Antes que eu pudesse me odiar mais, antes que aquela merda de sensação me sufocasse, a porta do banheiro se abriu de novo.
Jinx entrou arrastando os pés e me fitou com um olhar frio.
- Eu vi a defensora sair daqui chorando. - ela disse entredentes como se tentasse controlar sua raiva.
Meu coração doeu. Eu não queria fazer Caitlyn chorar mas lá estava eu de novo, a destruindo. Também não queria discutir com Jinx por isso, eu estava cansada e com o psicológico abalado.
Eu estava encostada na parede ao lado da pia, Jinx passou por mim e se sentou no balcão de mármore em frente ao espelho.
Alguns minutos se passaram e o silêncio dela era tão incomum que por um momento achei que ela tivesse ido embora. Jinx não ficava quieta por muito tempo. Eu não queria encará-la, não queria que ela visse meus olhos vermelhos pelas lágrimas que insistiam em cair.
— Olha pra mim, Violet — ela disse autoritária.
Eu ainda me sentia tonta pelo álcool e ainda mais tonta por tudo que tinha acontecido entre mim e Caitlyn pouco tempo atrás. Demorei alguns segundos antes de racicionar o pedido de Jinx e erguer os olhos pra ela.
Eu esperava ver raiva e ódio estampados em seu rosto, mas sua expressão estava um pouco mais suave do que o normal, como se a dor no meu rosto estivesse quebrando algo dentro dela.
— Olha, eu não gosto nada dessa garota. Você sabe disso — ela disse, rodando uma das longas tranças como fazia quando estava tentando controlar o temperamento. — Mas ver você assim... acabada. Isso me destrói mais do que qualquer coisa. - ela pausou e respirou fundo. - Eu acho que, talvez, sei lá, eu possa retirar a minha condição.
Olhei para ela surpresa. Eu sabia que ela se importava comigo, que ela me amava do jeito dela mas ela soava tão verdadeira agora que as lágrimas caíram ainda mais descontroladas.
— Não adianta, Jinx — soltei o ar que eu nem sabia que estava prendendo. — Isso entre mim e ela... Não ia funcionar de qualquer forma. Não importa se você aceite ou não. Caitlyn e eu somos incompatíveis.
Ela franziu a testa, confusa, mas me deixou continuar.
— Ela tem tudo, Jinx. Ela trabalha na defensoria, é de uma das famílias mais ricas de Piltover e provavelmente vai se tornar xerife um dia.
E eu? Eu tenho o bar do nosso pai, o nome sujo nas ruas, e, bom... as mesmas pessoas que ela protege são as que mataram nossos pais.Senti a raiva crescer em mim enquanto falava mas não era só raiva. Era o sentimento de que nada, por mais que eu quisesse, jamais seria simples entre nós duas. Eu prendi a respiração, esperando Jinx começar com seu discurso habitual de ódio contra os defensores. Mas para minha surpresa ela não fez isso.
Em vez disso, ela passou apoiou uma das mãos na bochecha e soltou um suspiro triste. Um som raro vindo dela.
— Pufff, eu sei disso tudo melhor do que ninguém, te garanto... Mas eu não quero mais te ver assim. O que adianta fugir pra tentar manter alguma honra ou sei lá o quê, se você vai se afundar na merda por causa disso? Eu detesto ela e tô aqui te dizendo pra parar com essa frescura, mas você fica aí se lamentando e criando empecilho idiota e sendo uma covarde.
Eu soltei um risinho seco. Jinx sempre tinha um jeito torto de consolar, mas estava ali. Tentando.
— Ela pode te prender um dia, sabia? E de que lado eu ficaria nessa porra?
Jinx ficou em silêncio por um momento, o que me fez pensar que ela estava prestes a explodir e me chamar de idiota por estar preocupada com algo que ela julgava irrelevante. Ela sempre soube se cuidar sozinha. Mas ela só respirou fundo.
— Olha, Vi... você já tá me irritando. Eu não sou boa com conselhos. Mas sei que se tem uma coisa que a defensora sempre foi é justa. Ela sabe o que é certo. E eu... — ela hesitou antes de continuar — Eu sei me cuidar e eu prefiro te ver feliz com ela do que assim, destruindo sua vida. E é óbvio que se vocês ficarem juntas, ela jamais prenderia a cunhadinha dela, dãrrr.
Aquelas palavras vieram como um choque. Ela estava tentando me fazer mudar de ideia.
Olhei pra ela com os olhos arregalados mas ela só deu de ombros, como se não fosse grande coisa.
— Eu sei que sou uma merda de irmã, você sempre foi a melhor parte da gente, Vi. Se ela faz você feliz, então não fode. Vai atrás dela, faz sua parte.
O nó na minha apertou e eu engoli em seco sentindo o peso de tudo que Jinx acabava de dizer.
Pela primeira vez em muito tempo, minha irmã estava me dando a liberdade de fazer o que eu queria. Senti minhas pernas falharem por um momento.
A certeza que Caitlyn me pediu... talvez eu pudesse dar isso pra ela agora.
Não... eu ainda não sabia o que faria a seguir. O que escolheria. Será que era o certo? A verdade é que eu era a porra de uma idiota. Eu tinha medo, dúvidas.
Passei 7 anos da minha da minha vida sendo chamada de lixo na cadeia e acreditando nisso, achando que tinha perdido tudo. Muitas vezes sem me lembrar de quem eu era de verdade, sem um pingo de empatia ou amor de qualquer espécie. E eu tinha medo de não saber lidar com amar alguém nesse sentido romântico e de me deixar ser amada de volta.
Jinx estalou os dedos na minha frente, chamando minha atenção.
- Para com essa merda de pensar demais, Violet. Caramba, você é adulta, você tá viva e você gosta dela. Sabe, as vezes eu tenho vontade de socar sua cara, mas aí eu lembro que você já apanha demais nessas lutas idiotas e sem sentido que você arruma.
— Você vai mesmo me apoiar nisso? — perguntei, a voz trêmula. Ainda era difícil acreditar.
Jinx me olhou com aquele sorriso torto, o mesmo que ela dava antes de pular em cima de alguém em uma briga.
— Vou. Mas se vocês ficarem com essa porcaria de termina e volta, eu explodo uma bomba na casa dela e aí acaba esse drama todo. É sério.
Dei uma risada verdadeira desta vez e me inclinei para abraçar minha irmã. Ela ficou rígida no início, como sempre, mas depois relaxou um pouco.
— Obrigada, Jinx — sussurrei. Ela apenas acenou com a cabeça e murmurou algo que soou como "não vai fazer merda."
Ficamos assim por alguns segundos antes de Jinx se esquivar.
- Ekko trouxe um bolo. - grunhi em resposta mas ela me fuzilou com o olhar. - Nem vem, você vai voltar pra lá com a cara mais feliz do mundo e vai assoprar a porcaria da vela, beleza?
Revirei os olhos e sorri pra ela.
- Como quiser, irmãzinha. - dei uns tapinhas na cabeça dela que me mostrou o dedo do meio em resposta.
Meu coração quase saia pela boca.
Eu sentia um tipo de esperança como nunca senti antes.
Esperança na minha relação com Jinx. Esperança de que Caitlyn e eu pudéssemos dar certo.Esperança.
Era um sentimento tão bonito mas tão assustador. Vinha cheio de expectativas, de planos e sonhos... e expectativas podem ser quebradas tão facilmente. Planos dão errado o tempo todo e sonhos podem se tornar verdadeiros pesadelos em um piscar de olhos.Mas eu não iria me preocupar com isso agora. Eu precisava parar de criar monstros na minha cabeça. Precisava parar de sofrer pelas coisas que não aconteceram e talvez nem fossem. Precisava aceitar que eu podia ser diferente e também merecia coisas boas. Precisava focar no presente.
Agora eu só iria assoprar uma vela idiota e aproveitar o resto do meu aniversário com as pessoas que eu amava.
Embora faltasse uma ali.
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Love is a battlefield
Ciencia FicciónQuando Vi disse que as duas eram como "água e óleo", todas as esperanças de Caitlyn se foram. E por mais que Vi desejasse estar com ela, sabia que um abismo separava as duas. Seria possível achar uma forma de fazer isso dar certo, mesmo com a amea...