Parei na porta da cozinha e encarei o rosto do papai com atenção.
Aquilo era novidade.
- Apanhou? - perguntei, me referindo á seu olho roxo.
- Vai logo pra escola. - abriu a geladeira e pegou gelo, colocando no olho.
- O que aconteceu?
Não era certo, mas tinha que admitir: ver o olho dele roxo me causou uma certa satisfação. Muita satisfação.
- Briga no bar.
- Então, você também apanha de vez em quando. - suspirei - Interessante.
- Você quer mesmo testar minha paciência hoje? - bufou.
- Jamais. - respondi sarcástica - Tissa tem corretivos poderosos, talvez ajude esconder.
Eu estava com um humor um pouco peculiar naquele dia.
- Sai daqui! - gritou, fechando os olhos e respirando fundo, quando fiz menção de sair - Não... espera. Tenho que falar uma coisa com você e estava me esquecendo.
- Fala. - apertei meus pulsos, por desconfiar do que se tratava.
- Você sabe que tudo que faço ou já fiz... foi pensando no melhor, não sabe? - continuou com os olhos fechados, parecendo sentir dor no olho machucado.
- Seja específico.
- Você sabe, Saphira.
- Que você considera viver bêbado o melhor. - balancei a cabeça - Legal.
- É tudo por amor.
- Amor?
- A diretora ligou para a Tissa.
- Sabia que tinha algo por trás dessa conversa.
- Cuidado com o que você vai falar para essa psicóloga. - avisou - Fale sobre os seus traumas de infância, sei lá.
- Você é o meu trauma de infância. - dei as costas a ele, indo para a sala.
- Estou falando sério, Saphira. - veio atrás de mim - Você pode acabar com a minha vida se falar demais, é isso que quer? Você quer acabar com a vida do seu próprio pai?
Balancei a cabeça e engoli em seco.
- Pense nisso. - colocou a mão no meu ombro, mas me afastei - Com quem você moraria se algo acontecesse comigo? Com a Tissa? Em um orfanato? Porque Raquel não quer responsabilidade para ela.
- Tchau. - abri a porta e sai, pegando o caminho para a escola. Não queria e não podia ouvir mais nada.
Nunca quis ir em uma psicóloga, não que achasse ruim, nem nada de tipo. Eu admirava qualquer pessoa que conseguisse ficar ouvindo sobre a vida alheia e tentasse ajudar com total discrição. Outra coisa me incomodava: todo mundo naquela cidade era um bando de fofoqueiro que julgava a vida alheia, por que essa psicóloga seria diferente?
Não iria correr aquele risco.
- Bom dia. - Jonas me cumprimentou sonolento, assim que me sentei na cadeira ao seu lado - Animada para a detenção?
- Super. - ironizei, olhando para o fundo da sala e encontrando Heitor dormindo.
- O que foi? - Jonas me olhou com atenção - Saphira, você está gostando...
- Não! - interrompi, arregalando os olhos - O que? Jamais... De onde você tirou isso?
- O jeito que você olhou para ele.
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Isso é um Adeus
Teen FictionSaphira nunca teve uma vida fácil, porém desde que perdeu sua mãe e foi obrigada a morar com seu pai alcoólatra, viu sua vida começar descer uma ladeira sem direito a freio. Dois anos depois dos acontecimentos que arrasaram sua vida, assim que...