Sombras

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Jayce estava sentado em uma poltrona grande e reluzente na mais nova sede do Conselho, que foi erguida em outra parte da cidade com segurança reforçada. Seus olhos corriam por toda a extensão de um documento que segurava em sua mão. Ele soltou um suspiro cansado quando notou minha presença.

Fechei a porta atrás de mim em um gesto bruto demais. Não me importei, não tinha tempo para gentilezas.

O encarei erguendo uma sobrancelha.
- Achei que podia confiar em você. Eu realmente quis acreditar que você não tinha se perdido... Heimerdinger sabia disso, por isso você o tirou do conselho. Por isso ele foi tentar ajudar a subferia. Você se deixou levar pelo poder, está cego, Jayce.

- Cait, tudo isso foi necessário. Não podíamos mais viver assim. Não podemos mais viver assim. Nós quase morremos, sua mãe quase morreu, quantas vidas precisarão ser ceifadas pra que Piltover faça alguma coisa sobre isso?

- E você acha que quantas vidas foram perdidas na subferia, Jayce? Quantas crianças perderam seus pais, quantos pais enterraram seus filhos, sendo sempre oprimidos por rondas de defensores ordenadas por esse conselho? Porque eles podem morrer assim? Que direito vocês tem em tirar as vidas deles? Eles são pessoas também.

- Eu tenho que escolher o melhor pra Piltover. Tenho que prezar pela segurança do nosso povo. Com as nossas novas armas Hextec vamos ter mais segurança, vamos reerguer nosso nome como a cidade do progresso.

- E quanto sangue terá por trás desse nome, Jayce? Vocês fizeram um acordo com a cidade de Varyt, eles vão atacar a subferia com hextec pra omitir que foram vocês que ordenaram. Me diz que isso não é verdade.

Jayce deu um soco na sua mesa e se levantou.
- É necessário, Caitlyn.

- E você pretende o que? Entrar lá e atirar em cada um deles? Um exterminio em massa?

- Só vamos recuperar a nossa autoridade. Vamos assustá-los. Fazer com que saibam o seu lugar de novo e não que se sintam livres para subir aqui, roubar, vandalizar e atirar mísseis no conselho. Varyt vai atacar, e Piltover enviará defensores para proteger a população da subferia. Faremos com que eles sintam que nos importamos, que não somos cruéis, que não somos o inimigo.
Varyt vai se arriscar, é verdade, mas em troca, terão acesso ao nosso Hextec e poderão se defender de possíveis ataques futuros.

Quase cambaleei. Era tudo um teatro armado, eles queriam fingir que Piltover se importava. Queriam continuar no comando, oprimindo e crescendo enquanto os moradoras da subferia viveriam suas vidas se contentando com sobras e caos, crendo na mentira de que havia alguém prezando por eles.

- Eu não consigo expressar em palavras o tamanho do meu desprezo por tudo que saiu da sua boca agora... - olhei no fundo dos olhos dele. - E por você.

Dei as costas e deixei pra trás um Jayce que eu não conhecia mais.

Pov Vi

Eu precisava encontrá-la logo. Avisar sobre o possível ataque que teríamos em breve. Perguntar sobre a possibilidade de trégua em prol da sobrevivência da Subferia. Ela podia negar, é claro, Jinx era imprevisível.

Percorri a subferia de ponta a ponta, entrei em alguns estabelecimentos duvidosos e em construções abandonadas deterioradas pelo tempo. Não havia sinal dela.

Parei em uma viela escura, me escorando na parede para descansar e pensar. Ergui a cabeça respirando fundo e então, entre alguns tijolos estilhaçados do topo de uma construção, eu vi.

Sem dúvidas, era um desenho dela. Colorido, traços assimétricos, um coelho azul com olhos vermelhos e língua pra fora. Ele apontava para uma direção, ao leste da cidade. Será que era uma pista?

Corri por algumas ruas e vielas nessa mesma direção, olhando pra cima e procurando por mais algum sinal. E como eu havia suspeitado, lá estava mais um desenho, pequeno dessa vez, só quem estivesse muito atento perceberia.

Um pequeno "J" seguido de um raio azul, como aqueles que saiam de uma explosão hextec. Uma de suas pontas apontavam para a direita.

Fui seguindo a pista, analisando atentamente as diversas pixações que haviam por ali. A maioria eram só coisas sem sentido feitas por gangues da subferia, mas no canto de uma caixa d'água, no topo de um bordel  havia um "I", o pingo dele formava uma seta apontando para outra direção.

Mais a frente, em uma parede onde se viam varios panfletos de desaparecidos (a grande maioria presos ou mortos por defensores), um "N" rosa choque se destacava.

Eu sabia que Jinx não fazia as coisas em silêncio, ela deixava sua marca, era inteligente, deixava pistas mas não o suficiente pra que alguém que não a conhecesse a encontrasse.

Finalmente, após um longo período de caminhada entre as ruas inóspitas daquela parte da subferia, encontrei o "X".

Me aproximei para observar mais de perto, ele era bem menor do que as outras letras. Para minha infelicidade, cada ponta do X apontava para uma direção. Ela poderia estar em 4 lugares, ou talvez em nenhum.

As duas pontas de cima apontavam para construções altas e caindo aos pedaços, e as duas pontas debaixo para entradas subterrâneas escuras.

Segui minha intuição, optando pelo lado esquerdo. Me esgueirei por um vão apertado que levava à um buraco aberto no chão da rua, era impossível enxergar o que havia lá dentro e o silêncio era sepulcral. Eu não iria voltar atrás agora, não podia, então fechei os olhos, inclinei o corpo pra frente e saltei pra dentro da escuridão.

Cidade de Varyt
15:46 - Conselho central

- Senhor, recebemos o carregamento de Piltover. Já temos gemas hextec suficientes para iniciar a operação. As armas já estão preparadas.

- Vamos convocar somente os melhores e mais habilidosos homens. Não podemos ter brechas, nem hesitações. Entraremos para matar o máximo que conseguirmos.

- Mas senhor... O acordo não era somente dar um susto neles?

Uma risada alta carregada de cinismo ecoou pela sala ampla. Cabelos ruivos como fogo e olhos castanhos repletos de ira se destacavam no ambiente excessivamente claro.

- Você não conhece meu pai, Rud? Ele adora uma oportunidade de causar um pequeno show de horrores. É assim que Varyt faz o seu nome. Somos temidos, quase bárbaros, eu diria.
Piltover não se importará com o massacre daquelas pessoas, nunca se importaram. - ela deu de ombros. - No final das contas, teremos o hextec e uma divida eterna de Piltover conosco por termos os livrado daquela gente imunda da subferia.

O pai encarou a filha com olhos cheios de orgulho e sorriu.

Por outro lado, na subferia, olhos cor de rosa escondidos no escuro encaravam com curiosidade a figura feminina que adentrava pelo corredor de um de seus esconderijos.

Quando Jinx finalmente reconheceu quem estava ali, sentiu seu coração transbordar de ódio e ressentimento.
Seria tão fácil acabar com a vida dela ali, ninguém nunca a encontraria e se a encontrassem, teriam o mesmo destino.

Esse pensamento tirou um sorriso sincero de seus lábios, ela relaxou seu corpo, focando seus olhos em cada movimentação da mais velha, e como um predador observa a presa, ela  aguardou silenciosamente nas sombras.

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