— Gálius, meu amigo!
Ele deu um passo para trás.
Eu mal o conheci e ele já me trata assim...Tão...
— Oi, Rimalbo.
— Você vai além de Várzea Alta hoje, não é mesmo?
— Sim, quem te contou?
— Ah, as pessoas não têm muito o que fazer, não é mesmo? Então elas falam...
Isso é estranho. Eu não comentei com ninguém. É... mas ontem, no escritório, pedi para me preparar um cavalo. Sim, é culpa da burocracia. Tive que registrar o destino o quando pretendia devolver o animal.
— Eu também pedi um cavalo. Já não era hora de ir para lá, respirar um ar puro, ver as pessoas, animais, os campos...
Gálius resignou-se e caminhou até os estábulos ouvindo Rimalbo falar e falar. Em pouco tempo, estavam montados e saindo da cidade. Escutar Rimalbo tagarelando era quase como uma meditação. Às vezes, o pensamento de Gálius ia longe e quando voltava, percebia que não sabia mais sobre qual assunto Rimalbo estava falando.
— Então, ficaram sabendo que a esposa dele havia cometido adultério. Mas quem podia culpá-la? Afinal, um velho como ele, se casar com uma moça tão jovem... Era como se estivesse pedindo que algo assim acontecesse. É claro, que ele conseguiu o divórcio, e sabe o que fez em seguida?
Gálius apenas encolheu os ombros, sem saber de quem ele estava falando.
— Ele se casou de novo! Com a prima dela! Dá pra acreditar numa coisa dessas?
Gálius olhou para Rimalbo e por um instante, desejou que sua vida fosse simples, desprovida de problemas. Que sua maior preocupação fosse com as fofocas da cidade, e não com o incêndio, ou mesmo, problemas envolvendo os silfos e Lerifan.
— Ah, é ali — Gálius mudou de assunto apontando para uma casa no fim da trilha que derivava da estrada em que estavam.
— A nova casa de seus pais, né?
— Sim — Gálius sorriu. Esteve no lugar apenas uma vez, há alguns dias quando ele pediu um dia de folga a Lerifan para ajudar a família com a mudança. O lugar já tinha outros ares. A casa parecia meio tombada, quase abandonada há poucos dias, e agora, já tinha um aspecto renovado. Muitos vasos de plantas organizados ao redor da casa e um fio de fumaça saindo da chaminé.
— Vamos dar uma passadinha? — Rimalbo se convidou.
Gálius encolheu os ombros — Por que não?
Naturalmente, sua mãe não estava em casa. Mas encontrou a pequena Dora cuidando de tudo na cozinha.
— Mano! — a jovem veio até ele, usando um avental sujo de carvão e deu-lhe um abraço.
— Esse é meu colega de trabalho, Rimalbo.
— Vocês aceitam água, ou um chá?
— Um chá seria excelente! — Rimalbo disse animado.
— Onde estão todos? — Gálius perguntou.
— Mamãe desceu para a cidade com Gorum e Melgosh. Ector está de castigo, estudando, e o Noran lá atrás cuidando da horta.
Dora foi até o fogão e colocou um maço de mato que cortou com as próprias mãos na chaleira. Pegou um pote na prateleira e colocou uma pitada de um pó cinzento e depois tampou.
— É só aguardar um pouco...
Gálius se sentou numa das cadeiras das quais já sentia falta. Sua própria casa, na cidade, onde apenas ele e seu pai estavam morando, tinham um aspecto vazio e triste. Muitos dos móveis foram levados para a nova casa, a exemplo da mesa da cozinha e as dez cadeiras. Agora ele e seu pai usavam dois banquinhos e uma mesa pequena que ficava na outra sala durante as refeições solitárias, na antiga cozinha. Gálius ficou ali, melancólico enquanto Rimalbo começou a tagarelar. Era difícil saber quem falava mais, ele ou Dora.
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O Coração de Tleos
FantasyAtenção, se você não leu os livros anteriores, cuidado com spoilers da sinopse. Depois dos eventos ocorridos em Herdeiros de Kamanesh, Arifa Desbrin se vê envolvida na eminente possibilidade de sua terra natal sucumbir ante o avanço dos demônios. Pa...