Eram mais de dez da noite e Otávio estava na sala de espera daquele hospital, não conseguia ficar sentado, andava de um lado para o outro, abria e fechava as mãos o tempo inteiro para controlar a ansiedade. A cada enfermeira que saía da porta principal, seu rosto virava na expectativa de ter alguma notícia de Ana Clara.
Não havia nada exatamente grave acontecendo, Ana escorregou no banho e levou um tombo. Caiu sentada, ficou com um pouco de dor nas costas, mas deu para ir à faculdade. Começou a se desconcentrar na aula conforme foi sentindo uma dor parecida com cólica, foi ao banheiro e viu que estava sangrando um pouco, ficou nervosa e ligou para sua irmã. Ana Luísa ficou mais nervosa ainda e ligou para Otávio, e agora as duas estavam sendo atendidas na emergência.
Antes que Otávio fizesse um buraco no chão, as duas saíram da porta da emergência, Ana Clara parecia bem. Pegou-a pela mão imediatamente e a guiou até uma das cadeiras da sala de espera.
— O que aconteceu? — perguntou à Luísa como se Ana Clara fosse uma inválida.
— Foi só um susto, — ela suspirou — o médico falou que está tudo bem, só falou para ela repousar por um tempo e tomar cuidado com essas quedas.
— Você disse que ainda sente tonturas? — questionou à loira.
— Disse. Ele falou que não ia me passar nenhum remédio, disse para eu falar com o meu obstetra — respondeu.
— Ah, pronto! — bufou revirando os olhos.
— Fizeram uma ultra em mim, o bebê está bem, está tudo no lugar, foi só o susto mesmo — disse para tentar acalmá-lo.
— Isso é culpa sua! — apontou — Você sabe que tem tonturas, que não pode cair e toma banho descalça, não tem um tapete anti-aderente e ainda foi para a faculdade depois de cair ao invés de ficar em casa.
— Eu não posso ficar perdendo aula — argumentou.
— E pode perder seu bebê? — retrucou.
Ana Clara abriu a boca e não respondeu, seus lábios tremeram antes que falasse qualquer coisa, os olhos cor de ouro completamente decepcionados com ele foram de cortar o coração. Caiu em si ao ver o biquinho em seus lábios e passou a mão pelo rosto.
— Desculpa, eu estou nervoso. Vamos para casa.
Otávio foi cozinhar assim que soube que Ana Clara ainda não tinha jantado, Ana Luísa percebeu que ele ainda se encontrava nervoso conforme picava algumas batatas, reclamou da pouca variedade de legumes na geladeira e disse que faria uma boa feira para ela na esperança de que seu afilhado não nascesse sem vitaminas no corpo. O cuidado era tanto que a irmã mais velha se sentiu à vontade para ir embora, o advogado levou o prato de ensopado para o quarto só para que Clara não precisasse se levantar, ajeitou uns panos de prato sobre a cama de forma que a comida não sujasse o colchão.
— Você não vai me tratar como uma doente — murmurou pegando o prato de comida em suas mãos.
— Perdão por ter falado daquele jeito com você — pediu se sentando ao lado dela na cama de casal.
— Você me assusta quando fica nervoso, é sempre tão gentil... — murmurou dando a primeira garfada nas batatas.
— Eu sinto muito, eu fiquei desesperado só de pensar na possibilidade de você perder o garoto — justificou.
— Não fala isso. — ela virou o rosto na direção dele em tom de repreensão — Eu não vou perder mais ninguém, Deus sabe que eu não suportaria. — voltou a encarar seu prato — Falta tão pouco, estou na metade do caminho, logo ele vai estar aqui chorando por colo.
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O que você deixou para trás
RomanceTales passou a vida buscando aventuras e liberdade sem parar para perceber todas as coisas boas que o cercavam. Otávio passou a vida arrumando tudo o que o melhor amigo bagunçava e, com a morte dele, não foi diferente. Mesmo vivendo a maior dor da s...