Ana Clara coçou os olhos assim que a luz do celular brilhou forte contra seu rosto no meio da escuridão do quarto, ainda não era tão tarde, mas o cansaço a obrigou a dormir cedo. A barra de notificações indicava uma mensagem da dona Amália deixada quarenta minutos atrás, ela prontamente respondeu que sim, Otávio estava consigo e pediu perdão por não ter avisado antes.
A mulher só enviou a mensagem para se certificar, aquilo já estava se tornando mais que corriqueiro.
Ana Clara passou a mão sobre os cabelos desordenados e pôs-se a ir na direção do quartinho do filho. Parou na entrada assim que percebeu que sua presença era completamente dispensável, Talequinho era ninado no colo do padrinho no escuro, apenas a luz do corredor os iluminava.
Tavinho a encarou pedindo o máximo de silêncio possível, pois já estava quase conseguindo fazê-lo adormecer completamente. A mãozinha minúscula ainda estava bem espalmada sobre o peito descoberto do moreno, o que indicava que o menino acordaria assim que deitasse no berço, era necessário um pouco mais de paciência.
A cena era linda, todas as tatuagens do advogado estavam expostas, fazia calor e ele não usava camisa. O advogado lhe deu as costas e Ana Clara perdeu algum tempo encarando a tatuagem do leão, gostava dos traços do desenho.
Tales estava muito crescido, seus pés ficavam para fora do torso do padrinho, Otávio acarinhava os cabelos loiros que o distanciava do bebê careca que ele era meses atrás. Como numa dança, o moreno pisava um passo à frente e um passo atrás criando um balanço hipnótico para o afilhado.
— Não quer me dar...? — ela sussurrou oferecendo os próprios braços.
— Shiiiiiiiu! — Otávio interrompeu e se afastou mais dela para que a mesma não o atrapalhasse mais.
Clara desistiu de interferir na vida daqueles dois e apoiou seu corpo no batente da porta, desfez a trança em seu cabelo pouco a pouco e tentou desfazer alguns nós no cabelo com os dedos. A mãozinha do Talequinho se soltou e seu bracinho caiu ao lado do corpo, o padrinho do menino sorriu satisfeito e deixou um beijinho na testa do seu garoto, levou-o até o berço e o posicionou lá.
Ana Clara não se movimentou, esperou Otávio vir em sua direção e ele veio colocando as mãos na cintura dela, o nariz do mais alto foi até a raiz de seu cabelo, ainda estava com o cheiro do xampu aplicado um pouco mais cedo.
— Está fazendo o quê acordada? — murmurou beijando sua cabeça.
— Eu ouvi o choro do meu filho, você só foi mais rápido — respondeu.
— Deveria ter voltado a dormir. — falou baixinho perto do rosto dela — Quando eu estou aqui, não precisa se preocupar com ele.
Ela sorriu, mas negou com a cabeça.
— Não quero dormir — afirmou meio bêbada de sono.
O mais velho riu pequeno do biquinho que se formou em seus lábios rosados.
— Vamos lá que eu vou te fazer dormir também — convidou a empurrando para fora do quarto do garotinho.
Clara passou na frente dele com os cabelos soltos, ondulados pela trança recém desfeita, vestindo sua camisola com estampa de ursinhos. Ele não resistiu e abraçou a cintura dela por trás antes que a mesma alcançasse a própria cama, Ana riu e levou o braço para trás na intenção de tocar o rosto do rapaz, Tavinho beijou a palma da mão dela e colou mais os corpos dos dois. Sem querer, uma de suas mãos escorregou pela lateral do corpo feminino.
— Você é tão linda — expressou sem pensar direito.
Aninha sentiu as bochechas ruborizadas e se encolheu sob os braços dele. A mesma mão que se aventurou pelo corpo dela subiu para afastar os cabelos da loira para o lado, respirou fundo na nuca dela lhe provocando arrepios até o último fio de cabelo. Amava aquele cheirinho doce dos sabonetes de frutas vermelhas que ela comprava em revistas de cosméticos.
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O que você deixou para trás
RomanceTales passou a vida buscando aventuras e liberdade sem parar para perceber todas as coisas boas que o cercavam. Otávio passou a vida arrumando tudo o que o melhor amigo bagunçava e, com a morte dele, não foi diferente. Mesmo vivendo a maior dor da s...