- Você me traiu! - papai gritou, segurando o braço de Tissa.
Olhei para os cacos dos porta-retratos que costumavam ficar na estante. Balancei a cabeça tentando colocar meus pensamentos em ordem e fiz menção de correr para pedir ajuda. Mas antes que eu pudesse, papai soltou Tissa, trancou a porta e apertou meu braço.
- Vai para o seu quarto e não saia de lá. - olhou em meus olhos, me fazendo perceber que ele dormiria a qualquer momento por causa do álcool no sangue.
Meu coração começou acelerar, assim como a minha respiração.
Olhei para Tissa encolhida no canto da sala, os olhos vermelhos e inchados, um pequeno corte na sua sobrancelha esquerda e o canto da boca extremamente vermelho, indicando que logo ficaria roxo.
Eu já tinha visto mamãe em situações parecidas… Claro que eu era praticamente um bebê, mas vê-la naquela situação acionou algo em minha memória e pude ver minha mãe ali. As imagens começaram a se misturar.
Pisquei várias vezes tentando voltar para a realidade. Puxei meu braço, fazendo papai soltar e caminhei até Tissa.
- Vem comigo. - peguei na mão dela.
- Ela fica! - papai gritou, me empurrando para longe dela - Essa desgraçada fica!
- Eu não fiz nada, meu amor. - a voz de Tissa saiu embargada - Eu juro... você precisa acreditar em mim.
- Eu quero é que você morra! - sua mão acertou o rosto de Tissa, fazendo ela cair no chão.
- Para, pai! - tentei segurar o seu braço para impedir que ele acertasse Tissa novamente, mas apenas senti seu cotovelo me acertar e quebrar meus óculos, me jogando para trás.
Coloquei a mão no olho, sentindo a dor subir para a minha cabeça e comecei procurar o meu celular. Não conseguia ver quase nada sem meus óculos e com as lágrimas que ameaçam cair.
- Por que?! - papai gritou, segurando Tissa pelo pescoço.
- Para! - gritei. Não adiantou nada. O desespero começava tomar conta de mim.
Onde estavam as drogas dos vizinhos agora? Eles escutavam quando papai decidia dar um show na sacada, mas não escutavam aquela gritaria?
Digitei o número da polícia e coloquei para chamar.
- A Sa... - Tissa resmungou, pela falta de ar - O celular...
Papai soltou ela e se virou para mim. Senti meu coração acelerar e minhas mãos começarem a adormecer, assim como minha garganta fechar, indicando que um ataque de pânico estava começando. Não podia me descontrolar. Aquilo não podia acontecer.
- Desliga o celular, Saphira. - sussurrou, agora suas mãos estavam no meu pescoço.
- Departamento de Polícia, Boa noite. - ouvi a voz de uma mulher.
- Desliga. - Tissa sibilou sem emitir som.
- Eu... - comecei, enquanto as mãos de papai apertavam ainda mais meu pescoço, fazendo minha visão escurecer - Preciso...
Minhas mãos perderam as forças e deixei o celular cair no chão, me desvencilhei das mãos dele ao sentir que o chão iria me engolir. Olhei para o sofá que parecia ter grandes olhos, então, perdi as forças das pernas e me sentei no chão, sentindo o aperto dentro do peito aumentar. Minha visão começou a ficar cada vez mais embaçada, enquanto eu tentava controlar minha respiração.
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Isso é um Adeus
Roman pour AdolescentsSaphira nunca teve uma vida fácil, porém desde que perdeu sua mãe e foi obrigada a morar com seu pai alcoólatra, viu sua vida começar descer uma ladeira sem direito a freio. Dois anos depois dos acontecimentos que arrasaram sua vida, assim que...