— O ataque dos demônios pegou o concelho dos magos de surpresa. — observou Arifa.
— Eles se supunham muito bem protegidos pelo Escudo Azul — devolveu Yurkan, um rico comerciante de Lirr.
Kerdon, que tinha a mãe recostada em seu colo com as feridas cobertas por curativos, disse — Agora o concelho deve ter aprendido a não subestimar as artimanhas dos demônios.
— Antes de partir, meu primo me disse que Lirr poderia ter caído se não fosse o alerta que vocês trouxeram.
— Eles nos agradeceram o bastante, foram gentis conosco a despeito do caos que tomava a cidade, após a investida ser finalmente repelida. — comentou Arifa, segurando-se, quando a carruagem balançou forte ao passar por um calombo no caminho.
— Fico grato que Lorde Kirlan e o concelho não tenha impedido nossa caravana de partir — disse Yurkan.
Havia, viajando com eles cerca de trezentos cidadãos de Lirr que decidiram deixar a cidade depois do ataque. Esse grupo grande, em que se incluíam Cléria e Keira, mãe e irmã de Kerdon. Seguiam para Kamanesh.
A mãe de Kerdon estava muito mal, era levada na melhor e era levada na melhor carruagem de Yurkan, parceiro de negócios da família Tassip.
— Senhor Yurkan, por que decidiu deixar Lirr? — indagou Arifa.
— Já temos alguns negócios em Kamanesh e acredito que minha família e meus empregados estarão mais seguros em sua cidade.
— O senhor ordenou que todos seus empregados viessem? — indagou Kerdon.
— Não fiz isto, mas muitos vieram. Entre família, empregados da casa e da manufatura estão vindo cerca de cinquenta pessoas.
— Porque sua família não está aqui? — Arifa estava curiosa.
— Meu filho, Ardas, conduz o carro da vanguarda. Alguns sobrinhos trabalham na escolta, com a cavaleiro de WaterBridge.
— E sua esposa?
Yurkan olhou para baixo — Há muitos anos a perdi.
— Ah! Desculpe...
— A senhorita não tinha como saber.
Arifa ficou quieta, observando os detalhes internos da carruagem. Era muito luxuosa, com assentos aveludados, belas cortinas e até mesmo o teto tinha um forro de tecido com padrões geométricos.
A irmã de Kerdon escutava a conversa com atenção. Com o silêncio de Arifa, Yurkan voltou sua atenção para Keira, irmã de Kerdon. Se engajaram numa longa conversa.
Kerdon olhava pela janela, enjoado com o tom meloso que sua irmã falava com Yurkan.
O comerciante tinha cabelos grisalhos, era magro e ainda mantinha um rosto jovial. Estava muito sorridente, apesar da tragédia que havia caído sobre Lirr, ainda há poucos dias. Vestia-se de uma maneira sóbria para os padrões de Homenase, mas a gola simples e redonda e laranja da túnica ainda era colorida demais para o gosto de Arifa.
— Realmente a sorte é minha — disse ele — de ter a mais bela jovem de Lirr me fazendo companhia.
Keira corou e soltou umas risadinhas.
Arifa cochichou com Kerdon, que estava sentada ao lado dela — Esses dois vão acabar se casando.
Kerdon fez uma careta — esse velho mulherengo só está tentando se aproveitar de minha irmã.
— Ele não me parece tão velho assim. Para falar a verdade, o senhor está mais derrubado do que ele, professor.
— Não me vem com essa de senhor, Arifa, ou então vou te chamar de miladi. Sinceramente ainda não sei onde o diretor estava com a cabeça quando me chamou para ser professor na academia.
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O Coração de Tleos
FantasíaAtenção, se você não leu os livros anteriores, cuidado com spoilers da sinopse. Depois dos eventos ocorridos em Herdeiros de Kamanesh, Arifa Desbrin se vê envolvida na eminente possibilidade de sua terra natal sucumbir ante o avanço dos demônios. Pa...