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Matador

Quando completei 11 anos não tinha mais nenhuma chance de ser adotado, então eu fiz a coisa mais certa da minha vida, eu fugi do orfanato e fui direto pra favela, já sabia que lá era onde as pessoas mais pobres e marginalizadas moravam, e pra que uma pessoa mais marginalizada que um preto sem pai, sem mãe?

Então eu fui na cara e na coragem, não sabia de nada da vida nada mesmo. Cheguei na favela e já fui roubar uma padaria e só peguei 2 pão, deu tempo nem de comer os caralho dos pão. Apareceu logo os moleque da boca metendo bronca pra caralho em mim, levei logo um tiro no pé pra ficar esperto. Lembro até hoje daquele dia, foi foda pra caralho, chorei muito sozinho naquele beco, meu pé doendo pra caralho e também tava frio pra uma porra, então eu fiz a coisa que eu achei mais esperta naquela hora, enfiei um pedaço do miolo do pão no buraco que ficou da bala, até hoje tenho a cicatriz da bala.

Na noite daquele dia eu passei o tempo todo naquele beco, não sai por nada morrendo de medo de vir aqueles caras novamente e querer me matar, namoral nunca passei tanto medo na minha vida.

No dia seguinte eu acordei no hospital com meu pé todo enfaixado e com uma mulher negra baixa e magra sentada, ela tava com uma barriguinha de grávida.

A partir desse dia eu consegui sentir uma coisa que nunca tinha sentido na vida: Amor, foi estranho no começo, mas ser acolhido por essa mulher foi a melhor coisa da minha vida.
Ela tentou de todas as formas me tornar uma pessoa melhor, mas quem disse que eu queria?me tornei um adolescente totalmente problemático mas que tentava ao máximo ser bom na presença dela e da minha irmã.

Nunca quis estudar, meu negócio era fumar maconha e olhar pra bunda das meninas da escola. Com 14 anos eu ainda tava no 6° ano, então minha mãe decidiu me tirar e eu comecei a trabalhar numa oficina perto de casa, passei 3 anos trabalhando lá e melhorei muito como pessoa e como filho, mas aí minha mãe decidiu namorar um cara, e foi aí que o bagulho ficou foda. O cara começou a olhar estranho pra Luana, ela tinha 5 anos na época e puta que pariu esse bagulho tava estranho, mas minha mãe não percebia nada, eu até tentei falar mas ela não tava acreditando, até por que tava apaixonada e mulher apaixonada é bagulho besta.

Um dia minha mãe foi fazer as compras eu fui trabalhar, e a Luana foi pra creche. Quando sai do trabalho e fui procurar a Luana na creche a professora disse que o "pai" dela tinha ido buscar ela, já fiquei como? Puto e bolado, como que ela da minha irmã assim pra um cara desconhecido, a professora disse as caracteriscas do homem e eu entendi que era o namorado da minha mãe, fui pra casa correndo igual louco.

Quando cheguei o cara tava sentado na cama na minha irmã com o pal pra fora e pedindo pra minha irmã pegar. Naquela hora que eu vi aquela cena a única coisa que passou pela minha cabeça foi pegar uma enxada que tinha lá no muro de casa e começar a dar na cara dele, não tive nem a chance de tirar minha irmã de dentro de casa. Matei ele com 100 golpes de enxada.

Nesse dia fui levado pro desenrolo e lá eu conheci o Rei, ele percebeu em mim a sagacidade que ninguém tinha percebido antes e desde então sou eu que faço os trabalhos mais sujos pra ele.

Depois desse episódio horrível eu parei de falar com minha mãe por quase um ano, não permiti que ela trouxesse nenhum cara pra dentro da casa onde minha irmã tava, entrei pro movimento e virei um assassino de verdade. Aluguei uma casa pra não ter que olhar pra cara da minha mãe todo dia, apontei a arma pra cara da professora da Luana e ameacei matar ela se ela estragasse a Luana pra qualquer pessoa que não fosse eu ou minha mãe.

Dos 5 anos da Luana até o 11 eu levava ela pro ginecologista pra ele notar se não havia qualquer coisa de diferente dela, qualquer machucado ou alteração na área da vagina. Eu passava um bom tempo com ela mas não tinha como estar todo tempo com ela mas não tinha como ter a certeza que não tinha nenhum vagabundo abusando dela, até por que minha irmã era bem quentinha e não falava muito.

Dos 11 anos até agora eu mesmo comecei a conversar, perguntava se alguém tinha tocado nela ou tinha passado a mão nela, ou coisa do tipo. Nessa de perguntar as coisas pra ela já matei 2, o 1° foi um garoto de 16 anos que estudava na escola dela e tinha passado a mão nela, dei 2 tiros cabeça. O 2° foi outro que ficava seguindo ela quando tava vindo do mercado, dei 2 tiros da cabeça também. Não permito que nenhum homem toque na minha irmã, tenho maior cuidado.

Meu nome é Marlon, tenho 28 anos e não sou uma pessoa boa e não tô aqui pra ser. Se cruzar meu caminho, morre, se mecher com quem eu amo, morre.

atrás das máscaras (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora