Capítulo vinte e quatro

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Uma semana depois...

Peter e eu passamos por uma semana de total terror. Ele me ligava o tempo inteiro para certificar-se se Stella não contou aos meus pais. Nossos encontros se reduziram muito, já não nos encontrávamos muito antes, agora mesmo foi de mal à pior.
Hoje é meu primeiro dia de aula, e o risco de Stella contar tudo é enorme. Até porque, caso ela vá a minha casa eu não conseguirei enrolar meus pais para mantê-los longe da porta. Tudo pode acontecer.
Estou em meu quarto, ajeitando-me para ir para a escola. Coloquei uma simples calça jeans e uma camiseta regata. Sinto falta de quando tínhamos que usar uniforme. Era feio e a camiseta era laranja, mas pelo menos ninguém cuidava da roupa que o outro usava, se era de marca ou não, velho ou novo, não importava. Mas a regra mudou quando vim para o ensino médio.
Não passei tanta maquiagem, apenas uma base corretiva e rímel. Preparei meu material na bolsa e coloquei o tênis. Eu estava pronta.
Sai do quarto em direção às escadas. O cheirinho de café da minha mãe já tomava conta de todo o ambiente, o que me fez despertar uma fome enorme.
Desci as escadas e fui até a cozinha.
- Bom dia mãe! - Disse, enquanto minha mãe colocava uma xícara no balcão.
- Bom dia filha! - ela replica. - Já está pronta?
- Sim, só faltou tomar café. - respondo.
- Está nervosa para seu primeiro dia depois das férias? - Mamãe senta no banquinho, ficando de frente para mim.
- Não muito, no inicio do ano eu estava mais. Já hoje eu nem ligo mais.
- Assim que é bom! – ela comenta.
- É... Talvez...
Eu não estava nervosa pelo fato de ser o primeiro dia de aula, havia problema bem maior que esse.
Preparei torradas e as comi. Olhei no relógio de parede e ainda eram seis e meia, tenho uma hora livre ainda. A escola fica perto da minha casa, então posso ir andando tranquilamente sem depender da carona de Carie.
- Vai sair hoje? - indago.
- Não... Eu tenho que pôr todas aquelas coisas que estão no quarto do andar de cima no porão. Sua vó virá me ajudar. - mamãe responde.
- Vovó vai vir?
- Sim...
Ótimo, de Stella vir aqui contar tudo terá até plateia. Minha vida estaria acabada. Vovó é uma mulher toda correta, se descobre tudo eu estou ferrada. Nem ela, e nem meus pais aceitariam uma coisa dessas. Nem mesmo eu, se fosse mãe, aceitaria que minha filha tivesse um caso com o vizinho casado. A diferença é que o que eu e Peter temos não é apenas um caso.
Peter pediu divórcio. Tá bom, o motivo não fui apenas eu, mas eu fiz parte. E eu estou disposta a enfrentar até mesmo minha família para ficar com ele.
- Vai usar o quarto de cima para ser o do bebê? - pergunto.
- Sim, já quero preparar tudo agora, quanto mais rápido possível, melhor.
- Verdade...
- Stella apareceu aqui ontem.
- O quê? - sinto um aperto no coração. - O que ela veio fazer aqui?
- Não sei... Ela não disse. Quem atendeu foi seu pai, enquanto nós duas estávamos no mercado.
- Ela vai voltar? - indago.
- Não sei... Vamos ver. Provavelmente quer saber sobre Peter. - estou ferrada. - Ele pediu para que se ela viesse aqui não era para acreditar em nada do que ela dissesse, e mantê-la o mais longe. Isso serve para você também!
- Eu não falo com ela... - comento.
- É, mas lembra do dia no shopping? Vocês não se desgrudaram.
- Aquilo foi no início... Agora, depois do que o Senhor Peter disse sobre ela, quero distância.
- O que ele disse sobre ela? - Mamãe pergunta, e eu lembro que ela não sabia de tudo.
- Ah... Essas coisas todas ai que estão acontecendo... Eu vou para a aula. - mudei de assunto.
- Mas ainda é cedo! - ela questiona.
- É bom chegar cedo, pôr as novidades em dia... - replico.
- Então tá... - mamãe franze a testa.
- Tchau mãe, te amo! - pego minha bolsa em cima do balcão e saio rapidamente da cozinha.
- Boa aula! - ela exclama.
Ao sair de casa, diminui os passos. Passei devagar em frente a casa de Stella. Tudo estava fechado, provavelmente está dormindo. Tomara que permaneça assim até eu chegar. Acho difícil, até porque Stella sempre estava de pé as oito horas da manhã todos os dias. Porém, nunca se sabe.
O nervosismo estava consumindo-me por inteira. Eu não consigo pensar em mais nada além do fato de que meu segredo - que já não é tão secreto assim - pode ser descoberto pelos meus pais.
Ir para a escola, ter que encontrar David nos corredores não é uma coisa muito boa. Tenho quase certeza de que foi ele quem contou para Stella, ele era o único que poderia ter tirado foto. Ele quer literalmente me destruir. E para ele, dane-se as consequências que isso pode causar. Ele nunca ligou, sempre fez as coisas sem medo do que pode vir pela frente. Ao mesmo tempo em que isso é admirável, também é assustador.
A brisa gelada chocava contra meu corpo, estou me arrependendo até os fios de cabelo por não ter pego um casaco. O pior não é sentir frio, a parte chata mesmo, é a minha "sorte" enorme de ficar doente por qualquer coisinha. Já não basta ficar de castigo - ou seja, lá o que meus pais farão comigo - tenho que ficar doente, para completar meu fracasso.
O carro de David passou por mim, em direção à escola, milagre ele chegar cedo na escola. Acelerei o passo, para que eu consiga um lugar longe dele na sala.
Espero que ele reprove de ano, pelo menos não corro o risco de esbarrar com ele nos corredores da faculdade também.
A escola estava logo à frente. Ouço uma buzina e automaticamente olho para o lado.
Carie chegou com seu carro, e entrou no estacionamento. Caminhei até lá. O local estava mais lotado do que pensei que fosse estar. Vários grupos de pessoas comemoravam a volta as aulas. Não pelo fato de estudar e ter que deixar de sair as sextas para ficar em casa se matando para fazer trabalho, mais sim, por reencontrar os amigos.
- E aqui estamos nós no inferno novamente! - Carie aproxima-se de mim.
- Não fale assim, a escola é um lugar maravilhoso! - disse irônica.
- É como uma droga!
- Que não vicia. - completo a frase.
- Falta pouco para nos livrarmos disso. - Carie comenta.
- Finalmente!
- Como você está? – ela indaga.
- Nervosa, com medo, apavorada... - respondo.
- Relaxa amiga, se Stella fosse contar para seus pais, já teria feito isso.
- Ela esteve na minha casa ontem! - informei.
- O quê? Fazer o que lá? - Cárie indaga boquiaberta.
- O que você acha? Provavelmente foi contar tudo. Acho que só não falou por que mamãe não estava em casa.
- Meu Deus Katherine! Então você está ferrada! - ela exclama.
- Eu já sei disso. Acredito que de hoje não passa.
- E Milla? Vocês já fizeram as pazes?
- Isso não depende de mim... Depende dela... Só posso fizer que sinto muito a falta dela. - confesso.
- Se eu fosse você, iria atrás dela, pedia desculpa, e diria que errou.
- Mas eu não errei! - questiono imediatamente. - Talvez eu tenha sido um pouco ignorante, mas não foi por querer, além do mais, eu pedi desculpas à ela.
- Mas não foi o suficiente... - Carie diz.
- Vou tentar falar com ela essa noite... - digo por fim. - Vamos!
O carro de David estava estacionado próximo de nós. Passei por ele sem nem olhar, e o que eu consegui perceber, ele não fez o mesmo. Encarou-me com aquele sorriso sínico que só ele sabe fazer. O grupo inteiro dele ficou em silêncio. O clima estava tão pesado que eu podia sentir com as próprias mãos se tentasse.
Saímos do estacionamento, e caminhamos até o prédio. As pessoas tomavam conta da escadaria. Todas rindo, falando, e cochichando, lançando olhares para outros grupos, como se estivessem julgando, debochando.
Eu queria ter o poder de controlar o tempo. Pularia para daqui a uns dez anos. Perder toda a parte complicada da vida. Provavelmente já teria meu emprego, minha casa, minhas responsabilidades, minha própria vida. Meus pais não teriam mais que decidir o que eu faço ou deixo de fazer. Quem dera.
Entramos na escola. Comparado com o lado de fora, até que estava vazio. Bem poucas pessoas andavam pelos corredores. Havia alguns alunos novos procurando por suas salas e armários.
O ambiente cheirava, de alguma forma, à chiclete. O piso era branco e escorregadio, os armários cinza deixavam o corredor morto, o que mais chamava atenção eram as lixeiras de uma cor vermelho vivo.
- Isso aqui não mudou nada... - Carie comentou.
- Na verdade, acho que os alunos novos estão tomando conta, nunca vi tanto. E olha que nem é início de ano. - replico.
- Tem razão! Tomara que tenha gatos.
- Carie! - questiono. - E Philippe? Sossega esse facho.
- Relaxa! Só quero arrumar um step!
- Você não presta mesmo! - ri.
- Eu sou inteligente, isso sim. Não tem como saber se amanhã Philippe vai me trocar por umazinha qualquer. Tenho que me garantir. E você devia fazer o mesmo!
- Tem razão! - exclamei.
Entramos na sala, havia poucas pessoas ainda, e nenhum aluno novo.
Cumprimentamos algumas amigas e depois sentamos em nossos lugares. Sentei na última carteira da parede, e Carie sentou-se em minha frente.
Geralmente era David quem sentava aqui, mas ninguém mandou ficar lá fora, perdeu o lugar.
- Eu estou com tanto medo! - desabafei.
- Calma amiga, relaxa, presta atenção na aula, e vamos esperar para ver o que da. - Carie diz.
- Não é assim tão fácil...
- Mas pelo menos tente. - ela propôs.
- Vou tentar...
David entrou na sala, e o primeiro lugar que ele olhou foi em minha direção. Fez uma pausa na caminhada, e depois, foi até o outro canto. Tentei não olhar para o lado. Minha nuca ficou quente, acontece sempre que fico nervosa.
- O estraga prazeres chegou... - Carie cantarolou.
- Eu vi... - resmunguei.
- Finja que ele não existe.
- É o que eu estou tentando fazer, mas é meio impossível.
- É possível sim! - Carie diz. - É só não olhar para o lado ou coisa do tipo.
- Você sabe que é impossível.
- Ah tanto faz... Apenas tente! - ela fala um pouco mais alto e vira-se para frente novamente.
Eu só queria que o tempo passasse bem devagar.

A manhã foi muito tensa, eu fingia estar bem o tempo inteiro para as outras pessoas. Mas Carie era uma que sabia que eu estava usando uma máscara.
Estamos no intervalo, sentamos na mesa com Charlotte, Alícia e Elizabeth. Todas sabem que tem algo de errado comigo, mas nenhuma toca no assunto. Melhor assim.
- Então Carie... Fiquei sabendo que está saindo com Philippe. - Charlotte diz.
- Pois é... As notícias voam. - Carie replicou.
- Ele parece ser legal... Tinha uma amiga que estava afim dele. - ela comenta.
Obviamente, Charlotte estava falando de si mesma. Ela acha que consegue disfarçar de todos que é caidinha por Philippe, mas todo mundo já sabe disso desde o início do ano.
- Sério? Qual o nome dela? - Carie indaga.
- Nome? Para que nomes? Não é mesmo? - Charlotte responde sem graça.
- Ok então... - Carie diz.
- E você Katherine? - Elizabeth muda de assunto.
- O que tem eu? - pergunto.
- Como está sua vida amorosa? - ela interroga.
- Hã... Eu não quero essas coisas no momento. - menti.
- Ah qual é Kate, até parece! - Alícia bufa.
- Qual é digo eu, Alícia! - Carie nos interrompe - Agora todos têm que ter uma vida amorosa?
- Não! Mas ela não pode vir dizer que não quer, é meio impossível. - Alícia replica.
- Poupe-me. Katherine tem mais obrigações na cabeça. Escola, faculdade, bebê, trabalho!
- Bebê? Katherine está grávida? - Charlotte pergunta assustada.
- Não! - respondo imediatamente. - Está louca? Eu só tenho dezessete anos.
- Então de que bebê estão falando? - Elizabeth pergunta.
- A mãe dela está grávida. - Carie responde.
- Isso mesmo. - assenti.
- Nossa! Isso é incrível! - Charlotte diz animada.
- Sim... - sorri.
O sinal toca.
- Ah, droga! - Carie rosna. - Vamos!
Levantamos-nos e voltamos para a sala.

***

Estou indo para a casa. Carie me ofereceu carona, mas não quis antecipar minha destruição.
Stella pode não ter ido em minha casa essa manhã, e isso seria um alívio para mim. Mas sabe quando pressentimos que algo ruim vai acontecer? É assim que estou me sentindo.
Passei em frente à casa de Stella, estava da mesma forma que mais cedo, sem nenhuma janela ou cortina aberta.
Me aproximei de casa e parei. Meu coração estava acelerado, e meu corpo tremia.
Caminhei até a porta e entrei.
O que eu mais temia aconteceu.
Minha mãe estava sentada no sofá, e papai andava de um lado para o outro, e parou ao me ver.
- Katherine... - mamãe sussurrou. - Tem... Tem alguma coisa que queira contar para a gente?
- Mãe... - senti a primeira lágrima cair, e as palavras mal saíam. Eu não sabia o que falar. - Eu...
- Nós confiamos em você! - Papai inicia sua bronca. - Nos confiamos nele! Colocamos ele dentro da nossa própria casa, e vocês dois tendo um caso?
- Simon... - mamãe interrompe meu pai. - Vai com calma.
- Calma? - papai se altera. - Sua filha estava tendo um caso com nosso vizinho, mais velho e casado e você quer mesmo que eu tenha calma?
- Me desculpa... - foi o máximo que pude dizer entre o choro.
- Katherine... Faz quanto tempo que isso está acontecendo? - minha mãe indaga calma, sem nem olhar para mim.
- Eu... Eu não sei... Umas três semanas... - respondi com a voz falhando.
- Três semanas? Não faz nem um mês que ele se mudou para cá e você já dormiu com ele? - Papai questiona.
- Pai, tenta entender... - protesto.
- Katherine, vá para seu quarto... - mamãe diz, e eu não penso duas vezes, corro para o andar de cima, em direção ao meu quarto.
Entrei e fechei a porta, depois, me joguei na cama aos choros.
Stella e David conseguiram o que queriam. Conseguiram destruir tudo. Acabar com minha vida com apenas algumas palavrinhas.
"Katherine e Peter tem um caso"

******

Olá meus amores! Como estão?
Quero agradecer pelo carinho de vocês, recebi muitos comentários lindos, caso algum tenha ficado sem resposta, saibam que li cada um deles, e agradeço muito. Faltam apenas dois capítulos, o que acham que vai acontecer? Comentem o palpite de vocês.
Quem ainda não foi adicionado no grupo do WhatsApp, calma, por que teve muito mais pessoas querendo participar do que eu imaginei, então estou tentando organizar. Beijos

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Desejos Proibidos - Livro 1 [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora