Escolhas

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Pov Caitlyn

No outro dia acordei cedo com uma dor de cabeça pulsante e chata.
Precisava ver os meus pais e falar com Jayce também, todos ainda estavam abalados e muito preocupados com toda essa situação.

Tomei um café rápido e vesti meu uniforme de defensora. Alguns pontos antigos na minha perna latejavam, mas era algo suportável.

Fui até o armário onde guardava as armas e lembrei que havia trocado o meu rifle preferido por uma poção para Vi quando ela se feriu gravemente na sua luta com Sevika. Tudo bem, eu trocaria de novo se fosse pra salvar a vida dela.

Caminhei pela cidade até a casa dos meus pais. Era estranho subir aquela escadaria imponente de mármore agora, saber que enquanto passei a minha vida inteira sendo mimada e possuindo bens materiais excessivos,  lá embaixo as pessoas passavam fome e algumas dormiam em barracas feitas de sacos plásticos nas ruas.

Sinceramente, eu não entendia como era possível que tivessem fechado os olhos pra isso durante tanto tempo. Talvez sempre souberam e não fizeram nada. Bem vinda ao mundo real, Cait.

Abri a porta grande e pesada para entrar na sala. Todo o conselho estava lá, uns sentados nas poltronas e outros se servindo de chá.
Minha mãe veio correndo na minha direção e me senti grata por ela estar viva.

- Filha! Por que já está de pé ? Deveria estar no hospital. Quando foi que você saiu de lá? Eu iria te visitar assim que acabasse a reunião. - ela me apertava com força e eu tentava me esquivar sabendo que todos estavam olhando.

- Tá tudo bem, mãe. Eu saí de lá ontem, já estou completamente bem, desculpe não ter vindo antes, precisava dormir um pouco. Fico feliz que esteja a salvo. - sorri pra ela.

- Eu digo o mesmo! - ela sorriu de volta e se virou para o restante dos convidados.

A conselheira Medarda se levantou e limpou a garganta antes de falar.

- Agora que estamos todos aqui, podemos começar, será uma reunião diferente, não temos mais nossa sala por enquanto, então vamos direto ao ponto. Kiramman, queremos saber tudo o que aconteceu lá. - todos os olhares se voltaram pra mim e eu fechei a cara.

- Eu não vou fazer parte disso. Eu já fui até vocês antes e vocês não me deram ouvidos. O que aconteceu lá foi resultado de anos de repreensão e indiferença da parte de vocês. Aqui, enquanto todo mundo vive de barriga cheia e dorme tranquilamente, lá eles fazem o possível pra sobreviver. Querem saber o que acontece nas ruas da subferia? Sugiro que vão e vejam com seus próprios olhos. Tentem viver um dia sequer na pele daquelas pessoas. Existe gente boa lá também, famílias, crianças, e não só os monstros, traidores e assassinos que vocês nos fizeram acreditar que eles fossem. - falei com a voz alterada pela raiva. Minha mãe me olhava incrédula, eu definitivamente não era a mulher que ela esperava.

Meus olhos viram de relance uma figura que eu não havia notado antes por estar mais afastada. Olhei na direção dela, reconheci os cabelos rosas que me fascinavam tanto, e a dona deles parada próximo à janela da sala.

Vi me encarava séria. Meu coração quase saltou pela boca. Lancei um olhar de confusão pra ela e um de decepção para o conselho.

Não entendi o que ela estava fazendo lá e não queria mais saber de nada que envolvesse esse conselho, eu teria que pensar em alguma outra coisa sozinha. Estavam cegos e suas cabeças eram fechadas demais para qualquer ideia que não envolvesse carnificina contra a subferia.

- Agora, se me dão licença. - Saí da sala de volta pra rua e soltei o ar que prendia.

Continuei meu turno, andando pela cidade, conversando com moradores e atenta a qualquer movimentação que pudesse indicar problemas.

O tempo passou rápido e já era hora de finalizar o expediente. Fui até o prédio da defensoria e uma pontada de dor me atingiu ao passar por uma sala vazia. Lembrei do xerife Marcus, que foi morto na ponte. Ele tinha feito escolhas erradas, se aliado com Silco e ameaçado atirar em mim, mas mesmo assim, me permiti lembrar as ultimas palavras dele: "Diz pra minha filha que eu ..." ele não conseguiu terminar mas eu sabia o que ele queria dizer. E eu diria assim que pudesse.

O velório dele e de outros defensores que perderam suas vidas no mesmo dia, foi realizado enquanto eu estava apagada no hospital, mas fiz uma nota mental de levar flores ao memorial assim que pudesse.

Assinei uns papéis e conversei com alguns colegas, todos estavam aflitos e com medo, mas agora mais do que nunca precisaríamos ser fortes.

Fui me arrastando pela rua, sem pressa alguma de chegar em casa. Olhava algumas poucas estrelas no céu e tentava não lembrar de Vi.

Subi as escadas até o meu apartamento e congelei assim que cheguei no corredor. Vi estava encostada na minha porta com as mãos nos bolsos da frente da calça e quando me viu deu um sorriso que me desconcertou.

- Você demorou, Cupcake. - eu já não fazia objeção alguma contra esse apelido.

- O que faz aqui, Vi? - minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria.

- Sei lá, eu só precisava te ver. - ela deu de ombros. Engoli em seco, eu também precisava, mas foi ela quem me mandou esquecê-la, qual era o sentido afinal?

Suspirei passando por ela.

- Vem, entra. - digitei a senha e a porta estralou. Seguimos em direção a sala e aproveitei pra perguntar.

- O que você estava fazendo na reunião do conselho, Vi?

- Jayce me chamou. Antes de tudo acontecer nós tínhamos ido até uma da fábricas do Silco. Jayce havia feito uma proposta pra ele, a Jinx em troca da independência da nação Zaun, você sabe. Agora tudo mudou, ele quer que eu supervisione a operação de desativação das fábricas e me torne uma espécie de espiã dele, pra reportar qualquer coisa suspeita que aconteça lá.

- Vi, você não pode fazer isso. - Falei sério olhando em seus olhos. - É perigoso. Depois eles vão começar a exigir cada vez mais coisas de você. Estaria disposta a prender sua irmã se eles mandassem? Ou ver ela sendo torturada e não poder fazer nada? Agora que Silco está morto, ela é considerada a única culpada de tudo. 

Vi trincou os dentes.
- Ele prometeu que a Jinx seria problema meu e só meu. Será que posso confiar nele? - ela me encarou com olhos suplicantes.

- Eu não sei mais. Algumas pessoas ficam cegas quando ganham mais poder. Eu pensava que conhecia o Jayce, mas parece que ele mudou - segurei a mão dela - se precisar de alguma coisa, sabia que pode contar comigo, a gente dá um jeito.

Ela sorriu pra mim e eu percebi que precisava dela mais do que gostaria de admitir.

Love is a battlefieldOnde histórias criam vida. Descubra agora