Os momentos que você deixou para trás

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Uma característica forte da família Costa é a união, eles não são o tipo de família que se separou com o casamento das filhas e só se vêem no Natal, eles fazem mais o tipo dos que suportam as dores um do outro e fazem do problema de um, o problema de todos. E eles tinham seu ponto de união, a cola da família já não estava mais entre eles.

Quando a gravidez inesperada do caçula da família veio, dona Sílvia não deixou a peteca cair e incluiu as filhas em todas as etapas, não deixou a filha de quinze anos se distanciar do bebê que chegaria, nem deixou a filha de dez sentir ciúmes do irmãozinho mais novo. Às vésperas do parto, reuniu suas duas branquelas e deixou bem claro que o Tales não era só seu, era delas também. Responsabilidade delas. E foi essa missão que as duas abraçaram.

Marcela saiu de casa aos vinte anos para estudar no Estados Unidos e isso não a afastou da infância do irmão de cinco anos, só aproximou; ela batalhou muito para crescer e poder patrocinar os estudos do Tales, preferiu ficar no Brasil mesmo tendo ótimas oportunidades no exterior para não perder o crescimento do seu irmãozinho. E assim foi com Pamela, tudo o que fazia era pensando em seu irmão primeiro, gastou seu primeiro salário com uma bicicleta para ele.

Tales crescia e todos orbitavam ao seu redor, não foram poucas as vezes que a família se reunia sem ele para discutir sua criação e seu futuro. Nem o nascimento do primeiro neto roubou o brilho do caçulinha entrando para a faculdade, Pamela estava no puerpério quando deu trezentos reais para o irmão comprar seu primeiro vade mecum, nada poderia roubar o favoritismo do Taleco.

Depois que a dor mais intensa passou e cada um teve que voltar para sua vida normal, ficou difícil de se reunir, Marcela percebeu isso e quis concertar. Conversou com a irmã sobre o aniversário do Bento e resolveram que era hora de voltar para a casa de praia, foi uma luta para convencer cada membro daquela família a viajar, inclusive a Ana Clara. A pobre moça nunca foi incluída em nada da família, começou a namorar com Tales num momento em que ele queria distância dos parentes para evitar confrontos, discussões com Pamela e conversas indesejáveis. Ela passou o último Natal na casa da sogra, Pamela não estava; foi em um aniversário de Bento que Tales sequer compareceu e esteve em um ou dois churrascos.

A casa de praia na região dos lagos era de Marcela e virou ambiente sagrado para os Costa, era injusto chamarem todo mundo e deixarem para trás Ana Clara com um pequeno Costa na barriga como se não fosse parente deles. A primogênita convidou primeiro, depois Pamela fez Bento reforçar o convite e Otávio foi o responsável por convencê-la a ir. A garota é tímida, não é muito próxima das irmãs do namorado, temia ficar reclusa e sem assunto durante todo o feriado prolongado, mas sabia que o padrinho do seu filho é homem de palavra e ele prometeu que não a deixaria sozinha e deslocada em nenhum momento.

— A sua mãe não vai? — perguntou à caminho do passeio.

Era cedo demais, todos combinaram de sair da capital assim que o sol nascesse e isso não era uma coisa boa para uma grávida sonolenta, Clara dormiu boa parte do caminho e só acordou a tempo de admirar a área verde ao longo da rodovia. Abriu as janelas deixando o ar puro entrar bagunçando seus cabelos loiro escuros.

— Ela está a caminho com o namorado dela. — fez uma careta para responder — Dormiu fora e foi direto com ele.

Clara ergueu a sobrancelha admirada.

— Você já o conheceu? — questionou.

— Não.

— Temos um filho ciumento por aqui? — riu.

— Sendo filho da minha mãe, se eu fosse ciumento, já teria morrido de nervoso. — murmurou revezando o olhar entre ela e a pista — Minha mãe namora muito, uma média de dois caras por ano desde que eu sou criança.

O que você deixou para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora