Capítulo oito

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Capítulo oito.

Depois de arrumar toda a bagunça do meu quarto. Peguei meu celular e deitei na cama. Abri minha conversa com David, agora, pude perceber o quanto eu fui burra. Ele me tratava muito pior do que eu imaginava, e eu nunca liguei. Exclui qualquer coisa de David no meu celular. Fotos, mensagens e principalmente o número. Apenas para não ter mais que se lembrar dele. Olhei as horas, eram sete da noite, larguei o celular, e dormi. Esperando acordar apenas daqui a um ano.

***

Infelizmente, acordei perto oito horas, não dormi nem trinta minutos. Minha mãe me cutucava.
- Filha acorda! - Ela falou calma. Abri os olhos.
- Que foi? - falei sonolenta.
- Acorde, vamos jantar fora.
- Posso ficar em casa?
- Não! Levante! - Exclamou ela.
- Tudo bem... - Levantei. - Vou me arrumar.
- Ok! Esperamos você lá em baixo.
Fui até o guarda roupa. Peguei uma calça jeans preta, e uma blusa regata justa rosa. Tirei a roupa que estava usando, e vesti as novas, coloquei um salto preto e ajeitei o cabelo. Passei uma maquiagem leve nos olhos. Assim que pronta, sai do quarto, enquanto descia as escadas, ouvi uma voz feminina um pouco familiar vinda da cozinha. Fui até lá. Avistei minha mãe mostrando o livro de receitas para Stella.
- Querida! Está pronta? - Ambas me olharam.
- Sim. Olá Dona Stella! - Sorri.
- Olá Katherine, como está? - Ela sorri.
- Bem!
- Vou chamar Peter. - Como é que é? - Estaremos indo atrás de vocês no nosso carro.
- Tudo bem! - Minha mãe diz, e sorri.
- Até depois. - Stella sai da cozinha, passando pela porta dos fundos.
- Como assim "estaremos indo atrás de vocês"?
- Eles iram com a gente.
- Como assim? Por que eu sempre sou a última a saber?
- Foi planejado de última hora. Ideia de Peter.
- Foi o Pe... - eu quase o chamei apenas pelo nome. - Senhor Peter quem teve a iniciativa?
- Sim. E aceitamos. - Ela fechou o livro. - Vamos. Seu pai já está no carro.
Apenas a segui. Saindo de casa. Eu não vejo problema em sair com Peter. Era até melhor, se fossemos sozinhos, eu teria o risco de encontrar com David, e se Peter estiver junto, as coisas seriam mais fáceis. Porém, ainda sim seria estranho olhar para ele depois disso tudo. Se estivesse apenas eu e ele tudo bem, mas com meus pais, e Stella do lado, vai ser bem esquisito. Entramos no carro.
- Aonde vamos? - Perguntei.
- Naquele restaurante que fomos no aniversário de sua mãe mês passado. - Meu pai respondeu, dando partida no carro.
- Ah sim. - Olhei para trás, Peter nos seguia com seu grande carro preto.
O caminho foi bem curto e silencioso. O restaurante ficava de frente para o mar, era perfeito caso eu quisesse fugir durante o jantar. Nele havia karaokê, e quase sempre fica lotado. Chegamos ao local, eu e minha mãe saltamos do carro, enquanto meu pai estacionava. Logo chegou Peter e Stella. Ela saiu do carro e ficou conosco.
- O restaurante parece ótimo! - Stella comenta.
- Aqui é ótimo. - Falei.
- Já nos divertimos muito aqui né filha!?
- Sim. - Sorri. Lembrando de todos os momentos legais que passei ali dentro.
Meu pai e Peter chegaram, conversando, algo que eu não consegui decifrar. Eles se aproximaram um pouco mais.
- Vamos? - Meu pai chama.
Fomos até eles. Peter sorriu tímido para mim. Retribui ainda mais envergonhada. Entramos no restaurante. Que hoje, estava com uma quantidade menor de pessoas, mas ainda assim estava cheio. O ambiente era pouco iluminado, havia luzes de diversas cores, em um canto ficava o bar, do centro, havia várias mesas, e logo perto da entrada para a praia, um palco. Uma recepcionista nos levou até à nossa mesa. Sentei no meio entre meu pai, e minha mãe. Peter sentou-se de frente para mim. Fazia ao máximo para não olhar para ele. Mas era impossível. Ele vestia uma camiseta azul marinho, e uma calça jeans, sempre simples e bonito.
