💌 46 - Um dia 💌

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⚠️ - Nesse capítulo tem algumas cenas levemente explícitas.

Boa leitura.

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- Mentira. - zombei - Você não deve ter lido nem a primeira frase e já dormiu.

Estávamos em um quiosque quase na saída da cidade. O lugar tinha uma iluminação amarelada, as lâmpadas estavam penduradas em uma espécie de varal e o lugar era praticamente todo descoberto. Além disso, o céu estrelado deixava tudo ainda mais perfeito.

- Li sim. - enrugou o nariz e mexeu o macarrão no seu prato - É sobre um serial killer.

- O que mais?

- E um detetive famoso, o Hercule Poirot.

- O que mais?

- Aí você já está querendo saber demais. - sorriu.

Dei de ombros e coloquei um pouco do macarrão ao molho branco na boca. Olhei para meu prato e batuquei a mesa ao perceber que ele havia apoiado seu cotovelo na mesa e seu rosto em uma de suas mãos, inclinando um pouco a cabeça ao me olhar.

- Posso te fazer uma pergunta que já quero fazer há algum tempo? - falou depois de um tempo, me fazendo confirmar com a cabeça - Mas você precisa me responder e ser sincera.

- Vou tentar. - levantei os olhos para vê-lo melhor.

- No dia em que você e o Jonas brigaram, ele falou que seu pai te batia, era verdade, certo? - engoli em seco ao ouvir aquilo - No começo das aulas, foi ele que te machucou, não é? E quando você apareceu mancando e chorou no serviço e eu falei sobre seu pai, era ele que tinha feito aquilo também?

Confirmei com a cabeça, fazendo ele se endireitar e apertar o garfo com força, até as juntas de seus dedos ficarem brancas.

- Mas está tudo bem. - pisquei algumas vezes e engoli, tentando tirar o nó da garganta - Eu estou bem e... ele morreu. É isso.

- Por que você não denunciou ele? - comprimiu os lábios - Por que?

- Ele é... era meu pai. - mordi minha bochecha internamente, enquanto as lembranças borbulhavam em minha mente - Sabe... Eu sempre achei que se algo desse jeito acontecesse comigo, eu denunciaria e não deixaria chegar onde chegou... Eu até...

- Chegar onde chegou? - arqueou uma sobrancelha - Como assim?

- É. - cerrei meus punhos. Nunca tinha falado com alguém sobre aquilo. - É... Me bater e... Eu meio que tentei pedir ajuda na primeira vez que ele me bateu, mas não acreditaram em mim. Falaram que minha mãe não tinha uma boa reputação. - respirei fundo - A Tissa também foi esperta e tentou proteger meu pai. Fiquei com raiva na época, mas acho que agora eu entendo um pouco ela.

- Eu não entendo. - balançou a cabeça, parecendo estar nervoso - Não faz sentido.

- Eu sei. - meus olhos encheram de água - Para quem vê a violência de fora, é fácil sair dela, é fácil denunciar. Eu pensava a mesma coisa... Mas, não é fácil para quem está na situação. - comecei cutucar o canto de minhas unhas, mas ele pegou minha mão, me impedindo de continuar - Você vê seu pai machucar a sua mãe e ouve histórias de que ele te batia quando você era um bebê. Mas acaba se aproximando dele mesmo à distância, ele parece legal e te trata bem... então um dia ele vai te ver e vocês saem para tomar sorvete, mas ele coloca pinga no sorvete dele. Ele perde a cabeça e te bate pela primeira vez, mas você pensa que aquilo não vai acontecer de novo. E quando você menos espera, seu mundo vira de cabeça para baixo e você é obrigada a morar com ele. Ninguém se importa nem acredita em você por você ser nova na cidade e te comparam com sua mãe, que segundo eles não era confiável. E quando você percebe, está na sacada com seu pai bêbado, enquanto ele fala que tudo é culpa sua e que te odeia... E... - limpei uma lágrima que havia caído - E ele tenta te jogar da sacada. Ele tenta te matar. Mas ele acaba caindo... Enfim, não é tão simples para quem está vivendo.

Isso é um AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora