17- Os Quebrados e as Despedaçadas

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CHERYL Point of View

《Dez dias depois》

Olho no espelho do banheiro e vejo que quase todos os cortes das minhas costas tinham sumido, os que permaneciam tinham diminuído bastante. Isso é graças aquela pomada que Toni me deu... Não que uma pomada vai me fazer perdoá-la, mas não sou ingrata e aprecio o gesto.

Nesses dias, eu nem me encontrei com ela. Provavelmente ela ainda está se recuperando, se bem que com essa pomada e magia, ela deve estar impecável novamente. Apesar do que ela fez, eu continuo me preocupando e querendo saber se ela está bem. Eu sou mesmo uma idiota.

Visto minha blusa e volto para o quarto. Desde a sentença, passei o dia todo no quarto, ainda bem, porque aí eu tenho certeza que não me encontro com ela. Antes mesmo que eu pudesse deitar na cama, alguém bate na porta. Vou até lá e abro, sendo surpreendida por Betty e... Josie? Que dupla estranha.

- Preciso conversar com você.- diz Josie. Dou espaço para as duas entrarem e fecho a porta.- A câmera está desativada, então não se preocupem com o que vou falar. Eu não quero ser aliada de vocês, mas pouco me interessa ser sua inimiga. Essa guerra já perdeu o significado a muito tempo e só percebi isso agora.

- Onde quer chegar com isso?- perguntei.

- Eu e Betty conversamos. Eu nunca me importei com essa guerra ou com quase qualquer coisa para ser honesta e, sinceramente, não sei como uma estrangeira acabou entre os Goulies.

- Você é do nosso continente?

- Sim. Eu irei "pedir demissão" dos Goulies. Talvez as coisas não saiam tão bem, mas se minha saída for pacífica, posso levar vocês duas comigo. Deixo vocês na Serpentes e sigo meu caminho.

- Com a magia de Josie, ela pode nos encolher e esconder em um lugar que ninguém vá nos achar.- comenta Betty.

- Mas vão perceber que você nos levou e, se tudo se resolver bem, depois vai ser vista como traidora.

- A pergunta é se você quer ou não quer arriscar.- penso por um tempo. Eu não tenho nada me prendendo aqui, não mais. Enquanto do outro lado do oceano tem meus irmãos e meus amigos. A resposta é bem óbvia.

- Eu quero.

《Quebra de Tempo》

Claro que eu não poderia evitar Toni o resto da minha estadia aqui. Alguns minutos atrás, um guarda avisou que eu estava de volta a serviço da princesa. Como não tenho opção, tive que obedecer. A primeira coisa que fiz foi ter que levar o almoço dela, que eu estranhei ser sopa nesse calor.

Bati na porta. Como não tive resposta, imaginei que ela tivesse muito concentrada lendo algum documento e não ouviu. A porta estava aberta, então entrei. Ela não estava no quarto. Assim que coloquei a bandeja em cima da mesa, a porta do banheiro abre e Toni entra no local. Ela estava só de sutiã e short, o que me permitiu ver o verdadeiro estrago que sua sentença causou. Ela não se curou ainda? O quão ruim aquilo realmente foi?

Ela fica em silêncio, seus olhos evitando os meus. Sem dizer uma palavra, ela segue para o guarda-roupa e veste uma camisa. Depois ela senta na mesa, a vejo fazer uma careta de incomodo, mas logo passa, e começa a comer.

- Você não precisa ficar aqui. Tenha o dia livre.- falou. Seu tom mandão e confiante de sempre não estava em sua voz, era um tom quebrado e falho.

Penso em dar meia volta e ir embora, mas não consigo, em vez disso, fico imóvel e a olho fixamente. Quando ela leva a colher a boca, os machucados de seu braço se esticam e retraem, e alguns começam a sangrar, mas ela não se importa e continua comendo.

Sombra e LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora