A paternidade que você deixou para trás

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Ana Clara jogou sua bolsa sobre o sofá e foi direto para o banheiro, quase conseguia sentir os pézinhos do seu menino sambando sobre a sua bexiga. Otávio se jogou sobre o sofá contendo o risinho ao vê-la correndo de um jeito engraçado para o banheiro, não ousaria rir alto, Clara está se irritando fácil. Ele não julga, deve ser estressante estar grávida há tanto tempo. Ela voltou de cara amarrada e se concentrou na sacola com os exames fingindo que o advogado nem estava ali.

Otávio a encarou com humor e deu de ombros.

— Não faz essa cara — pediu.

— Não estou fazendo cara — murmurou emburrada.

Ele ergueu a sobrancelha adorando ver a face adorável daquela coisa pequena, redonda e irritada. Ela parece um cachorrinho nervoso.

— Não entendo a irritação, vai ser melhor para você — argumentou.

— Não é sobre ser melhor, é sobre a família Costa se metendo nas minhas escolhas — grunhiu entre dentes.

— Quanto a isso, não posso fazer nada, eles também fazem isso comigo. — deu de ombros tranquilamente — Mas vou ficar do lado deles dessa vez, vai ser mais confortável, eu me sinto mais seguro em saber que você vai ter toda a assistência necessária.

— Só porque vocês pagaram por isso!? — indagou — Eu não tenho toda essa segurança. Acha mesmo que um hospital particular não vai arrumar uma desculpa para me fazer ter uma cesariana desnecessária só para cobrarem mais caro? Já estou vendo tudo, vou sair cortada daquele hospital — bufou indo até seu quarto para guardar seus exames e para não ter que continuar olhando para a cara de Otávio.

Entendia um pouco o lado dela, porém cedeu assim que Pamela e Marcela falaram sobre bancar um hospital privado para Ana Clara ter seu filho. Os Costa estavam se preocupando com o conforto de visitarem o pequeno Tales num quarto particular todo decorado de acordo com as exigências de Pamela, sem outras crianças chorando ao redor e com tratamento VIP. Otávio estava se preocupando com a paranoia que criou depois de um sonho que teve outro dia.

Sonho, alucinação... Talvez ele devesse buscar um terapeuta, mas foi real. Assim como todos os outros.

Quer dizer, Tales deve estar em algum lugar superior, em algum tipo de projeção astral onde ele não deveria ter preocupações. Se o falecido estava tenso com aquela situação, então ele deveria ficar mil vezes pior. Por mais cético que fosse, Otávio podia duvidar do que é Deus, se existe céu e inferno, contudo em seu melhor amigo ele acredita. Sempre acreditou.

Desde então, ele procurou estar mais perto do que antes. Ligava pela manhã, perguntava se ela já tinha comido na hora do almoço, passava no apê dela no fim da tarde e aproveitava para deixá-la na faculdade, também voltava para buscá-la e deixá-la em casa com segurança. Todo santo dia. Ana Clara deve ter se cansado de dizer que ele não precisa se preocupar ou se desgastar. Quando não dava para ir nas consultas, Otávio queria o relatório completo de Jéssica.

Quando surgiu o assunto sobre um parto chique e confortável para os Costa poderem visitar livremente, tirar fotos e levarem presentes, ele não se opôs e apenas mediou a situação para que Clara pudesse ao menos ter o parto feito pela médica que já confiava, só que pagariam a ela por isso num hospital muito mais confortável. Nem isso pareceu ter sido o suficiente para a moça, mas Otávio permaneceria firme, zelaria pelo cuidado até que o pequeno Tales estivesse seguro e saudável em seus braços.

— Você ainda não me mostrou as fotos — ele desviou do assunto para Ana Clara ficar mais calma.

Ela o fuzilou com o olhar e caminhou até o embrulho sobre a estante e trouxe para ele.

O que você deixou para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora