Capítulo 30 - A situação estava insuportável

3.4K 398 73
                                    



Lena

O banho demorado não foi o suficiente para que minha aparência melhorasse. Eu queria ficar escondida o dia inteiro, mas não podia. Nossos pais e a Kara já deviam estar me esperando para o almoço. Pelo menos era o que eu esperava. Realmente, meus pais e os pais de Kara estavam lá, e com eles só o silêncio e o constrangimento de quem sabia que algo havia acontecido. Meu Deus, será que a Kara contou tudo? O que eu faço? As coisas estavam ficando cada vez piores.

– Tia, cadê a Kara?

– Ela saiu, Lena. Ia se encontrar com alguém, eu acho. E vai ficar aqui mais um tempo. Disse que vocês podem voltar sem ela. Acho que vai ser bom, a Kara está mesmo precisando ficar um pouco longe das coisas que fazem mal a ela.

Senti frieza nas palavras dela. E também pude notar o olhar duro de meu pai. Com certeza eles sabiam de algo. Mas duvidei que a Kara tivesse contado. Não seria bom nem pra ela e nem para mim que eles soubessem. E ela ia se encontrar com quem? Eu realmente odeio não saber o que está acontecendo.

O clima estava péssimo. Meus pais nem quiseram ficar para almoçar. Deram uma desculpa qualquer e fomos embora. Acho que a situação estava chata demais para um almoço em família. Quando entramos no carro, deitei no banco de trás, e chorei. Eu não sabia bem porque estava chorando. Só chorava. Sentia que havia perdido algo. Depois de um bom tempo ali chorando, acabei adormecendo. Nem vi o resto da viagem. Só acordei quando já estávamos na casa dos meus pais.

– Me leva para casa, pai, por favor. – eu praticamente implorei. Precisava do meu espaço, de ninguém por perto.

– Fica aqui, só hoje filha. Ainda nem almoçamos. Amanhã pela manhã você vai pra sua casa. – foi minha mãe quem respondeu.

Meu pai ainda estava em silêncio.

Eu não argumentei. Sai do carro e fui a pé. Não era longe, e eu não tinha forças pra discutir com meus pais. Por sorte, ninguém veio atrás de mim. Acho que, de qualquer forma, eles entendiam que algo havia acontecido e que eu precisava de tempo.

Eu estava magoada com a Kara, nem sabia por que, mas naquele momento achava que tudo era culpa dela. Estava, acima de tudo, preocupada com ela, mas sabia que precisávamos de um tempo afastadas para que tudo voltasse ao normal. O James? Eu liguei pra ele logo que cheguei em casa, mas não foi por estar morrendo de saudades. Liguei justamente pra inventar uma dor de cabeça e dizer que não poderia encontrá-lo naquela noite. Eu estava me sentindo mal por ter feito aquilo com ele. Mas não podia voltar no tempo para mudar isso e não ter beijado a Kara. Talvez, se pudesse, não faria. Foi o melhor beijo que eu já provei.

Parei com minhas ideias malucas e comecei a pensar que aquilo era uma burrada, uma loucura. Mas, não podia negar o efeito que aquele beijo havia causado. Então resolvi pensar que as consequências ainda eram maiores que o efeito. Fiquei assim, pensando, a tarde toda. Mas acho que nem havia escurecido ainda quando adormeci. Meu corpo estava cansado, minha mente também.

Acordei no meio da noite. Estava sonhando com o beijo. Será que um dia eu conseguiria esquecer? Desisti de tentar dormir e fui ler um pouco. Inútil. Não conseguia me concentrar em nada. Esperei dar a hora de ir trabalhar para tentar me distrair. Ajudou um pouco, o dia passou correndo. E a noite fui jantar com o James, que perguntou da viagem, mas desconversei.

Consegui resistir à tentação de ligar para a Kara. Isso não quer dizer que eu consegui parar de pensar nela. Só não ligava. Minha mãe me contou que ela já havia voltado à cidade. Era sinal que tudo estava bem. Mas eu ainda achava que não saberia me comportar frente a ela. Então achei melhor não ir procurá-la.

Mas na quarta-feira foi inevitável. Precisávamos ir fazer a prova do vestido. A Kara me atendeu e foi bem fria comigo no telefone.

Não quis ir comigo, não insisti e convidei minha mãe pra ir.

– Você está linda, filha! É a noiva mais linda que já vi!

– Mãe, isso aqui mal é um vestido. Não tem nada pronto ainda. Não tem como estar linda!

– Está sim, imagina quando estiver tudo pronto, então.

– Vamos ter que apertar um pouco, Lena, você emagreceu desde a última vez. Está ansiosa com o casamento? – a costureira interrompeu.

– É, estou, eu acho. – fiquei totalmente sem graça. Para falar a verdade, não estava me alimentando muito bem desde, desde que eu a Kara nos afastamos. Doía muito ficar longe dela. Naquele momento resolvi ir atrás da minha amiga.

Mas foi em vão. Passei a semana toda ligando, ia até a casa da Kara, mas nada. Só sabia que ela estava bem porque passei a ligar muito para o Barry, e ele me falava sobre ela.

Agora, só faltavam quatro semanas para o meu casamento, mas nem sinal da Kara. Eu estava aflita, com o casamento e com a perda da minha amiga. Não sabia mais o que fazer, como agir. A situação estava insuportável. Então, naquele fim de semana, tive uma ideia.

Enchi meu carro com bolachas, salgadinhos e garrafinhas de água. Escolhi meus melhores CDs, deixei o celular em casa e parti.

Não, não fui acampar. Simplesmente parei na frente da casa de Kara, desliguei o carro e fiquei lá, ouvindo música, e esperando ela aparecer. Uma hora ela iria aparecer, não é? Era sexta à noite. E naquela noite, ela não apareceu. Nem no sábado o dia todo. Eu já estava cansada, não tinha imaginado o quanto seria difícil ficar sem dormir. Mas não podia desistir... e assim, convicta e ciente da necessidade de permanecer acordada, eu consegui passar pela noite de sábado também, sem nem sinal da Kara. Eu só saia às vezes para ir pra casa tomar um banho ou fazer xixi. Morávamos bem perto e isso não me tomava muito tempo. Quando voltava, me certificava que seu carro ainda não estava na garagem. Isso me deixava feliz. Era sinal que eu não era tão azarada a ponto de ela chegar bem quando eu não estava.

Eu já estava quase sem esperanças, mas no domingo de manhã, pude ver seu carro virando a esquina.

Amor Platônico - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora