Segunda Temporada: Brisa suave

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Ivan tentou manter um sorriso cordial no rosto assim que saiu do carro e deparou-se com Julio segurando quatro varas de pesca, acenando em sua direção. Quando finalmente chegou o dia da pesca, Hailee nem sequer demonstrou qualquer entusiasmo pela presença de Ivan, mantendo a atenção de Timothy na paisagem do lado de fora do carro durante todo o percurso. Era notório o esforço que ela fazia para que o filho deles não se envolvesse com Ivan.

Ela tem medo que eu o influencie ou está planejando fugir com ele. Ivan suspirou diante de seu pensamento sem conseguir obter qualquer argumento que a fizesse mudar de ideia. Ele sabia que tudo que poderia fazer era continuar se esforçando para que Hailee o perdoasse, afinal tinha se preparado para uma luta a longo prazo. Ele tinha se preparado para ser odiado ainda que desejasse ser amado novamente por ela. Amado pela única pessoa que o odiava.

Isso é pior que irônico. Lamentou-se ao ignorar o olhar de Hailee em direção a Julio, caminhou em direção ao homem e ainda que seus olhos estivessem em Hailee e em seu filho, percebeu o quanto Julio demonstrava interesse neles.

― Vamos pescar na margem ou em um barco? – Ivan perguntou tentando soar amigável assim que se aproximou deles, roubando rapidamente a atenção de Timothy, o qual sorriu para o seu pai ao vê-lo estender a mão em sua direção. No pequeno tempo de convivência, Timothy se apegou cada vez mais a ele. E como se tivesse sido atraído, o pequenino se aproximou de Ivan e estendeu os braços para ser carregado. Com o seu filho nos braços, Ivan manteve um sorriso vitorioso no rosto.

Julio olhou para tudo com curiosidade antes de responder que iriam pescar na margem fazendo com que Ivan assentisse ao caminhar na direção apontada pelo outro homem com o seu filho nos braços. Hailee permaneceu em silencio, observando-os, despertando assim que Julio a chamou.

― Ele parece ser uma boa pessoa – Julio comentou ao olhar para as costas de Ivan enquanto caminhava com Hailee.

― Bem, nem tudo o que parece é aquilo que acreditamos – Respondeu ao semicerrar os olhos com um sorriso triste. Sempre que olhava para Ivan era impossível não se recordar de todo o seu passado, da dor e da traição. Ainda que ela quisesse esquecer era difícil, praticamente impossível, pois a todo o momento em que fechava os olhos se recordava do desespero que sentiu antes de tentar se matar. Ela não queria se sentir daquela forma. Ela não queria ser fraca ao ponto de desistir de sua vida.

A impressão que tinha sempre que olhava para Ivan era simples: Acreditava que se continuasse com ele ao seu lado, em algum momento, acabaria tão destruída quanto da primeira vez.

Desta vez eu tenho o meu filho para proteger. Disse a si mesma ao parar perto da margem e apreciar a paisagem quase idílica. Sentiu a brisa refrescante contra o seu rosto, escutou o sorriso de seu filho e a voz de Ivan, fazendo-a olhar em sua direção. O homem que supostamente deveria se sentir desconfortável naquela situação era o mais natural.

Ivan sorria alegremente para Timothy, explicando paciente sobre os tipos de peixes existentes, a melhor forma de pescar, sem se importar com as intermináveis perguntas que se seguiam. Hailee nem sequer percebeu, mas em algum momento, se viu caminhando em direção a ele, parando logo atrás.

― Não sabia que pescava – Comentou ao olhar para o cabelo dele e em seguida desviar seu olhar.

― Logo após a morte dos meus pais fui enviado para uma cidade pequena – Falou como se tudo que tivesse acontecido fosse com outra pessoa. Em todo o seu discurso era possível perceber a ausência de emoção. – Os primeiros três anos após a morte dos meus pais fiquei emocionalmente instável. Não conseguia dormir por sempre sonhar com a morte deles, tive ansiedade, só consegui entrar em um carro sem chorar ou gritar dois anos depois. Posso dizer que cheguei ao meu pior momento, e por isso, me colocaram para pescar. A psicóloga disse que poderia me ajudar. A ideia dela era que eu saísse de casa e tivesse um tempo para me adaptar a minha nova realidade. – Deu de ombros – Funcionou. Pesquei durante alguns anos, todos os dias, durante quatro horas. Era o tempo necessário para que eu me sentisse calmo e pudesse dormir melhor.

Diante de cada revelação de Ivan, Hailee sentia as lagrimas em seus olhos. Ainda que tinha imaginado o sofrimento dele nunca tinha pensando seriamente sobre isso. Sua vontade era de abraça-lo para confortá-lo, mas se viu hesitando por temer dar esperança a ele. Entretanto, sem que se desse conta, lagrimas solitárias escaparam de seus olhos, rolando pelas suas bochechas.

Em sua mente, a imagem de uma criança solitária, sofrendo sozinha e chorando a noite a deixou tocada.

― Deve ter sido difícil – Hailee disse sem saber o que deveria falar. Ela queria se desculpar pelo erro de seu pai. Queria se desculpar pelo sofrimento que ele precisou passar, porém não fez.

Ainda que eu esteja sentida pelo seu sofrimento não irei consolá-lo. Decidiu ao desviar o olhar e encarar Julio, o qual se mantinha ocupado arrumando as varas de pesca. Ela sabia que não deveria falar mais nada e se afastar de Ivan. Ela sabia que deveria ir para o mais longe dele.

Ela sabia que Ivan não era uma boa pessoa, apesar de todo o seu sofrimento. Mas ainda que soubesse o quão errada estava e que iria se arrepender, suspirou antes de sentar-se ao lado dele e tocar em seu braço suavemente.

― Eu sei que deveria dizer "eu sinto muito" e me desculpar no lugar do meu pai, ou melhor, do homem que me criou, mas infelizmente não posso dizer isso – Hailee disse sincera ao ver Ivan a encarar – O que eu posso dizer é que lamento o sofrimento que uma criança teve que passar devido a ambição de um homem. – Respirou fundo ao manter seu olhar em suas mãos que estavam no braço dele – Mas ainda que tenha sofrido, isso não lhe dava o direito de destruir a vida de pessoas inocentes. Quantas foram? Você consegue se lembrar? – Indagou séria ao erguer o olhar e o encarar, deparando-se com os olhos entristecido dele – Eu.. – Se calou. A ultima coisa que desejava era consolar a pessoa que tinha a feito desesperada. Ainda que soubesse o quão egoísta estava sendo, Hailee não queria ser uma boa pessoa novamente.

Ela preferia continuar sendo egoísta se isso pudesse salvar Timothy de sofrer.

― Sim, consigo me lembrar – Ivan respondeu ao esboçar um sorriso triste em seus lábios – As pessoas que eu destruí durante a minha vingança não eram inocentes. Neste mundo, encontrar uma pessoa inocente, sem sangue nas mãos ou culpa por alguma ação ilegal é praticamente impossível, mas você foi a minha exceção. E eu realmente sinto muito por tudo. Eu sei que deveria ter agido de outra forma, mas naquele momento tudo o que tinha em minha mente era ódio. Acreditei que meu sofrimento deveria ser devolvido ao culpado dez vezes mais. Acreditei que os fins justificavam os meios, e foi por ter tal pensamento tolo que a perdi. – A olhou profundamente, colocando sua mão em cima da dela – Eu não posso apagar o passado ou voltar ao tempo em que nos conhecemos pela primeira vez. Tudo o que eu posso fazer é me arrepender durante o restante das nossas vidas e passar toda a minha vida tentando fazer com que você me perdoe e me ame.

Os lábios de Hailee se entreabriram como se desejasse falar algo, sem conseguir encontrar palavras. Seus olhos se mantiveram fixos um no outro, enquanto a brisa suave soprava contra seus corpos.

Continua...

Vou fazer o meu melhor para postar um cap por semana a partir de agora.. mil perdões pela demora e amo vcs..  

A Besta [concluida]Onde histórias criam vida. Descubra agora