💌1 - O começo, 8 de janeiro💌

190 14 0
                                    

2 anos atrás...

     Senti o aperto no meu coração aumentar e olhei para o monitor que anunciava meu voo. Eu não podia ir embora assim, não para morar com meu pai. Respirei fundo e abracei Raquel mais uma vez. A conhecia desde criança e, nos últimos meses, ela havia sido uma espécie de porto seguro para mim.

     - Por favor, me adote. - minha voz saiu mais embargada do que eu planejava.

     - Não posso adotar alguém que tem uma família, meu bem. - ela acariciou meus cabelos negros.

     - Minha mãe morreu, eu não tenho mais família. - apertei mais ainda o abraço, afundando minha cabeça no seu peito - Isso não é justo! Você era a melhor amiga da mamãe, você devia cuidar de mim... era o que ela gostaria.

     - Ela gostaria que você voltasse falar com o seu pai. - beijou o topo de minha cabeça e me afastou, olhando em meus olhos - Você é tão forte. Você viu sua mãe morrer um pouco todos os dias e deu forças pra ela. Agora, levante essa sua cabeça e faça a diferença nessa nova cidade.

     - Uma bosta de cidade por sinal. - assoei o nariz.

      - Você nasceu lá. - me lembrou.

      - E me mudei 2 anos depois, tanto que nem me lembro desse lugar. - franzi as sobrancelhas.

     - Você pode me visitar nas férias. - sorriu, mas seus olhos estavam tristes e inchados, assim como os meus - Feliz Aniversário!

     - Não estou vendo nada de feliz.

     - Sua mãe sempre vai estar aqui. - colocou a mão sobre meu coração - Sempre... e sei que ela deve estar te desejando FELIZ ANIVERSÁRIO, não é?

     - Não, provavelmente ela esteja sendo decomposta por bactérias e fungos decompositores. - engoli em seco.

     - Saphira! Para... isso é cruel. - deu um passo para trás.

     - Me desculpe. - abaixei a cabeça, sentindo meus olhos voltarem a encherem de água.

     - Vai, você vai perder o avião assim. - me puxou para outro abraço rápido - Boa sorte, qualquer coisa me liga.

     - Pode deixar, manda outro abraço pro Caio. - suspirei, sabendo que não teria como fugir daquilo.

     - Vou mandar... e seu pai vai te esperar no aeroporto, fica tranquila.

     - Mais tranquila, impossível. - dei as costas para ela, levando comigo a mala pesada de rodinhas.

     Ao embarcar, me sentia fora do meu próprio corpo, tudo parecia um borrão. Minha mãe descobriu sua doença 4 meses atrás e há 5 dias estava morta, tudo tão rápido, tudo tão confuso, onde apenas uma pergunta rondava minha cabeça: Por que coisas tão ruins acontecem com pessoas boas? 

     Não era para minha mãe passar por aquilo, não era para ela se definhar aos poucos. Ela já havia sofrido o bastante, a prova daquilo foi o fato de ter que fugir comigo quando tinha 2 anos, porque meu pai era - ou é, não sei - um bêbado idiota. Como era possível ela que sempre se esforçou tanto e teve uma alimentação saudável ser comida pelo câncer enquanto o babaca do meu pai estava mais saudável do que nunca?

       As leis universais ou qualquer outra coisa que guiasse o universo eram extremamente injustas.

       Encostei minha cabeça na janela do avião e fechei os olhos, esperando acalmar cada célula do meu corpo.

**

     Duas horas foram mais rápidas do que eu esperava, talvez seja pelo fato de que meu último desejo era que as horas passassem e com certeza ver meu pai disputava com ele. Mas, ali estava, em um aeroporto pequeno, numa cidade que nem sequer eu conhecia, esperando meu pai e sua esposa, que não fazia ideia de quem era.

Isso é um AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora