Em sua vida, Hailee jamais quis ser vista como uma pessoa dramática ou rancorosa, mas sempre que seus olhos pousavam em Ivan, sua única atitude era testá-lo continuamente. Testar para ter certeza que ele continuava o mesmo. Testar para nunca mais sair machucada. Mas, infelizmente, as palavras e ações dele começaram a torna-la hesitante. Hesitante de persistir em seu ódio. Hesitante em odiar Ivan tão diretamente.
Os olhos dela pousaram no homem sentado no sofá enquanto segurava o seu filho. Ele sorria suavemente, escutando sua narração animada sobre o que havia feito no colégio. E seus olhos brilhavam intensamente, deixando Hailee inquieta ao pensar em separá-los. Ela não desejava ficar com Ivan somente pelo seu filho, mas ao pensar em se afastar dele decisivamente, se via inquieta e incerta.
É possível que ainda goste dele? Gostar de alguém que me machucou tanto? Se questionou ao suspirar. Meneou a cabeça antes de desviar o olhar até escutar o seu nome. Voltou sua atenção para Ivan, encontrando o seu sorriso mais deslumbrante e sincero.
— Gostaria de jantar fora? — A pergunta simples dele a deixou desnorteada e se viu assentindo sem ao menos perceber.
Ela não sabia exatamente o que deveria sentir diante das expectativas refletidas no olhar dele, resignando-se ao seu próprio destino, se arrumou e assim que saiu do quarto avistou Ivan arrumado a esperando.
— Onde está Tim? — Questionou confusa, olhando ao redor.
— Chamei uma babá. Ela está cuidando dele no quarto. — Assim que viu a expressão inquieta dela, sorriu. — Há uma câmera e tenho acesso a tudo pelo celular. Ela é de confiança. Não se preocupe.
Mantendo seus olhos fixos nela, Ivan caminhou em sua direção lentamente. O som de seu sapato de couro contra o piso ecoou deixando Hailee ansiosa sem conseguir desviar o olhar. A sensação de estar encarada como uma presa pelo lobo faminto a fez engolir em seco até vê-lo estender a mão em sua direção. Ela não sabia o motivo, mas sentia que se segurasse dificilmente conseguiria soltá-la novamente. Inquieta, manteve seus olhos na mão dele e em seguida suspirou.
— Ivan, se estivesse no meu lugar ainda assim perdoaria a pessoa que o machucou? — Perguntou com extrema seriedade. Não havia outra emoção além da indiferença. Ela não parecia mais a jovem perdida ou temerosa em frente do seu algoz. — Se você fosse eu, perdoaria a pessoa que havia lhe feito amar e que depois destruiu suas esperanças na vida?
Sua pergunta não foi feita com qualquer malicia ou vontade de ataca-lo de alguma forma, pelo contrario, a jovem pretendia forçar Ivan a enxergar o seu ponto de vista e, se mesmo assim, insistisse, talvez ela realmente tentasse dar uma segunda chance.
Ivan não respondeu durante alguns instantes permanecendo em silencio, a olhando com seriedade antes de sua voz atrair a atenção dela.
— Hailee, se eu fosse você tentaria matar a pessoa. — Revelou com sinceridade. — Da mesma forma que você fez quando descobriu tudo. Mas, honestamente, acabaria arrependido assim como aconteceu quando minha vingança acabou. Demorei para descobrir a importância de valorizar a pessoa que eu amo e o quanto a vingança é desnecessária. Não estou pedindo para que me perdoe ou esqueça os meus erros, mas que me dê uma oportunidade para amá-la corretamente e lhe dar uma família que você nunca teve. É somente isso que eu peço.
Sem que percebesse, os olhos dela se avermelharam ao escutar a frase sobre família, pois desde o momento em que encontrou Ivan era isso que havia ansiado com tanto desespero. Crescer com pais que não lhe davam atenção e a tratavam com indiferença fez com que seu maior sonho fosse ser amada e, por isso, nem mesmo considerou as estranhas atitudes de Ivan quando o encontrou, já que aos seus olhos, o sonho estava prestes a ser realizado.
— Eu não quero sofrer novamente e nem machucar Tim. — Hailee confessou com a voz ligeiramente baixa como se temesse que ele a escutasse.
Ivan ergueu seus braços, envolvendo o seu corpo, depositou a cabeça dela em seu peito e acariciou seus cabelos com suavidade.
— Eu prometo que nunca mais irei machuca-la. Protegerei você e o nosso filho. Confie em mim, mais uma vez, por favor. — Implorou, segurando-a com força.
Lentamente, as mãos dela se ergueram, segurando a camisa dele com força. Silenciosamente, permaneceram daquela forma.
Hailee não queria dar uma resposta, enquanto Ivan estava preparado para esperar. Mas naquele confortável silencio, o som de suas respirações deu a sensação de estarem em sincronia.
— Nunca mais irei machuca-la. — Ivan repetiu em um sussurro como um lembrete.
Quando Hailee se afastou dele, pigarreou, constrangida pelo seu comportamento repentino e exagerado.
— É melhor irmos. — Ivan assentiu com um ligeiro sorriso. Andaram um ao lado do outro em silencio e todo o percurso feito até o restaurante foi preenchido pela musica suave escolhida por Ivan. A mesa escolhida era ao lado da sacada dando uma visão privilegiada da lua cheia. Os casais presentes possuíam uma atmosfera cálida. — Gostaria de beber vinho? — Perguntou assim que sentou em frente a Hailee. E ao ver a resposta afirmativa dela, escolheu o vinho com o sabor mais suave da carta de vinhos. Após fazerem o pedido, se encaram incertos sobre o que deveria falar.
Hailee levou a taça aos lábios, sentindo o gosto suave e levemente frutado antes de seu rosto avermelhar pela bebida.
— Foi uma ótima escolha. — Ela elogiou, encarando o belo homem a sua frente. As memorias dos momentos felizes entre eles surgiu fazendo-a suspirar. — Eu... não o odeio como antes. — Confessou vendo a expressão atordoada dele. — Só quis dizer, o passado acabou. Você me machucou e eu atirei em você, acho que deve ser justo, certo? — Sorriu sem jeito ao vê-lo concordar com rapidez. — Tudo o que eu sempre quis foi uma família e quando o conheci esperava ter isso. Eu fui errada por confiar cegamente em alguém que não conhecia e mais ainda por me afundar no desespero. Por mais que você tenha colocado um garoto para me incentivar a me drogar, fui a única que aceitou isso. No final, nós dois erramos. Não posso continuar te culpando pelos meus erros e também não quero persistir em um sentimento tão... ruim como culpa.
Após alguns instantes em silencio, Ivan falou com a voz ligeiramente tremula.
— Isso... Significa que você esta disposta a me dar uma chance?
Um silencio sufocante tomou conta do casal até as palavras de Hailee o deixarem ainda mais perplexos.
— Se você estiver disposto a realmente nunca mais me machucar ou mentir, sim. Posso lhe dar uma segunda chance.
CONTINUA..
Surpresos pela minha rapidez? pq eu tb estou hahaha Espero que tenham gostado do cap e a história finalmente esta acabando.. talvez o proximo seja o ultimo capitulo
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A Besta [concluida]
RomanceUma besta sanguinária e doentia. Ivan H. Thompson não possuía princípios ou sanidade mental. Conhecido por todos como a besta, ele estava disposto a tudo para fazer com que todos pagassem pela morte de seus pais, vinte e três anos atrás. Nada mais...