Coruja,
"Nunca diga 'adeus', porque dizer 'adeus' significa ir embora e ir embora significa esquecer." Lembra de quando me escreveu isto?
"Essa frase é de Peter Pan!". Você disse.
Foi em uma de suas cartas, se contei direito, foi na sétima. Esta pequena frase me fez pensar naquele dia e por incrível que pareça, eu concordei. Adeus é muito forte e realmente significa ir embora... mas, não significa esquecer. Pode ter certeza, não significa. Talvez até signifique lá na Terra do Nunca, mas só lá. Um bom lugar para viver, não acha?
Estou sentada em um banco desconfortável do Correio da cidade e minha bunda está doendo, um senhor está dormindo ao meu lado e isso me lembrou você. A primeira vez que te vi... Você sempre foi tão... você, - desculpe, mas é verdade - entrou na sala de aula quando o professor já estava lá, não olhou para ninguém, muitos menos pediu "com licença", apenas caminhou até o fundo da sala, jogou a mochila sobre a mesa, sentou e dormiu. Sem dar a mínima para quem estava à sua volta. Percebi que você dormiu, pois, assim que o sinal do intervalo tocou, ouvi um barulho, uma cadeira derrubada, em razão do seu susto. Seu rosto marcado pela mochila. Aquilo me contrariou, eu era nova na cidade e tudo que eu queria era saber de onde você tinha surgido, o que ninguém sabia. Mestre em chamar atenção, desde sempre. Palmas!!!
Não sei exatamente quando me apaixonei por você. Acho que foi uma mistura de vários momentos. Listei quatro - por níveis de importância - relaxa, eu não mudei tanto para ficar melosa e romântica, ainda sou a mesma nariz empinado que não gosta de falar com ninguém. Só quero que saiba o que passa e passou nessa minha cabeça desequilibrada. Vamos lá:
4°: Quando uma bolinha de papel foi jogada na minha cabeça. (Parabéns, você é bom de mira.)
3°: Quando você quase me derrubou em uma lata de lixo com sanduíches em decomposição.
2°: Quando o seu maravilhoso refrigerante "caiu acidentalmente" sobre a minha cabeça. (Neste também se enquadra o fato de você me colocar de cabeça para baixo.)
1°: A primeira carta…
Então já era... o frio na barriga foi dando lugar aos outros sentimentos. De alguma forma enxergamos quem éramos de verdade, apesar de toda armadura que usávamos... ou achamos ter enxergado.
Mesmo no início, quando eu te tratava como um verme - que os vermes me desculpem - você não desistiu de mim e se tornou minha luz. Minha única luz quando todas as outras foram se apagando, foi o único que permaneceu quando todos me deixaram, um por um. Me ensinou amar, abriu as portas tão fechadas do meu coração e se instalou, me fazendo acreditar que boatos não importavam para você... eu confiei tanto em você. Mas boatos importam, importam sim! Então, no final, você também se foi, acreditou nos boatos e me chamou daquilo que mais me magoava... assassina.
Nem sempre o que se vê é verdade! Você poderia ter me deixado explicar, eu não fiz mal a ninguém... Talvez, eu até tenha feito, mas tinha uma explicação. Não foi de propósito. O que custava? Eu estava sozinha! Eu estou, na verdade. A minha luz no final do túnel se apagou. E eu cansei.
Esta carta irá chegar um dia depois de eu ter partido. Relaxa. Não estou cometendo suicídio. Apenas estou vazando. Cansei desta cidade, cansei dos boatos, dos cochichos, dos olhares, dos toques... Infelizmente, não me cansei de você.
Como sou burra!!!
Eu mereço uma segunda chance, um recomeço de verdade.
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Isso é um Adeus
Teen FictionSaphira nunca teve uma vida fácil, porém desde que perdeu sua mãe e foi obrigada a morar com seu pai alcoólatra, viu sua vida começar descer uma ladeira sem direito a freio. Dois anos depois dos acontecimentos que arrasaram sua vida, assim que...