

- Porque éramos amigos em Riverdale e vamos continuar sendo aqui.

- É, mas Riverdale acabou. Isso poderia acabar também...

Eles sempre fogem desse assunto, mas eu sei que todos tem algo a opinar. Archie era um menino bom, mas desde que ficou conhecido por conta do futebol, vive migrando de grupos em grupos, mudando seu ciclo de amigos constantemente. Nós fomos o último ciclo, acho que ele cansou da gente e partiu para outra. E já estou preparada para ter os meus segredos revelados por ele, mesmo que eu não conte nada da minha vida pessoal.

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- Então o seu irmão gato foi embora mesmo?

- Foi, Kev...- falo rindo, abrindo a porta para que ele entre.

- Agora eu não tenho mais motivos para continuar vindo aqui.

Reviro os olhos e acerto um tapa em seu braço. Kevin entra de uma vez e nós subimos as escadas, indo até o meu quarto. Fecho a porta, assim nenhum dos funcionários ouvirão nossa conversa. Jogo a minha mochila na poltrona e me deito na cama, sentindo o colchão afundar ao meu lado.

- Seus empregados não vão ligar para os seus pais e dizer que estamos fazendo uma orgia?

- Eles podem ligar e me dedurar, mas os meus pais sabem que você é gay.- falo sem importância, sorrindo em sua direção.

- Então são dois gays nesse quarto.

- Kev!- dou um soco em seu braço, recebendo um tapa em resposta- Se algum deles ouvir isso, eu estou ferrada.

- Eles poderiam contar aos seus pais, então você finalmente sairia do armário.

- Você sabe que não é tão fácil assim.- falo um pouco triste, sabendo bem o que aconteceria se eu me revelasse- Como andam as coisas entre você e o Moose?

- O Mosse é muito lerdo, acho que não quer nada sério comigo.- adoro o jeito sincero de Kevin, ele não mede as palavras- E com a Minerva?

- Só flertes. Eu não quero levar isso para a frente.

- É uma pena, por que ela é muito bonita.

Concordo com o meu amigo. Minerva é realmente uma garota linda, mas não sou digna dos sentimentos dela. Sei que não vou me assumir agora, acho que nunca vou conseguir fazer isso. Ela é bem resolvida e sabe bem o que quer, enquanto eu estou apenas vivendo no automático e aceitando tudo que a vida me oferece.

Conversamos bastante sobre a vida e os nossos maiores desejos, a maioria das coisas eram inapropriadas, mas foi uma conversa íntima e privada entre dois amigos. Quando deu a hora de irmos para a missão da noite, trocamos nossas roupas por mudas pretas. Levamos apenas o principal: celulares, lanternas e um spray de pimenta como precaução.

- Senhorita Blossom, está de saída?- Ben, o segurança da nossa casa, me flagra antes de sairmos.

- Sim, vou jantar fora com o Kevin.

- Terei que alertar os seus pais sobre isso.

- Eu sei, pode avisá-los que saí para jantar e volto um pouco mais tarde. É final de semana.

- Usarei as suas palavras.

Aceno com a cabeça e puxo Kevin pelo braço, saindo de casa. Ele não parou de elogiar Ben o caminho inteiro, sempre ressaltando o quanto os músculos dele são maravilhosos. Dirijo até o posto de gasolina da entrada de Sunnyvale, encontrando todos os outros reunidos.

- Vocês demoraram para cacete!- Verônica reclama, mas sei que ela não está chateada.

- Eu estava indecisa entre as minhas botas pretas ou o tênis, foi difícil decidir.- explico o meu lado, sabendo que ela entenderia minha urgência de moda.

- Vamos logo, não podemos demorar muito.

Betty nos alarma. Ela está certa, temos que ser rápidos. Deixamos nossos carros ali e fomos andando até o muro, encontrando um buraco de tamanho médio na parede. Checamos se não havia ninguém do outro lado e começamos a passar pelo buraco. Kevin primeiro, seguido de Betty, eu e Verônica. Como imaginamos, Archie não veio essa noite. Deve estar muito ocupado com o seu novo grupo de amigos.

Riverdale ainda está um caos. Tem casas derrubadas e paredes pichadas. As luzes ainda estão acesas, mas devem durar por pouco tempo. O Pop's está igual a quando saímos e, pela quantidade de motos paradas na frente, ainda deve estar funcionando. Vários serpentes estão andando pelas ruas, então tivemos que nos esconder e ir em silêncio, evitando ao máximo lugares com luzes.

Meu coração já está acelerado e essa missão mal começou.

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