O lugar vago que você deixou para trás

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Na noite do beijo, depois que Ana Clara desfez o penteado, tirou a maquiagem, trocou o vestido bonito por um pijama confortável e deu um beijo no seu bebê dorminhoco, ela teve um sonho. De todos os sonhos que já teve, o mais macabro. Também o mais maravilhoso. Sentiu-se culpada, mas também desejou que aquela realidade existisse.

Estava na cozinha de seu apartamento, sentia o abraço familiar ao seu redor enquanto cozinhava, era assim que costumavam ser seus finais de semana quando namorava. O queixo de Tales se apoiou no topo da cabeça da loira, ele balançava seu corpo 'pra lá e 'pra cá enquanto ela tentava se concentrar na panela com água borbulhando.

– Para, Tales! – ela reclamava como sempre fazia em momentos como aquele.

Se pudesse voltar no tempo, nunca pediria para parar. Deixaria que continuasse, que dançasse, que beijasse à vontade seu pescoço como estava fazendo naquele momento. O arrepio era inevitável. O cheiro dele estava ali. Era real.

– Eu amo você, minha princesa – ele dizia em seu ouvido.

Dava um alívio ouvir aquela voz grave de novo. O sorriso no rosto dela era enorme.

– Vão queimar a comida.

A voz de Otávio era mais suave, gentil, calma. Sua presença naquela cena a assustou, ela virou-se para trás afastando Tales de seu campo de visão.

O moreno correu para desligar o fogão, já fez aquilo outras vezes enquanto ela amamentava, era uma cena familiar em sua mente.

– Sempre o responsável – Tales revirou os olhos sem tirar as mãos da namorada.

Ana Clara sentia-se pálida, sabia que estava em pânico, porém nenhum dos dois direcionava algum olhar a ela. Sentia-se uma traidora, contudo não sabia exatamente qual dos dois estava traindo naquele cenário. Sua cabeça rodava, sua confusão natural parecia multiplicada por mil.

– Quer comer batata queimada, porra!? – Otávio indagou.

Otávio não fala daquele jeito normalmente, aquele era o jeito que se lembrava do advogado falar com o amigo. Em algum lugar distante de sua memória, quando o moreno era só o amigo do seu namorado, aquela cena já foi vista antes.

– Relaxa, Tavinho! – Tales pediu.

Os dois começaram a se estapear do nada, ela já viu algo parecido no aniversário de Tales. Era pura zoação, um agarrava a camisa do outro, puxava o cabelo, davam tapas nos braços, puxavam as orelhas e suas bocas cheias de gargalhadas. Tales se aproveitou do fato de ser um pouco maior e segurou o rosto do amigo para estalar um beijo em seu rosto. Ela sorriu. Deu uma saudade do seu namorado brincalhão.

Os olhos escuros do moreno caíram sobre ela e a loira tensionou o corpo, agarrou a pia atrás de si sentindo aquele nervosismo familiar de quando estava perto dele. Olhou para Tales com vergonha. Aquele era seu grande amor, seu amor épico que jurou que duraria a vida toda, todavia Otávio... Ah, Otávio!

Quando viu, ele já estava perto, com a mão sobre seu rosto, fitando seus olhos. Ana Clara tentou se esquivar para olhar Tales, no entanto o corpo masculino a pressionou contra a pia.

– Olha para mim – pediu de forma tão intensa que a deixou hipnotizada por breves instantes e aquele beijo se repetiu.

Estava fresco em sua memória. O toque dos lábios, a mão em seu rosto, o sabor da boca, o perfume a envolvendo. Tudo se repetiu, se prolongou, como um alento para quem queria ter dado mais de um beijo naquela noite.

Quando se separaram, sentiu outro toque em sua cintura. O toque dele. Olhou para o lado e lá estavam os olhos de chocolate que tanto faziam falta, o sorriso metálico iluminado pela luz do sol. Aliás, aquele sonho era todo muito iluminado, dourado como sua vida não era há muito tempo. Tales beijou sua bochecha e rastejou o nariz por seu rosto como sempre foi hábito dele fazer, Otávio beijou-lhe o outro lado do rosto, ambos os garotos espalharam seus beijos pelo pescoço dela e os pontos em que lhe provocavam cócegas. Ela riu com gosto.

O que você deixou para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora