Durante os anos em que passou afastada de Ivan, Hailee nunca tinha imaginado que algum dia poderia perdoá-lo ou ao menos lhe dar uma chance, pois para ela, chances estavam atreladas a esperanças. Algo que prometeu nunca mais ter em relação a outra pessoa. Hailee acreditava que quanto maior fosse a esperança, maior seria o desespero. E a ultima coisa que desejava era enlouquecer novamente, mas inesperadamente se viu tocada pela persistência e a suposta sinceridade de Ivan.
A sinceridade do homem que destruiu a sua vida.
É realmente irônico. Foi seu único pensamento ao encarar Ivan, o qual sorria abertamente enquanto segurava o seu filho. Após sua promessa de dar uma chance a ele, Ivan não fez qualquer movimento, mantendo uma distancia emocionalmente segura dela como se temesse que Hailee fugisse dele novamente. Ele agia de forma temerosa e em nada se assemelhava ao homem confiante de anos antes, a tornando um tanto confusa sobre o comportamento dele.
— As pessoas podem mudar tanto? — Murmurou dando de ombros antes de olhar para seu filho com sorriso gentil nos lábios. — Acho que isso não importa agora. Só preciso prestar atenção nele. — Se consolou ao avançar em direção ao filho que brincava no chão, escutando o programa na televisão. Tocou em seus cabelos macios suavemente apreciando a calma e o silencio. Em tais momentos, se indagava como seria sua vida se toda a tragédia não tivesse acontecido. Se Ivan não houvesse a usado ou se ela nunca descobrisse.
Eu acharia que seria amada para sempre. Foi a única resposta em que conseguiu pensar. E estranhamente quis voltar no tempo, para o momento em que havia descoberto tudo. Não adianta pensar no passado, tudo que resta é o futuro e o presente. Por mais que tentasse esconder seus sentimentos, ela sabia que quanto mais o afastava, mais persistente eram seus sentimentos por ele. E mesmo que se achasse fraca por tal comportamento ou até mesmo insana, se tornou difícil esquecer a primeira pessoa que amou sem reservas. Desde o inicio, Ivan havia sido um porto seguro, sua esperança, a única luz em um túnel escuro e silencioso. Ivan havia sido tudo o que ela tinha e quando perdeu percebeu que nada mais valia a pena. Hailee não precisava pensar seriamente para admitir seus próprios problemas como a carência afetiva, a necessidade extrema em ser amada e o desejo de ser aceita. E todos os seus problemas a levaram para o ponto da destruição. Ela sabia que mesmo sem Ivan, em algum momento, acabaria fazendo alguma loucura da qual se arrependeria.
Ivan foi apenas uma bomba acionada antes do tempo. Um acidente inevitável.
Sorriu após suspirar sentindo que algum peso havia saído de seus ombros.
— O melhor seria tentar ser feliz. — Murmurou com um suave sorriso no rosto.
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Ivan não sabia exatamente o motivo, mas Hailee havia mudado sutilmente. Não havia mais olhares confusos ou ressentidos em sua direção e ela parecia sorrir com mais frequência. Um Sorriso imerso em paz como se nada houvesse acontecido no passado. Como se toda sua dor, amargura e ressentimento tivessem desaparecido.
— Hailee, está tudo bem? — Ivan se viu perguntando quando estávamos a sós na sala após colocar Tim para dormir. Diante do olhar confusa da jovem, suspirou ao explicar. — Admito que fiquei feliz quando disse estar disposta a me dar uma chance, mas... você está estranha.
— Estranha como?
— Não há ressentimento ou raiva em seus olhos quando me olha. — Afirmou sem jeito. Ivan descobriu da pior forma que havia se acostumado a ser tratado de forma fria pela mulher que amava. — Não estou reclamando, mas... sempre sinto que posso acabar lhe perdendo novamente. — Suspirou ao desviar o olhar, sentindo-se entristecido. — Meu medo é que você desapareça e dessa vez não consiga encontra-la. No fundo, quando soube que estava aqui, me peguei dizendo a mim mesmo incontáveis vezes que subconscientemente era sua forma de dizer que ainda pensava em mim, afinal tinha comentado que queria fugir comigo para esse lugar. Durante os anos em que ficamos afastados, tinha esperança que por mais que me odiasse ainda guardava um pouco de amor. Um pouco do amor que compartilhamos. Eu era cego demais para perceber o quanto a machuquei e o quão tolo fui ao pensar que ficar afastado seria o melhor. Eu errei e nada do que eu faça poderá minimizar os meus erros, eu sei disso. E também sei que será extremamente difícil para você me perdoar. — Abaixou a cabeça, cerrando os punhos em cima de seu colo. — Mas eu realmente espero que um dia possa me perdoar. Não espero que você me entenda ou diminua suas dores se colocando em meu lugar. Me vingar não foi errado, mas usá-la foi imperdoável.
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A Besta [concluida]
RomanceUma besta sanguinária e doentia. Ivan H. Thompson não possuía princípios ou sanidade mental. Conhecido por todos como a besta, ele estava disposto a tudo para fazer com que todos pagassem pela morte de seus pais, vinte e três anos atrás. Nada mais...