97 - Rainha Alena

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Calisto estava de volta à sua torre. Havia se instalado na antiga construção abandonada pelos silfos de Shind a qual recuperou parcialmente para torná-la habitável após expulsar alguns necromantes que haviam se instalado ali. Deixara o local a cuidado de uns poucos criados. A primeira providência foi verificar o estado de seu pai, Shaik Kain, antigo regente de Lacoresh. Há cerca de um ano o mantinha cativo numa cela no sótão da torre. Calisto vencera uma batalha mental contra o pai e operou-o para remover seu acesso aos poderes. O ódio entre os dois era mútuo, mas Calisto vinha guardando uma vingança mais adequada para o final.

— Lave-o, mas não corte o cabelo. — ordenou para um dos lacaios escravizados pelos seus poderes.

— Como quiser, mestre — disse o senhor que fora no passado membro do conciliábulo de necromantes. Calisto ainda detestava os necromantes. Os que não matou, subjugou e escravizou com a força de sua mente.

— Depois leve-o para a câmara profunda.

Arrastou os pés até chegar novamente em seus aposentos. O vaso com a planta estava colocada ao lado da janela. Ele mesmo a movia para a sacada durante o dia para poder tomar algum sol. Ele e Bérin já estavam habituados a tomar o chá das folhas e faziam isso desde que levaram-na de Tleos no navio.

Os poderes de Bérin vinham crescendo, cada vez mais, assim como os de Calisto.

Eles vinham discutindo o plano há muitos dias e fizeram alguns ensaios. Bérin tornaria Calisto invisível e em seguida, usaria o amalgama para transportá-lo através do plano netéreo rumo ao passado. Bérin sabia que ambos caminhavam à beira de provocar um desastre, algo que poderia os destruir e até mesmo, destruir o próprio mundo.

Bérin e Calisto tinham um objetivo em comum, destruir Thoudervon, enfraquecer as hordas e selar o elo de ligação do mundo com os planos abissais, mas mesmo antes de fazer isso, havia algo que Calisto desejava mais que tudo. Algo que levou anos para conceber, que parecia apenas loucura, um delírio, mas que estava agora perto de se concretizar.

— Está certo que vai arriscar? — indagou Bérin com sua voz raspada. — Um erro e tudo pode ruir.

— Eu não vou errar.

— E quanto ao corpo?

— Já mandei prepará-lo.

— Seu prisioneiro?

— Sim. Rufto vai nos avisar assim que estiver pronto.

— A transmutação vai se sustentar?

— Sim, por alguns dias, ao menos. Será tempo suficiente para isso não fazer a menor diferença.

— Ótimo.

— Lembre-se, você precisa obter o corpo e o jarro, caso contrário, não haverá chance de despertá-la.

— Não me esqueceria disso por nada nesse mundo.

O velho servo, Rufto, bateu à porta.

— Está pronto?

— Sim, mestre.

— Ótimo, vamos Berinstarg?

***

No porão da torre, um lugar escuro e úmido, encontraram Kain despido deitado num estrado no chão. Sua aparência era de um velho fraco e magro, barbas e cabelos grandes, os pulsos marcados por grilhões que o prendiam em sua cela.

Bérin usou o seu medalhão para iluminar o local.

— Vou começar, anunciou. Por favor, pense em Alena, como era antes de morrer.

O Coração de TleosOnde histórias criam vida. Descubra agora