68 - Aquela pessoa

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Aquela pessoa? Quem era aquela pessoa? Havia uma pessoa. Como toda pessoa nascera como um bebê. Tinha uma mãe. E sugava o leite. Escutava o coração da mãe tum-tum, tum-tum, desde pequeno, ainda no útero.

Ele viu uma mamãe. Uma mamãe que amava muito. Ela não tinha nome. Ele não tinha nome. Era apenas o bebê daquela mamãe. Havia um pai também, seus olhos eram como o azul do céu. Os olhos da mãe, verdes como o mar raso, mas aquele bebê, não sabia o que era céu e mar. O bebê gostava de segurar o rosto da mamãe. Segurar suas orelhas e sentir aquela pontinha gostosa no alto da orelha dela.

O bebê cresceu e descobriu que a mamãe se chamava Tímices, era assim que os outros a chamavam. Ele a chamava de mamãe, é claro. Seu pai era uma pessoa ocupada. Seu pai era um construtor. Ele construía casas. Casas enormes. E havia o quintal. Aquele quintal era o lugar favorito daquele menino. Ele gostava de brincar ali, dormir sobre a relva e olhar as nuvens do céu mudar de forma. Ele também gostava de ir até a praia. Perseguia pequenos caranguejos brancos e ariscos. E gostava de nadar. Era uma vida tranquila e despreocupada. Todos tratavam o menino muito bem. Seu pai, o ocupado, era também, o mais importante habitante da vila. O único lugar que seu pai não o deixava entrar era na casinha de vidro.

— Quando você tiver idade, filho, vai poder entrar lá, está certo?

O filho cresceu e com ele, uma curiosidade. O pai queria que ele se tornasse um jardineiro e construtor, como ele mesmo. Mas seu espírito era de alguém que viajou a vida toda, assim como sua mãe. Então, quando se fez homem, subiu em um navio com seus tios. Ele agora entendia que não era nem homem e nem elfo. Nunca seria um ou outro, mas queria descobrir o que ele mesmo era. Os tios eram elfos, habilidosos navegadores, mas logo, ele descobriu que devia ter dado ouvidos ao seu pai, por que ele descobriu a dor, a morte, a guerra. Uma guerra que estava ainda em seu princípio, a pior das guerras. E ele morreu, após haver muito sofrimento. Morreu com saudades de sua mãe, de seu pai, do jardim de sua infância. E morreu sem saber o que havia na casinha de vidro.

O Coração de TleosOnde histórias criam vida. Descubra agora