- Adorei o lugar! - Peter diz. - Foi uma ótima escolha. Eu os convidei, mas não saberia para onde leva-los.
- Sempre que quiserem ajuda sobre lugares aqui na Califórnia é só pedir. Conhecemos praticamente tudo aqui.
- Ótimo! - Peter sorri.
Scarlatti, uma das nossas garçonetes favoritas, devia ter por volta de uns 40 anos, mas se vestia como alguém de 20. Ela veio até nossa mesa para anotar o pedido.
- Cooper's, bom rever vocês aqui. - Ela olha para Stella e Peter. - Dessa vez com acompanhantes.
- Scarlatti, esta é Stella, e Peter - Minha mãe apontou para eles. - Nossos novos vizinhos.
- Sejam bem vindos! E espero que gostem daqui. - Ela sorriu.
- Já estamos amando, obrigada! - Stella respondeu sorridente.
- O que vão querer?
- O que querem? - Meu pai pergunta.
- Não sei, qual sugestão daria? - Stella pergunta.
- Queremos o de sempre! - Minha mãe interrompe todos. Com certeza o "de sempre" era o melhor. Uma porção grande com camarões gigantes.
- Ótima escolha, ele está maravilhoso hoje! - Ela terminou de anotar. - Não se esqueçam do karaokê.
- Nunca esquecemos. E vocês serão os primeiros a cantar! - Meu pai aponta para Peter e Stella.
- Ah! Não, eu não vou, obrigado! - Peter replica sem graça.
- Peter é um chato, nunca curte quando vamos a festas.
- Eu só não sou chegado a isso. - Ele responde, e ri.
- Então vamos nós quatro, Stella! Eu, você, Simon, e Katherine! - Minha mãe diz. Mas nem morta eu subo naquele palco.
- Ah eu não vou não mãe!
- Mas você sempre cantou! - Meu pai questiona confuso.
- Eu só não estou bem hoje.
- Está naqueles dias filha?
- Pai! - O cutuquei com força. Que vergonha. Olho para Peter e vejo que ele fingiu não ter ouvido.
- O que foi Katherine? É normal! - Ele responde.
- Não é nada! - repliquei irritada.
- Desculpe, ela deve estar de TPM.
- Pai! - Exclamei irritada novamente. - Que mico.
- Deixe-a Simon. - Minha salva minha vida. - Se ela está de TPM não há nada que possamos fazer.
Ótimo, agora são os dois. Novamente olhei para Peter. Ele me encarava com uma expressão que parecia entender qual era o real motivo. Eu não estava com cabeça para cantar, ou me divertir.
- Olha! Quer saber, eu vou dar uma volta ali na praia. Volto depois. - Me levantei.
- Tome cuidado! - Minha mãe diz.
Caminhei até o outro lado do restaurante que levava até a praia. Sai do local. Deparei-me com uma praia fantasma. Não havia uma alma sequer. Era exatamente o que eu queria. Caminhei para mais distante do restaurante, e sentei no chão. O vento era frio, mas fraco. Eu só ouvia o barulho das ondas no momento, foi perfeito para relaxar completamente, eu não pensei em nada. Meu relaxamento foi interrompido por um barulho vindo do restaurante. Acredito que tenham começado com as sessões de karaokê, não havia coisa pior do que ter quer ouvir isso. Fechei os olhos, e tapei os ouvidos para que agora eu não ouvisse nem o som do mar. Senti algo no meu ombro, eu gelei de medo.
- Katherine! – uma voz masculina surge. - Está tudo bem?
Olho assustada para trás.
- Peter! - Coloquei a mão no coração. - Que susto!
- Desculpe. - Ele sentou ao meu lado.
- O que faz aqui?
- O mesmo que você, fugindo do barulho lá dentro.
- Meus pais e Stella não falaram nada?
- Disse à Stella que estava com um pouco de dor de cabeça, e ela disse para eu aproveitar e ficar de olho em você.
- Não há necessidade disso.
- Há sim. Esqueceu-se daquele detalhe? E também, vai saber se por aqui não tem nenhum maluco tarado.
- Exagerado. - Ri.
- Me preocupo com você Katherine. - Parei de rir, e o encarei. Peter me olhou também.
- Obrigada! - agradeci e ele sorriu.
Eu não sabia o que fazer, ou falar. Eu não conseguia sequer me mover. Peter se aproximou de mim. E logo um frio na barriga chegou. Eu sabia exatamente o que estava prestes a acontecer.
- Peter! - Agora um nervosismo tomou conta do meu organismo.
A voz de Stella estava longe, e provavelmente ela não conseguiu nos ver, mas o medo era enorme. Peter me encarou, e logo levantou, saindo rapidamente de lá em direção ao restaurante. Isso seria errado! O que iríamos fazer! Peter é casado. E eu tenho dezessete anos! Mas além de todos esses fatores, eu iria gostar do que iria acontecer. Esse homem é completamente irresistível, e o desejo de beijá-lo era enorme. O que eu estou pensando? Tenho que retirar todas essas possibilidades da minha cabeça. Levantei e fui até o restaurante. Olhei em direção à nossa mesa, todos estavam lá menos Peter. Caminhei até lá.
- Filha! Já íamos chamar você. A comida chegou agora mesmo.
- Bem na hora então. - Agi naturalmente. Acredito que Peter já tenha ido, mesmo que sozinho afinal, ele deve estar constrangido assim como eu, mas sem ele ali eu consigo jantar em paz.
- Estou morrendo de fome! - Meu pai diz.
Coloco um camarão em meu prato, junto com uma salada bem básica, e começo a comer.
- Você estuda Katherine? - Stella pergunta.
- Sim, estou de férias, mas não falta muito para a volta às aulas.
- Se forma quando?
- Ainda esse ano.
- Que maravilha! - Ela sorri. Apenas retribuí o sorriso, peguei o copo de suco e tomei um gole. - Peter está demorando muito.
Engasguei com o suco, chamando a atenção de praticamente todos ao redor.
- Filha! - Minha mãe põe a mão nas minhas costas. Recuperei-me.
- Estou bem! - Que ótimo, como terei coragem de olhar para Peter depois do que aconteceu agora pouco!
Todos voltaram a comer silenciosamente. Não demorou muito para que Peter chegasse.
- Conseguiu o comprimido? - Stella pergunta para ele, Peter senta em seu lugar e me encara.
- Consegui sim, daqui a pouco melhora.
Eu não conseguia erguer a cabeça. Ficar de frente para ele, ter que observar seus olhares direcionados para mim grande parte do tempo. Então olhei apenas para o enorme camarão em meu prato.
- Você está bem querida? - Minha mãe pergunta baixo para mim.
- Estou sim mãe! - Sorri falso.
- Quase não come...
- Estou apenas com falta de fome mesmo.
- Você quer ir para casa?
- Não! - Sim! - Eu estou bem, relaxe.
Eu com certeza não estava bem. Mas preferi obviamente ficar quieta, ninguém poderia nem sequer desconfiar do que aconteceu. Imagino que Peter também ficará quieto, até porque, quem tomou a iniciativa foi ele. Eu queria o mesmo que ele. E ainda quero. Ficar novamente perto dele sozinha seria uma tentação para mim. E com o problema de David, isso ainda vai acontecer muito. Vou ao máximo tentar ficar em casa. Evitar o perigo. Pelo menos até Peter e eu esquecermos o que ocorreu. O que é meio impossível, mas com um tempo as coisas serão deixadas de lado. Só não podemos repetir isso. Não pode acontecer, de maneira alguma.
Me dei conta de que esqueci onde estava, acordei do transe com Peter chamando meu nome.
- Katharine! - ele disse mais uma vez.
- O que foi? - Perguntei sem graça.
- Nada. - Ele riu.
- Filha nós vamos cantar mais uma vez, não quer vir junto? - Meu pai pergunta.
- Não! Ficarei apenas assistindo.
- Tudo bem. - ele levanta. - Vamos?
Minha mãe e Stella levantam-se junto com ele, caminhando até o palco. O barulho começa. Cantavam uma música que parecia ser dos anos 90. Olhei para Peter disfarçadamente, ele me olhava também. Desviei o olhar rapidamente.
- Vou ao banheiro. - Levantei, caminhando rapidamente em direção ao escuro corredor que levava até os banheiros. Entrei.
Me olhei no espelho. Apenas fiquei me observando. Enrolei ao máximo para não ter que voltar lá. Mas eu não poderia fugir. Dei uma última olhada, e sai.
Fui surpreendida com os braços de Peter envolvendo minha cintura, me empurrando novamente para dentro do banheiro.
- O que está fazendo? - Perguntei assustada, mas não obtive resposta. Peter me roubou um beijo. Um beijo quente e desejado. Eu não recuei, pelo contrário, retribuí. Coloquei minhas mãos em sua nuca, e de vez em quando acariciava seu cabelo. Paramos para recuperar o fôlego. Peter me pegou no colo, fazendo-me entrelaçar minhas pernas em sua cintura, e em seguida levou-me até a pia, voltando a me beijar. O desejo de ter Peter mais próximo do meu corpo aumentava, mas entre todos os suspiros e sensações maravilhosas, a pergunta "o que eu estou fazendo?" tomava conta da minha consciência. A qualquer momento alguém poderia chegar ali. Minha mãe, ou Stella. Oh não! Isso é errado. O empurrei. Peter ficou parado fitando-me sem entender.
- Não podemos! - Desci da pia. Indo para a porta.
- Katherine! - ele chama meu nome, me virei de frente para ele, e logo me alcança, me encostando da parede, ao lado da porta. - Eu desejo você.
Sussurrou em meu ouvido. E a onda de arrepios me atingiu em cheio.
- Isso é errado! - Sussurrei também.
- Eu sei. - Ele levou uma de suas mãos para minha bochecha. - Mas eu não consigo evitar.
Ele falava com um tom grave, mas baixo, deixando-o sexy. Desta vez quem não conseguiu aguentar fui eu. Voltei a beija-lo. De uma maneira que eu nunca beijei antes. Peter conseguiu despertar em mim um lado meu que nem eu mesma conhecia. Ele passou a mão por toda a lateral do meu corpo. Parando em minha coxa direita, levantando-a e trazendo para si. Interrompi o beijo. O encarei. Eu não podia continuar com aquilo. O empurrei um pouco e sai do banheiro, indo o mais rápido possível para a mesa onde estávamos. Sentei e respirei de alívio por encontrar eles cantando ainda.
Passaram-se uns dois minutos e eles pararam de cantar, voltando para a mesa.
- Onde está Peter? - Stella pergunta.
- Não sei, fui até o banheiro e quando voltei, ele já não estava mais aqui. - Inventei nervosa com a possibilidade de alguém ter percebido algo.
- Aqui está você! - Stella olha para trás de mim. Peter da à volta na mesa e se senta. Tomo um gole de suco. Se antes eu já estava sem graça de olhar para Peter, imagina agora.
- Vamos embora? - Minha mãe pergunta.
- Vamos! - Respondi de imediato.
- Nossa! - Meu pai ri devido à minha enorme vontade de sair daquele lugar.
- Tudo bem! Vamos então. - Stella diz. - Querido, vá pegando o carro enquanto pagamos a conta.
Peter faz o que ela diz.
- Você também Simon. Espere a gente ali na frente. - Minha mãe fala para meu pai. Ele e Peter saem do restaurante. - Stella, não se preocupe que hoje é por nossa conta.
- Não mesmo! Vocês são os convidados, eu pago!
- Por que não dividem a conta? - Falei. Elas se olharam.
- Pode ser. - Stella diz e sorri.
As duas pagaram a conta, enquanto eu apenas observava Stella. Como eu tive a coragem! Ela sempre foi gentil comigo, até me ajudou a se livrar de uma grande enrascada, e é assim que eu retribuo. Minha consciência pesava mais que uma tonelada.
- Vamos? - minha mãe diz.
- Vamos. - Respondo. Saímos do restaurante. - Até mais Dona Stella!
- Beijos querida, até mais. - Ela sorri e se despede de minha mãe.
Entro com pressa no carro. Tudo o que eu mais queria no momento era esquecer. Esquecer tudo o que eu fiz. Mesmo sabendo que foi o melhor momento que eu já vivi até hoje. Por mais errado que seja.

Desejos Proibidos - Livro 1 [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora