Entrei no Queen's e me posicionei ao lado do balcão, sem dizer nada. Olhei para Robert e esperei ele dar a sentença. Sim, a sentença. Eu seria demitida, aquilo era certeza, ainda mais depois do que ele havia visto no dia anterior. Engoli em seco e continuei esperando ele falar alguma coisa.
- O que você está esperando, Saphira? - me olhou irritado - Tem mesas esperando para serem atendidas.
- Ah. - fiquei surpresa e peguei a bandeja - Claro, já estou indo.
Respirei fundo e praticamente corri para a mesa que estava me chamando. Era melhor não perguntar nada. Talvez, pela primeira vez na minha vida, eu estava com sorte e ele havia levado uma pancada na cabeça e esquecido o que viu.
Sim, era melhor pensar daquele jeito.
E, por uma semana, eu consegui acreditar naquilo e levar a vida o mais normal possível, sem nada de encontros no banheiro. Apenas na saída da escola.
Durante uma semana, tudo foi tão calmo e pacífico que fui capaz de esquecer como minha vida realmente era. E tudo ficaria melhor porque eu poderia tirar a maldita bota do pé; o médico só precisava olhá-lo novamente.
Foi o Coruja que fez questão de me acompanhar até o hospital depois da escola. E, como eu esperava, o médico realmente me liberou para que pudesse firmar e ficar com o pé no chão. Porém, me avisou que eu poderia sentir algumas dores de vez em quando e que era normal. Não me importava com a dor, seria bom senti-lá vez ou outra para me lembrar de como consegui machucar meu pé.
Aquele pensamento fez a felicidade que estava me consumindo sumir do meu rosto, me fazendo ficar séria, calada e apreensiva. Bem diferente de como eu estava no começo do dia ao falar para Coruja que iria me livrar da bota.
- Quer almoçar no Queen's? - Coruja perguntou, enquanto caminhávamos lentamente como se não tivéssemos rumo algum. Tinha a impressão de estar andando errado, como se meu pé estivesse esquecido como fazer aquele simples ato normalmente. Era estranho.
- Pode ser. - dei de ombros.
- O que foi? - ouvi sua voz, mas comecei andar em direção ao Queen's, fingindo não ter ouvido - Você ficou estranha do nada.
- Só estou me concentrando para andar, parece que está errado. - tentei sorrir. Pelo jeito, nunca iria parar de pensar na morte do meu pai e me sentir culpada. Talvez fosse, nem eu mesma sabia. E tinha dias que aqueles pensamentos eram mais intensos ainda, intensos o suficiente para corroer cada célula do meu corpo.
E, mais uma vez, minha cabeça estava começando a ferrar com um dia que era para ser muito bom.
- É só impressão sua, você está andando normalmente. - ouvi sua voz longe e balancei a cabeça concordando.
Ele começou contar algo sobre quando ele morava no Canadá, mas meu cérebro não conseguiu processar. Alguma coisa estava errada comigo. Eu estava errada. Não era um dia bom, muito menos raro.
Entramos no Queen's e pedi para sentarmos mais ao fundo. Gostava de ter a sensação de estar um pouco escondida. Estar invisível.
Ele continuou falando, mas olhei para as minhas unhas curtas. Pisquei algumas vezes para me concentrar e levantei o rosto, abrindo um sorriso como se estivesse prestando atenção. Por que eu simplesmente não conseguia prestar atenção? Eu gostava de ouvir ele falar. Eu gostava dele.
- Eu gosto de você. - falei alto, o interrompendo e o deixando completamente surpreso, assim como eu estava surpresa. Não fazia ideia do porquê aquilo havia saído da minha boca. Não era para ter saído alto. Não era para ter saído. - Desculpa. - engoli em seco.
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Isso é um Adeus
Teen FictionSaphira nunca teve uma vida fácil, porém desde que perdeu sua mãe e foi obrigada a morar com seu pai alcoólatra, viu sua vida começar descer uma ladeira sem direito a freio. Dois anos depois dos acontecimentos que arrasaram sua vida, assim que...