Segunda Temporada: Apenas uma chance

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Para Ivan, morar com Hailee poderia ser caracterizado como um sonho que se tornou realidade após os anos em que se mantiveram afastados. Em seu intimo acreditava que poderia fazê-la se apaixonar por ele, mesmo que no fundo soubesse ser impossível. Ivan Thompson sabia que estava se comportando como um louco, perseguidor e irracional, mas Hailee era tudo o que tinha lhe restado.

Sem ela, Ivan não tinha a que se apegar em sua vida.

O olhar do empresário foi em direção a jovem sentada no sofá com as pernas cruzadas, assistindo concentrada um filme de terror, do qual nunca tinha ouvido falar. Engoliu em seco, imaginando como seria se ela se virasse e sorrisse para ele, mantendo sua expressão indecifrável antes de desviar o olhar. Os brinquedos de Timothy espalhados pelo chão fizeram com que um sorriso gentil surgisse em seu rosto.

Permaneceu próximo a porta, incerto em como se aproximar dela. A ultima coisa que desejava era incomodá-la, se dando conta do quão patético tinha se tornando.

Nem sequer tenho coragem para me aproximar. Levou a mão até seus cabelos, bagunçando-os antes de suspirar e avançar. Seus passos silenciosos não atraíram a atenção da jovem, a qual continuou com os olhos fixos na televisão. Ivan respirou fundo ao se aproximar, se sentar ao seu lado em silencio.

― O que foi? – Hailee perguntou após se assustar ao encará-lo. Ela não tinha percebido a aproximação dele, mas assim que o encarou ficou sem fala. O homem que sempre demonstrava uma expressão orgulhosa, mantinha a tristeza e desespero em sua face. Hailee sentiu vontade de questioná-lo, optando pelo silencio, cerrando os punhos e voltando sua atenção para a televisão.

Ela preferiu ignorar a compaixão que parecia querer emergir.

― Qual é o filme? – Ivan perguntou com a voz ligeiramente rouca.

― Annabelle. – Respondeu sem encará-lo, fingindo manter sua atenção no filme quando na verdade, nem sabia o que acontecia na televisão em sua frente. Desde o momento em que ele se sentou ao seu lado, se desconcentrou. – Estou sendo pior que uma adolescente. ­Pensou ao se lamentar internamente. Descruzou as pernas, prestar a se levantar, sentiu sua mão sendo agarrada. Virou-se e encarou Ivan sem expressão.

O ato dele tinha sido puramente impulsivo ao ver a jovem prestes a se afastar dele.

― Hailee, o que eu posso fazer para que me dê uma chance? – Ivan perguntou ao olhar em seus olhos. – Disse que iria tentar, e vou, mas preciso saber o que devo fazer. Posso continuar a minha vida toda ao seu lado, esperando uma chance sem sequer reclamar, mas para ser honesto não quero te ver indo embora ou se apaixonando por outro.

Suas palavras foram repletas de sinceridade deixando-a ligeiramente estupefata, pois não esperava escutar tais palavras.

O olhar dele era firme e repleto de medo. Hailee enxergou nele, pela primeira vez, o mesmo medo que sentia ao estar sozinha e afastada de sua família. O medo da solidão. A jovem estava prestes a afastar a mão dele antes de parar, desviou o olhar durante alguns segundos a fim de controlar suas próprias emoções até encará-lo novamente. Por mais que soubesse que deveria afastá-lo, hesitou.

Ao ver seu estado lamentável quis abraça-lo até se recordar de todo seu sofrimento, suas mentiras e a forma como ele tinha destruído a sua vida. Um sorriso amargo surgiu em seu rosto.

― Ivan, no momento em que você contratou alguém para me drogar perdeu qualquer chance. Naquele dia, realmente quis te matar, sabe como me senti? A ultima coisa que quero é continuar batendo na mesma tecla, insistindo que você foi o culpado por tudo, pois nem tudo foi sua culpa. O meu pai, ou melhor, o seu irmão foi o responsável pelo sofrimento de todos a nossa volta, mas nem por isso eu deveria sofrer, entende? Eu compreendo os motivos de sua vingança, sinto pela dor que passou e sua perda, mas não posso perdoar alguém que me machucou deliberadamente. Se eu lhe der uma chance, o que isso faria de mim?

― Quando perguntei se queria fugir comigo estava sendo sincero. – Confessou sem desviar os olhos. – Naquele momento, já tinha desistido de tudo se pudesse continuar com você. Eu posso desistir de tudo, se isso fizer com que confie em mim. O motivo pelas ações ainda estarem em seu nome é por querer lhe dar tudo que lhe é de direito. Posso transferir todas minhas propriedades para você.

― Está querendo me comprar com dinheiro?

― Não! – Negou rapidamente ao encará-la com horror. – Eu só quero que perceba meus verdadeiros sentimentos. Hailee, eu te amo. Te amei desse o primeiro momento em que meus olhos pousaram em você. Quando a tirei daquela festa em que seu pai queria que ficasse noivo de outro, sabia que nunca mais poderia me afastar de você. Meus sentimentos são verdadeiros. Eu fiquei longe durante anos para lhe dar chance de conquistar o que quisesse sem ter pressão pela minha presença. Nunca imaginei que pudesse estar gravida, se soubesse jamais a deixaria sozinha. Mesmo que fosse cravasse uma faca em meu coração escolheria ficar ao seu lado.

­­ ― Isso...

― Queria que você tivesse uma vida normal. - A interrompeu temendo o que poderia escutar. – Não quis que você ficasse remoendo tudo o que tinha acontecido ao fazer faculdade. Esperava que tivesse a chance de ter uma vida nova antes que eu retornasse para reconquistá-la. Pode ter sido um delírio ou insanidade que me fez fazer isso. Para ser honesto, esperava que o tempo pudesse ajuda-la a curar algumas feridas.

Hailee não sabia o que dizer. Suspirou ao erguer a cabeça e encarar o teto branco da casa. Ela esperava que as palavras dele tivesse a mesma ação do que uma folha caindo em um lago. Uma ação sem flutuações ou reação, entretanto ao escutá-lo, o sentimento que teve foi similar a uma pedra jogada no meio de um lago quieto. Houve algumas flutuações. Por mais que soubesse o quão implacável era o homem a sua frente, ouvi-lo falar com tamanha humildades, vergonha e tristeza a fez hesitar mais uma vez.

Seu coração foi comovido, ainda que tentasse negar e resistir.

― Ivan, eu não posso fazer isso. – Murmurou com fraqueza. – Não sei se consigo lhe perdoar, entende isso? – Ele assentiu. – Então o que espera de mim?

― Que você tenha uma família de verdade. – Ele sabia que estava sendo manipulador, já que Hailee sempre ansiou pelo calor familiar, mas naquele momento, a manipulação era tudo que tinha lhe restado para manter a mulher a sua frente ao seu lado. – Eu a amo e prometo sempre lhe amar, respeitar e te obedecer, então me dê uma chance para mostrar que pode ser feliz comigo.

Ela quis se negar instantaneamente, porém estancou. Ela nunca teve uma familia de verdade, já que seu pai a tratava com frieza e sua mãe passava mais tempo drogada com remédios. Desde pequena tinha sonhado em ter sua própria familia. Alguém que a amasse apesar de tudo e um filho que poderia depender dela.

Olhou para o homem a sua frente, mordendo seu lábio inferior.

― Não prometo, mas irei lhe dar uma chance. – Foi tudo o que ela disse antes de ser solta e se afastar dele. Ivan permaneceu sentado com um sorriso de alivio em seu rosto ao olhar para as costas dela se afastando cada vez mais.

― Uma chance é tudo o que preciso. – Sussurrou para si mesmo ao respirar aliviado. 

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Demorei um ano, mas voltei. Prometo tentar atualizar todo domingo.. okay? E a história vai ter 9 capítulos antes de ser finalizada.. Vamos terminar em fevereiro, no maximo.. Mil bjs


A Besta [concluida]Onde histórias criam vida. Descubra agora