Gálius desceu a ladeira sentindo-se confuso. Muita coisa havia mudado em sua vida e rápido demais.
Lerifan bem que podia se explodir... Eu não ligo. Todo o problema agora é Yté. Eu só queria fugir daqui com ela e encontrar alguma paz. Mas como fazer isso? O plano de Kalbin para que todos os silfos de Tleos abandonassem a cidade é o único caminho viável. Quando este dia chegar, eu vou com eles! E meus pais? Meus irmãos? Será que consigo os convencer a vir conosco? Pelo Rei-Deus! Isso tudo parece loucura!
Gálius virou a esquina e viu as luzes do estabelecimento.
Convencer Lerifan foi difícil, mas agora que o fiz, sinto nojo. Esse dinheiro nojento está pesando em meu bolso...
O peso do dinheiro parecia três vezes maior. Queria se livrar daquilo. E então, chegou à porta da casa noturna que seu irmão frequentava. Ouvia sons de música animada vindo do interior. Dois homens grandes, um pançudo e encorpado e o outro com braços inchados o impediram de entrar.
— São dez yones para entrar.
Gálius tirou uma moeda de ouro do bolso e perguntou — Vocês têm troco?
O grandalhão devolveu um punhado de moedas de cinco yones e o deixou entrar.
Logo os sons da música se ampliaram assim como um cheiro de fumo que irritaram o nariz do rapaz. Havia vários lustres cheios de velas iluminando o grande salão onde pessoas bebiam e jogavam. Mais ao fundo, havia um palco de madeira onde uma trupe de músicos tocava flautas e tambores. O local tinha uma atmosfera alegre, mas Gálius não conseguiu entrar naquele clima.
Duas mulheres muito bonitas e com pouca roupa dançavam hipnotizando uma parte das pessoas que estavam em pé circundando o palco. Entre aquelas pessoas, Gálius reconheceu seu irmão mais velho, Gorum. Ele parecia um pouco mais hipnotizado que os demais. Ele não tirava os olhos da morena com a pele escura e de aparência exótica. Gálius cutucou o irmão que reagiu com surpresa à presença dele.
— Mano, que cê tá fazendo aqui? Onde arrumou dinheiro...
— Ei, estou trabalhando, lembra?
Gorum riu ao se recordar. Não tinha se acostumado com a ideia do irmão trabalhando, pois, há muitos anos tudo o que fazia era vadiar entre os silfos ou ficar de bate boca com as pessoas perto da assembleia.
— Então é aqui que você gasta todo seu dinheiro? — Gálius perguntou.
— Como sou freguês costumeiro, fazem um preço melhor para mim.
— Certo, agora te entendo um pouco. Ela realmente é muito bonita — Gálius fez um sinal com a cabeça.
Gorum ficou a observando com um sorriso bobo nos lábios.
— Ela cobra muito caro de você? — Gálius perguntou.
— Ela não cobra de mim.
— Mas de outros, sim...
— É só o trabalho dela. O preço dela é muito alto, são poucos clientes. No máximo dois por noite.
— E então, você fica com a sobra...
— Moleque, veio aqui só pra me encher a paciência? Afinal, o que você quer?
— Vem cá... — Gálius chamou-o para uma mesa vazia.
— O que foi dessa vez? Juro que vou à guarnição eu mesmo se você tiver...
— Não é nada disso. Eu só queria te dar uma coisa.
Gorum ficou surpreso e franziu o cenho, desconfiado. Gálius tirou a bolsa e entregou ao irmão. Ele sentiu o peso e abriu para olhar dentro.
— O que é isso? Onde arrumou tanto dinheiro?
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O Coração de Tleos
FantasiAtenção, se você não leu os livros anteriores, cuidado com spoilers da sinopse. Depois dos eventos ocorridos em Herdeiros de Kamanesh, Arifa Desbrin se vê envolvida na eminente possibilidade de sua terra natal sucumbir ante o avanço dos demônios. Pa...