36 - O doce flasco

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Gálius desceu a ladeira sentindo-se confuso. Muita coisa havia mudado em sua vida e rápido demais.

Lerifan bem que podia se explodir... Eu não ligo. Todo o problema agora é Yté. Eu só queria fugir daqui com ela e encontrar alguma paz. Mas como fazer isso? O plano de Kalbin para que todos os silfos de Tleos abandonassem a cidade é o único caminho viável. Quando este dia chegar, eu vou com eles! E meus pais? Meus irmãos? Será que consigo os convencer a vir conosco? Pelo Rei-Deus! Isso tudo parece loucura!

Gálius virou a esquina e viu as luzes do estabelecimento.

Convencer Lerifan foi difícil, mas agora que o fiz, sinto nojo. Esse dinheiro nojento está pesando em meu bolso...

O peso do dinheiro parecia três vezes maior. Queria se livrar daquilo. E então, chegou à porta da casa noturna que seu irmão frequentava. Ouvia sons de música animada vindo do interior. Dois homens grandes, um pançudo e encorpado e o outro com braços inchados o impediram de entrar.

— São dez yones para entrar.

Gálius tirou uma moeda de ouro do bolso e perguntou — Vocês têm troco?

O grandalhão devolveu um punhado de moedas de cinco yones e o deixou entrar.

Logo os sons da música se ampliaram assim como um cheiro de fumo que irritaram o nariz do rapaz. Havia vários lustres cheios de velas iluminando o grande salão onde pessoas bebiam e jogavam. Mais ao fundo, havia um palco de madeira onde uma trupe de músicos tocava flautas e tambores. O local tinha uma atmosfera alegre, mas Gálius não conseguiu entrar naquele clima.

Duas mulheres muito bonitas e com pouca roupa dançavam hipnotizando uma parte das pessoas que estavam em pé circundando o palco. Entre aquelas pessoas, Gálius reconheceu seu irmão mais velho, Gorum. Ele parecia um pouco mais hipnotizado que os demais. Ele não tirava os olhos da morena com a pele escura e de aparência exótica. Gálius cutucou o irmão que reagiu com surpresa à presença dele.

— Mano, que cê tá fazendo aqui? Onde arrumou dinheiro...

— Ei, estou trabalhando, lembra?

Gorum riu ao se recordar. Não tinha se acostumado com a ideia do irmão trabalhando, pois, há muitos anos tudo o que fazia era vadiar entre os silfos ou ficar de bate boca com as pessoas perto da assembleia.

— Então é aqui que você gasta todo seu dinheiro? — Gálius perguntou.

— Como sou freguês costumeiro, fazem um preço melhor para mim.

— Certo, agora te entendo um pouco. Ela realmente é muito bonita — Gálius fez um sinal com a cabeça.

Gorum ficou a observando com um sorriso bobo nos lábios.

— Ela cobra muito caro de você? — Gálius perguntou.

— Ela não cobra de mim.

— Mas de outros, sim...

— É só o trabalho dela. O preço dela é muito alto, são poucos clientes. No máximo dois por noite.

— E então, você fica com a sobra...

— Moleque, veio aqui só pra me encher a paciência? Afinal, o que você quer?

— Vem cá... — Gálius chamou-o para uma mesa vazia.

— O que foi dessa vez? Juro que vou à guarnição eu mesmo se você tiver...

— Não é nada disso. Eu só queria te dar uma coisa.

Gorum ficou surpreso e franziu o cenho, desconfiado. Gálius tirou a bolsa e entregou ao irmão. Ele sentiu o peso e abriu para olhar dentro.

— O que é isso? Onde arrumou tanto dinheiro?

O Coração de TleosOnde histórias criam vida. Descubra agora