Desceram a escada espiralada o mais rápido que puderam. Pelo que puderam perceber o salão dos portais ficava na porção mais alta da torre e estava escondido há muito tempo. Whiteleaf, assim como Kamanesh, foram construídas sobre as ruínas da antiga civilização Vetmös.
Arifa desembainhou a silfina e rasgou a saia longa de seu vestido.
Essa coisa só vai me atrapalhar numa luta! Queria ver a cara da minha tia ao me ver rasgando esse vestido. Agora sim!
— Uma pena — disse Josselyn — era um lindo vestido.
Arifa sentiu seu coração pulado no peito. Os sons da batalha agora mais perto ela sabia que iam lutar.
Tudo poderá acabar hoje! Posso morrer, ou talvez a Joss...
Então, ignorando a presença de Edwain abraçou Josselyn e deu-lhe um beijo apaixonado.
Edwain obsevou a cena, chocado. Comprimiu os lábios como se finalmente compreendesse que Arifa nunca se casaria com ele.
— Eu te amo! — ela disse ao pé do ouvido da cavaleiro, mas Kerdon e Edwain puderam escutar muito bem.
Josselyn fora tomada de surpresa e olhou para o rei, sentindo-se exposta. Ela lutara sua vida toda para manter sua orientação sexual em segredo. Kerdon já sabia, mas ele era um amigo íntimo, agora expô-la assim ao rei? Josselyn a empurrou e disse irritada.
— Mas o que pensa que está fazendo?!
Arifa olhou-a com a boca aberta. Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Desculpe, eu... — ela murmurou.
— Meninas! Depois vocês resolvem isso! — Disse Kerdon. — O bicho tá pegando lá embaixo, vejam!
Arifa limpou as lágrimas antes que pudessem sair e se aproximou da beirada da muralha. Estavam numa plataforma mais de vinte metros mais alta que a parte da cidade onde a batalha ocorria — Como fazemos para descer lá?
— Tem uma passagem do lado de lá — apontou Edwain. Havia visitado Whiteleaf uma vez.
— Então vamos — Josselyn tomou a frente.
Atrás deles, a Torre do Suplício formava um dos pontos mais altos da cidade. Ela ficava de certa forma isolada das três zonas principais. Do lado esquerdo, podiam ver uma enorme muralha ainda mais alta que a de Kamanesh e que protegia a Cidadela Alva, o ponto mais fortificado. Adiante tinham uma longa faixa de terreno acidentado com pouca vegetação que teriam que cruzar para chegar numa outra muralha que envolvia a chamada Cidade Alta. Rente a ela, havia um lance de escadas que desciam para a Cidade Baixa, local tomado pelo confronto. Levou um tempo para cobrirem aquele terreno. Já próximo da muralha da Cidade Alta, puderam notar que os portões estavam abertos e admitiam uma grande quantidade de pessoas que fugiam da parte mais baixa. Um grupo de guardas haviam formado uma linha de defesa no meio da escadaria, do outro lado uma massa se zumbis e esqueletos se espremia para ascender pelos degraus. Era uma escadaria larga com mais de seis metros de largura dividida em alguns segmentos, os quais formavam pequenas praças planas e com o formato de meia oval. A linha formada por cerca de vinte guardas segurava o avanço dos mortos-vivos que lutavam de modo organizado, usando armas e peças de armadura. Algo que não era comum de se ver. Não era qualquer bando de zumbis, mas sim um exército estruturado. Uma segunda fila de guarda arqueiros disparava contra os mortos-vivos, de um pouco mais alto da escadaria, atrás de linha de escudos.
Finalmente chegaram perto da escadaria por onde agora passavam os últimos civis que subiam exaustos, velhos, mulheres e crianças.
— O que faremos? — indagou Kerdon. — Não estou vendo nenhum portal que eu poderia fechar.
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O Coração de Tleos
FantasiAtenção, se você não leu os livros anteriores, cuidado com spoilers da sinopse. Depois dos eventos ocorridos em Herdeiros de Kamanesh, Arifa Desbrin se vê envolvida na eminente possibilidade de sua terra natal sucumbir ante o avanço dos demônios. Pa...