39 - O santuário

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Pelo-curto terminou de se banhar na água do caldeirão do necromante, pegou seu machado e num golpe só, decepou a cabeça de Hendrish.

Arifa deixou escapar um grito e pulou de lado.

Por Leivisa!

O bestial inclinou-se para pega a cabeça, ainda pingando sangue. Era o troféu que precisava para deixar de ser um proscrito e ser aceito como membro da tribo. Ele lambeu o sangue que pingava e ao ver isso, Arifa não aguentou mais e vomitou.

Kerdon estava desacordado e muito ferido, Josselyn ajoelhada ao seu lado, fazendo curativos. Estava concentrada naquilo e conseguiu ignorar o que Pelo-curto vinha fazendo.

— Por todos os Deuses, criatura! — Zane puxou o braço de pelo curto fazendo-o baixar a cabeça decepada do necromante. O bestial rosnou para ele.

— Não faça isso! — Zane ordenou ao bestial que resmungou apenas.

— O que vamos fazer agora, Jô? — indagou Zane.

— Teremos que pernoitar aqui. Melhor trancar bem as portas. Não queremos nenhum zumbi entrando aqui.

— Tem certeza? Não é perigoso ficarmos aqui?

— Parece que Hendrish vivia aqui sozinho. Não acredito que alguém possa vir aqui e causar problemas, ao menos não hoje. Leve a Arifa e vejam se conseguem encontrar algo. Cartas, livros, comida... Qualquer coisa de útil.

— Mas e o bicho aqui? — Zane apontou para Pelo-curto.

— Eu vou falar com ele.

E então, Josselyn disse para o bestial que aguardariam ali até o amanhecer. Só depois seguiriam para levar a cabeça ao líder da tribo. Pelo-curto sentou-se escorado perto da lareira abraçado à cabeça de Hendrish e determinado a não deixar ninguém tomá-la de si. Em pouco tempo, estava cochilando.

Zane encontrou uma vela apagada e acendeu o pavio estalando os dedos. — Segure isto — deu-a para Arifa.

—Você está bem?

Arifa estava machucada, dolorida, enojada e com gosto de vômito ainda na boca, mas ainda assim, conseguiu responder — Não estou morta.

— Vamos ver se encontramos algo.

Arifa, sentindo-se zonza e em choque, devido ao conflito recente, ficou apenas segurando a vela enquanto Zane investigava a cabana. Logo encontraram um cômodo onde havia uma cama tosca e uma escrivaninha. Arifa sentou-se na cama e passou a vela para Zane. Acima da escrivaninha havia um candelabro e Zane acendeu três velas que estavam ali.

— Vou examinar esses papéis. Tenho certeza que esse necromante não estava atuando sozinho. Deve haver mais deles. O que acha?

Arifa não respondeu. Zane virou-se para vê-la e constatou que ela estava deitada adormecida com uma das pernas para fora da cama.

— Vamos, acorde.

Arifa sentiu um toque gentil em seu rosto. Era a mão de Josselyn que acariciava sua face, tirava pedacinhos de lama endurecida do rosto, do cabelo, das orelhas.

— Joss?

— Está bem, querida?

— Minha perna... Meus braços... E também... aquela coisa.

— Coisa?

— Sim, o monstro que estava te atacando. Acho que compreendi agora . Eu me desdobrei, eu acho. A silfina apareceu na minha mão. Eu usei ela contra o monstro.

— Você me salvou. Salvou a todos nós.

Deu a mão para ajudá-la a ficar de pé. Arifa fez uma careta de dor.

O Coração de TleosOnde histórias criam vida. Descubra agora