A Besta [concluida]

A Festa de Noivado de Hailee

Ivan se controlava para não gargalhar ao ver Hailee segurando a caneta ao ler o documento que Vinicius havia preparado no início de sua vingança. Um documento em que ela passaria suas ações para ele sem saber que também era mencionado – em letras miúdas – um banco onde Hugo depositava dinheiro em seu nome. Um dinheiro que deveria ter sido dele. Aproximou-se dela, colocando as mãos em seus ombros e sussurrando em seu ouvido.

— Não precisa se preocupar.

Hailee sentiu a sua hesitação desaparecer ao assinar o papel a sua frente, e em seguida colocou a sua mão em cima da mão de Ivan.

— Eu não sei o que faria sem você – Confessou – Se não fosse por você estaria aceitando o meu noivado com aquele homem e provavelmente acabaria com a minha vida antes que ele me tocasse – Sua confissão trouxe um gosto amargo ao homem que a abraçou, afetuosamente.

— Se permanecer ao meu lado eu a protegerei de todos, mas a mancharei com meu pecado. Ficará ao meu lado, Hailee?

— Para sempre – A firmeza em sua voz fez Ivan hesitar por alguns instantes até beijar o seu pescoço – Ivan.. Eu precisarei retornar para casa?

— Infelizmente, mas será por pouco tempo.

— E o que acontecerá na festa?

—Festa?

— Meu noivado – Disse calma como se para recordar ao homem atrás de si os problemas que possuíam – Meu pai ainda irá insistir nisso.

— Eu estarei ao seu lado – Prometeu vazio ao segurar em seus braços, fazendo-a levantar com gentileza da cadeira e a abraçar. – Sempre estarei ao seu lado.

Hailee fechou os olhos se deixando levar pelas caricias, pelos beijos e pelas doces palavras que Ivan lhe dizia. Ela acreditava nele.

***
No instante em que Hugo Harrison foi avisado da chegada de sua filha, um dia após fugir no restaurante, a sua raiva aumentou exponencialmente e por um capricho se viu indo até ela. Até o seu quarto, onde entrou sem bater, encontrando-a arrumando os cabelos em frente ao espelho.

— A filha prodiga resolveu voltar- O escarnio em sua voz sempre fazia Hailee querer retribuir, mas não daquela vez. Ela se sentiu feliz e nada iria mudar isso. – Onde esteve? Com algum homem se divertindo?

— Com uma amiga – Respondeu calma sem encarar o seu pai, porém logo sentiu as mãos dele segurarem com força o seu braço – A verdade. Eu quero a verdade.

— O que deseja escutar? Nunca se importou comigo e mesmo que eu apareça morta amanha continuará não se importando. A única coisa com que se preocupa é com seu dinheiro e com sua empresa, então não queira ser o tipo de pai responsável. Não tem mais tempo.

Hugo a soltou com raiva.

— Seu noivado acontecerá amanha – A notificou saindo do quarto em seguida.

***
O barulho de conversa, sorrisos e taças fez com que Hailee odiasse ainda mais o seu pai, o qual a olhava com atenção. A festa do seu noivado havia sido noticiado como uma surpresa romântica feita pelo seu noivo em comum acordo com o seu pai, porém todos sabiam a verdade. Ela havia sido vendida como uma mercadoria velha e danificada.

Suas mãos roçaram em seu vestido bufante estilo princesa que ia até seus pés. O corpete com decote em forma de coração encontrava-se repleto de pedrarias que reluziam com a luz do ambiente. A sua beleza era ressaltada pela cor rosa clara do vestido. Seus cabelos eram mantidos soltos, pois seu pai havia feito o possível para que ela soasse como uma princesa sendo resgatada pelo príncipe.

E ela se sentia enojada ao olhar para o homem que a comprara.

O homem a olhava como se avaliasse uma mercadoria, e como por um milagre seus olhos se encontraram com os de Ivan. Ele estava do outro lado do salão a olhando enquanto bebia champanhe.

— Apreciando a festa? – Tadeus perguntou ao passar a mão pela cintura de Hailee, trazendo-a para perto de si. Ele percebeu a relutância da jovem, mas a ignorou – Quando estivermos a sós não poderá fazer nada – Ele sussurrou em seu ouvido – Afinal vamos estar casados, deveria se comportar a partir de agora.

Hailee tentou sorrir, mas não conseguiu. Sua expressão refletia o horror que vinha em seu interior.

—Isso, seja uma boa menina – Continuou sussurrando, mordiscando a sua orelha em seguida. – Boas meninas sempre ganham recompensas.

Com toda a sua força, afastou Tadeus de si sem se importar com os olhares de alguns convidados.

— Vá para o inferno – Disse séria ao tentar se afastar dele, sem sucesso, pois ele logo segurou em seu braço, forçando-a a encará-lo – O que é? Deseja um escândalo?

— Alguém que foi vendida pelo próprio pai não deveria se comportar assim. Deseja que todos conheçam a verdade? – Tadeus sorriu diante da expressão apática dela – Isso mesmo agora me beije.

A jovem empalideceu. Seu estomago embrulhou no mesmo instante e somente olhar para os lábios dele a fez sentir enjoo.

—Não farei isso – Retrucou assustada – Não o beijarei.

— Então eu farei isso – Tadeus sorriu ainda mais ao aproximar o seu rosto e colar os seus lábios nos de Hailee. Ele sentiu a sua resistência, seus lábios contraídos e o seu corpo endurecer. Sentir a resistência dela apenas aumentava o prazer de Tadeus. – Em nossa lua de mel será divertido – Disse ao afastar os seus lábios dos lábios de Hailee, e a viu empalidecer – Não pensou que eu fosse querer isso? Gosto de usufruir das coisas.

A vontade de Hailee consistia em bater no homem a sua frente e sair correndo, mas não conseguia forças para isso. Enfim a verdade aparecera para si. Ela estava perdida se Ivan não a ajudasse, e como se pudesse escutar a sua prece, Ivan parou em sua frente.

Hailee não conseguiu tirar os olhos do homem que a encarava com notória raiva.

— Deseja que eu a salve? – Ivan perguntou tentando controlar a raiva que sentiu ao ver a jovem sendo beijada pelo homem a sua frente. Ivan sabia que se o homem falasse algo, poderia começar uma briga facilmente, e se divertiria em arruinar o rosto dele.

—Me salve – Pediu com os olhos marejados.

— Pedido aceito – E como um príncipe andou em sua direção, retirou a mão de Tadeus do braço de Hailee, e a ergueu em seus braços. Os murmúrios foram substituídos por flashs, gritos de surpresa foram escutados no instante em que Ivan cruzava o salão da residência dos Harrison com a jovem herdeira em seus braços. Ele estava a raptando.

— Meu pai agora já sabe – Hailee falou orgulhosa ao segurar-se nele, aconchegando-se ao homem que amava.

— Ficará comigo a partir de agora – Sentenciou surpreso consigo mesmo ao passar pela porta. O caminho que fizera até chegar ao seu corpo serviu para Ivan percebeu duas coisas que foram aterrorizantes: A primeira era que Hailee havia o conquistado e a segunda era que seus planos poderiam ruir se ele deixasse que a pequena chama permanecesse acessa em seu coração.

Não posso sentir nada por ela. Hailee Harrison é apenas alguém que me ajudará a conseguir o meu dinheiro de volta. Ela não é nada.

Nada.

Disse a si mesmo incontáveis vezes.

***
Hugo sorriu ao levar o champanhe aos lábios. A cena de Ivan carregando a sua filha lhe deixou apenas com uma vontade incontrolável. A de destruir o homem que atrapalhava os seus planos.

Irei lhe destruir Ivan Thompson e me aproveitarei para acabar com Hailee.

O que mais Hugo desprezava na vida era Hailee, sua filha, e isso todo o mundo logo descobriria.

CONTINUA...