💌 41 - Todo mundo tem um lado sombrio💌

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Eu e Coruja estávamos sentados às margens do lago, enquanto a construção se erguia do outro lado. As paredes já estavam todas levantadas e os pedreiros trabalhavam com disposição. Vi um homem andando no meio deles com um papel que mais parecia um cartaz, parecia ser o Higor, mas meus óculos estavam sujos demais para que eu pudesse ver melhor.

Respirei fundo e tirei meus óculos, os limpando na minha camisa de uniforme, para depois recolocá-los e levar meus joelhos até meus seios, os abraçando.

- Meu pai quer inaugurar pelo menos a praça de alimentação até março. - Coruja quebrou o silêncio.

O olhei pelo canto dos olhos, observando a forma como ele estava praticamente deitado no chão, se apoiando em seu cotovelo.

- E o shopping todo? - perguntei.

- Até o fim do ano que vem, mas isso vai ser bem mais difícil. - sorriu.

- É. - desviei o olhar - Ele não vai ficar bravo por te ver aqui comigo?

- Talvez. - ouvi sua voz se aproximar - Mas, eu prefiro estar aqui com você do que com um monte de idiota na escola.

- Eles não tinham o direito. - chutei um pedaço de grama solta, pensando no que havia acontecido - Nem se eu tivesse transado com o delegado eles teriam direito. Não é justo.

- Claro que não teriam, ninguém tem. - senti sua pele do braço roçar no meu, indicando sua proximidade - Você pode transar com quem quiser e isso não dá direito de ninguém te tocar sem a sua permissão.

- Eu nunca transei. - resmunguei, sentindo uma raiva estranha e me arrependi de ter falado aquilo ao sentir meu rosto esquentar.

Por algum motivo, fiquei com mais raiva. Eu não deveria ter vergonha de ser virgem, tinha apenas 16 anos.

- Ah. - foi a única coisa que ele disse - Você... ah. Ok. - ouvi seu suspiro e me virei para olhá-lo, arqueando uma sobrancelha - O que? - me olhou confuso.

- Nada. - dei de ombros, suspirando e colocando minha cabeça entre os joelhos.

- Como você sabe, eu tenho uma irmã. - o ouvi - Ela já passou por várias coisas parecidas com o que te aconteceu... Quando eu tinha 15 anos e ela 18, um cara que ela ficava tentou transar à força com ela em uma festa. - respirou fundo - Eu nunca fui de brigar, mas, nesse dia, eu dei alguns socos no cara e levei um monte de socos também. Foi a primeira e última vez que briguei... até hj. - senti minha garganta pinicar e levantei a cabeça para vê-lo - Na verdade, mal comecei brigar e o professor chegou, só acertei o Diego uma vez. - me olhou atentamente - O que quero dizer é que vi você olhando para aquela barra de ferro e imagino o que você tenha pensado; porque quando aquilo aconteceu com minha irmã, ela me disse que queria que o cara morresse.

- Eu não pensei isso. - comprimi os lábios - Mas, queria que eles se machucassem.

- Eu imagino. - suspirou e estendeu o braço, como se fosse me abraçar, mas parou no meio do caminho, um pouco apreensivo - Eu posso te abraçar? - assenti, tentando abrir um sorriso. Seu braço passou pelo meus ombros e me puxou para mais perto, me fazendo deitar a cabeça em seu ombro e olhar nossos pés ao lado um do outro - Estou prestes a te confessar um dos momentos mais sombrios da minha vida.

- Minha vida é sombria. - inspirei seu cheiro, me sentindo segura - Fique à vontade.

- Todos temos um lado sombrio, não é? - assenti e ele acariciou meu ombro - Me senti muito impotente ao ver minha irmã sofrer, eu tinha apanhado muito mais do que batido no cara... não era suficiente para mim. Eu queria que ele sofresse o dobro que minha irmã estava sofrendo. - seu corpo ficou rígido com as lembranças - Contratei pessoas para espancar ele. - arregalei os olhos, mas não falei nada - Ele ficou completamente machucado, teve que ir para o hospital e seu rosto ficou irreconhecível por alguns dias. Pensei que aquilo faria minha irmã se sentir melhor, mas não fez. Nem eu me senti melhor. Não me senti como se estivesse protegendo ela... me senti a pior pessoa do mundo, muito pior que ele. Mas, uma pequena parte minha ficou satisfeita, mesmo que isso me fizesse sentir muito pior.

Isso é um AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora