A Besta [concluida]

Segunda Temporada: Persistência cega

Julio olhou para o casal sentado a beira do lago sem saber como deveria se sentir. Tinha escutado algumas conversas na cidade, onde afirmavam que Ivan era o marido de Hailee e que eles estavam juntos novamente, mas quando os olhava não conseguia enxerga-los como um casal. Para Julio, Hailee e Ivan era como um prisioneiro e um policial. Um tinha os olhos cheios de desespero, enquanto o outro mantinha uma atitude distante temendo se aproximar.

Respirou fundo ao colocar um suave sorriso no rosto, avançando até o casal, escutando as ultimas palavras de Ivan sobre fazer Hailee perdoá-lo e o amar.

Eles são realmente casados? Se perguntou ciente do olhar de Ivan assim que percebeu a sua presença.

― Esse lado é o melhor para pesca – Julio disse, sentando-se ao lado de Hailee, ignorando o olhar de Ivan. O silencio imperou até Timothy falar algo que tirou um sorriso da expressão séria de Ivan. – Ele é um menino muito inteligente. Deve estar orgulhosa – Comentou para Hailee, baixo para que apenas ela escutasse.

― Sim, Tim é a melhor coisa que me aconteceu – Respondeu ao olhar para o seu filho com carinho – E você pensa em ter filhos? Pamela me disse que os homens daqui são extremamente apegados a família.

― Gostamos de ter muitos filhos e manter a família unida – Sorriu – É raro encontrar algum morador, que nasceu e cresceu aqui, que não goste de criança ou que tenha desavenças com a família.

Hailee se limitou a assentir sentindo que aquela conversa poderia afetar Ivan, e mesmo que não o perdoasse, jamais iria machuca-lo deliberadamente após sua confissão sobre seu passado. Voltou sua atenção para o horizonte, hipnotizada pela calma do lago que logo desapareceu assim que Timothy lançou uma pedra. Uma pequena pedra foi suficiente para criar ondas que destruíram a imagem calma e bucólica.

Antes dele aparecer a minha vida era como esse lago. Calma e pacifica, mas bastou que Ivan surgisse em minha frente para que tudo se tornasse caótico. Se viu pensando ao olhar de soslaio para Ivan e em seguida retornar sua atenção para o horizonte. Hailee não queria perdoá-lo, e muito menos, acreditava que sua fala sobre o seu passado poderia isentá-lo de tudo que a fez passar, mas no fundo, sentia lastima pelo seu passado.

Lastima pelo sofrimento que ele precisou passar quando criança e o quanto isso tinha o afetado. Sem perceber, se pegou imaginando que tipo de pessoa Ivan Thompson poderia ser, se tivesse sido criado pelos seus pais, e que a vingança fosse inexistente em sua vida. Ele ainda seria uma pessoa má e egoísta? Indagou-se ao olhar para ele segurando Timothy com extremo carinho.

― Nunca vou descobrir – Sussurrou ao suspirar e finalmente segurar a sua vara de pesca. Aquele programa não tinha sido como imaginara. A jovem tinha imaginado que Ivan desistiria assim que chegassem ao local ou que simplesmente permaneceria dentro do carro, ignorando-os todo o tempo, e ao final todas suas conjecturas foram abaladas pelo estranho comportamento cordial dele. Talvez ele goste de agir da forma que não espero para me abalar. Riu de seu próprio pensamento ao pensar no quão paranoica estava se tornando aos poucos. Passou a língua pelos seus lábios, lentamente, tentando imaginar uma forma de afastar-se dele quando sentiu a mão de Julio no meio de suas costas. Prestes a se afastar dele, instintivamente, o viu sorrir ao indicar que tinha pegado um peixe. Atordoada começou a puxar a vara com força, sorrindo assim que avistou o peixe se debatendo no anzol. Aquela era a primeira vez que pescava.

­― Você foi ótima – Ivan elogiou aplaudindo sendo seguido por Timothy. Pai e filho olhavam para Hailee com carinho, devoção e felicidade.

― Mama é a melhô – Timothy falou ao se aproximar de Hailee e segurar em sua perna, olhando com curiosidade para o peixe – Porqle palou de se mexe? – Perguntou ao apontar para o peixe, atraindo sorrisos dos três adultos. Ivan se abaixou ao lado do filho e o explicou calmamente.