Zumbi,
Na primeira carta, você escreveu para que se eu soubesse de algo relacionado a sua mãe, te contar, lembra?
Eu ouvi algumas coisas sim, coisas bem ruins. Mas eu tenho cérebro, não sou igual os otários daqui e tirei minhas próprias conclusões: sua mãe era corajosa, destemida, não se importava com opiniões alheias, fazia o que tinha vontade, tirou muitas pessoas do sério... E me pareceu uma pessoa incrível. Queria ter tido a chance de conhecê-la.
Estou escrevendo isso porque ouvi uma pessoa falar que você não aguentava a verdade sobre quem sua mãe foi pois te incomodava. Quero que você saiba que não importa o que as pessoas falam dela ou o que ela foi, o importante é o que ela significa e é para você.
Que cada idiota viva com suas idiotes.
Você não pode mudar o que eles pensam, então mande eles irem se fuder. Deixe eles conviverem com isso.
Fiquei pensando nisso por um bom tempo, achando que talvez esse fosse o motivo para você não estar bem hoje. Mas acho que não...
Sua mãe não estaria em um hospital... talvez o espírito dela.
Assombração.
Credo, odeio esses negócios de terror. Não tenho medo nem nada, jamais teria medo de alguma coisa, mas se for assombração quero bem longe de mim. Se bem que nem acredito nesses negócios mesmo.
Dificilmente você responde ou comenta tudo que escrevo, então não vou pedir para você me falar o que aconteceu. Só preciso saber se você está bem.
Eu me importo com você, muito mais do que deveria ou gostaria.
Não estou me declarando... nunca me declarei para ninguém. Mas eu te peço uma coisa: Conte para a Kay se é isso que quer, mas por favor, não pare de conversar comigo. Pode mandar uma carta só me xingando e deixando claro o quanto sou idiota, o quanto me odeia... mas, desde que cheguei aqui, você foi a melhor coisa que me aconteceu.
Sabia que eu não queria vir para cá?
Se coloque no meu lugar: estava no Canadá há mais de 5 anos, tinha meus amigos, meus pais, meu irmão, minha irmã, minha vida... então, meu pai decidiu que estava na hora de voltar para o Brasil, para a cidade mais pacata que existe em todo o território brasileiro. Meu pai não precisava desse trabalho de construção de shopping, ele só quis voltar. Até pensei em morar com minha irmã no Canadá, como consequência, briguei com meu pai e perdi toda a minha mesada, acabou que eu vim para cá.
Grande merda...
Eu gosto daqui, tipo, gosto do país. Mas eu queria ter voltado por vontade própria, não obrigado. Entende?
Pronto... te contei um pouco da minha história, você podia me contar um pouco sobre a sua também, não acha?
Coruja.
Observei a construção que se erguia perto do lado, soltando um suspiro e agradecendo ela mentalmente. Coruja não sabia e talvez nunca viesse saber, mas de alguma forma, eu estava me apoiando nele. Na maneira como ele me fazia sorrir, na maneira como sorria... Pensar naquilo fazia meu coração quase saltar para fora do meu corpo, tanto que era até difícil manter minha caneta firme para escrever.
Coruja,
Eu jamais poderia me esquecer do que escrevi na primeira carta, afinal, ameacei te matar.
Claro que ainda sinto muita vontade de cometer esse homicídio, mas, por enquanto, irei conservar sua mísera vida em consideração ao Queen's. Não é sempre que se encontra um garçom tão psicólogo.
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Isso é um Adeus
Teen FictionSaphira nunca teve uma vida fácil, porém desde que perdeu sua mãe e foi obrigada a morar com seu pai alcoólatra, viu sua vida começar descer uma ladeira sem direito a freio. Dois anos depois dos acontecimentos que arrasaram sua vida, assim que...