O primeiro Natal que você deixou para trás

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Otávio procurou chegar cedo para não atrasar Ana e porque sabia que ela já deveria estar surtando. Seria a primeira vez que ficaria distante de Tales por mais de uma hora, Ana Clara não parava de falar disso, sabia que a loira estaria explodindo de tensão. Quando chegou, a encontrou transitando pela sala de jeans, sutiã e aquela cinta pós-parto que não tirava nunca, tinha um bebê grudado em seu peito enquanto a moça colocava canetas e cadernos dentro da bolsa.

— Tudo sob controle? — perguntou fechando a porta atrás de si.

— Ah, você chegou! — ela exclamou com um sorriso no rosto — Eu só estou abastecendo a barriguinha desse garoto para ele não sentir minha falta.

— Está preparada para a prova? — questionou, fechando o zíper da bolsa dela ao vê-la com dificuldade de fazer isso com uma mão.

— Bom, eu estudei bastante. — deu de ombros — Estou preocupada com o Tales, ele vai chorar, tenho certeza.

— O cheirinho de mamãe pode ser uma delícia, mas ele também ama o colo do padrinho dele, não precisa se preocupar — garantiu.

Ana Clara virou de costas ao sentir a boquinha do filho abandonar seu seio, passou uma fraldinha na boca dele e em seu peito e o cobriu com o sutiã.

— Segura para eu terminar de me arrumar — entregou o bebê gigante ao padrinho e voltou para o corredor.

Otávio pegou o menino nos braços com um sorriso besta no rosto, beijou sua bochecha e deu um cheiro no pescocinho macio.

— Oi, amor do dindo! — falou percebendo a cabeça do menino se mexendo ao percebê-lo — Hoje é noite dos garotos! Vamos nos divertir sem a mamãe fazendo coisas que só os meninos fazem. Vamos vestir aquela sua camisa do Fluzão antes que ela fique pequena em você e vamos assistir nosso primeiro Fla x Flu juntos - disse animado.

O bebê o encarava com um olhar sério e penetrante, logo uma bolha de leite surgiu em sua boca e se derramou por toda a roupa do menino.

— Ah cara, você estava tão cheirosinho! — lamentou — Pelo menos não me sujou.

Ana Clara pegou Otávio passando lenço umedecido no pescoço do menino e desfazendo sua roupinha. Os olhos amarelos do seu gorduchinho favorito pairaram sobre ela, as mãozinhas se mexeram e ele soltou alguns resmungos ao ter suas dobrinhas esfregadas com lenço umedecido, o coração apertou e Clara quis ficar. Não parecia certo partir por mais que fosse por apenas algumas horas, ele ainda é muito novinho para ficar sem a mãe.

— Eu falo com a coordenação do curso, é melhor eu ficar — ela suspirou.

— Negativo! — Otávio exclamou — Hoje é noite dos garotos, eu esperei a gestação inteira para assistir um jogo do Fluminense com ele. Vai fazer sua prova e sai daqui, nem pense em tocar no meu garoto! — bronqueou.

Ana Clara fez biquinho ao ver seu menino tão quietinho nas mãos do padrinho, esperava que ele permanecesse assim até a volta. Com sorte, Otávio nem assistiria aquele jogo com o menino, a única coisa que Tales faz quando não está com fome é dormir. Curvou-se sobre o bebê e deu um beijinho na cabecinha dele.

— Mamãe já volta, sim? — ela indagou e se voltou para o homem com aquela camisa minúscula do Fluminense em mãos — Eu acho que vai ficar apertado nele — apontou.

— O que tem nesse leite que está o fazendo engordar tanto?! — Otávio exclamou revoltado — Tem roupa que ele nem chegou a usar e não cabe mais. É só o primeiro mês dele!

— Dona Sílvia me avisou que os bebês da família dela são grandes, essa genética não é minha, eu só coloquei o garoto no mundo. — deu de ombros — Eu vou lá. — anunciou com um olhar de quem queria ficar — Prometo ser rápida.

O que você deixou para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora