Kara
Eu a amo tanto... Sempre chega um certo momento das nossas vidas em que nos sentimos cansados. Eu estou muito cansada!
Cheguei num ponto da minha vida em que me pergunto o porquê das coisas. Cheguei nesse ponto que não me permite mais volta, mas também não tenho mais para onde seguir em frente. Por todos esses anos fui forte, mas não tenho mais forças. Estou tão cansada de tudo! Estou completamente derrotada.
Depois que ela saiu não tive mais forças para nada. Continuei largada no chão da sala até as minhas lágrimas secarem. Dei graças a Deus por eu não ter que trabalhar. O que eu fiz o dia inteiro? Perdi-me em memórias...
– Essa é sala do intermediário? – primeira frase que ela direcionou para mim.
– É sim, infelizmente... – respondi distraída em frente a porta.
– Infelizmente por quê?
– Você nunca teve aula com essa professora? – eu disse apontando a mulher que terminava a aula dentro da sala.
Fez que não com a cabeça.
– Ela é muito chata! É a terceira vez que pego a sala dessa mulher, não aguento mais! – ela riu.
– Ela não deve ser tão ruim...
Ficamos em silêncio por um tempo.
– Qual seu nome? – me perguntou sorrindo – Sou Lena.
– Kara - retribui o sorriso.
A primeira conversa a gente nunca esquece. Sentamos lado a lado e no final da aula ela se despediu de mim acenando graciosamente e sorrindo de uma forma que nunca serei capaz de esquecer. Até porque foi no exato intervalo de tempo entre o sorriso que ela deu e minha respiração parar, que percebi o quanto eu estava perdida. Só não imaginava que minha perdição seria assim tão devastadora.
O barulho do telefone me despertou das lembranças. Arrastei-me até onde ele estava.
– Oi, Kara! – ela disse animada.
– Oi – tentei disfarçar.
– Jantar aqui em casa hoje à noite. Vamos comemorar!
– Não, Lena, hoje não dá. Preciso terminar de selecionar umas fotos – menti - Além do mais estou muito cansada... – já isso era verdade.
– Está dispensando a minha comida? – disse fazendo manha.
– Você sabe que amo a sua comida, mas hoje não dá mesmo...
– O que é isso agora, Kara? A gente sempre faz alguma coisa à noite. E é sábado! Por favor!
Fiquei em silêncio. Tudo que eu menos queria e ao mesmo tempo mais queria... era vê-la.
– Oito horas aqui em casa e sem atrasos, tá bom?
– Lena, eu já disse que...
– Nem mais uma palavra, estou te esperando. Ok?
– Ok – rendi-me.
Quis voltar a chorar, mas me segurei. Fui até o espelho e vi o quanto minha aparência estava horrível. Rosto inchado devido às horas de choro. Fui tomar um banho bem demorado. Depois enquanto me arrumava fiz de tudo para diminuir um pouco minha cara de chorona, esperando que ela não notasse nada...
– Nossa, você está horrível! – foi a primeira coisa que disse assim que abriu a porta para mim. Acho que a maquiagem não deu muito certo.
– É que não dormi direito essa noite... – disse entrando.
– Fiz a comida especialmente para você! – disse sorrindo lindamente.
Estava fazendo um esforço sobre humano para não chorar nem parecer abatida, mas era muito difícil.
Senti o cheirinho da comida e lembrei que não tinha comido nada ainda, mas não tinha a menor fome. Enquanto ela comia e eu empurrava a comida, ela me falou de quando contou aos pais, a reação da mãe toda animada e também seu pai agindo estranho.
A cada garfada meu estomago embrulhava. Não olhava nos seus olhos numa tentativa de que ela não reparasse minha tristeza, não sei quanto tempo aguentaria ficar na sua presença, fingindo.
Eu não aguentava mais ouvi-la falando de seu noivo e seu casamento. Estava chegando ao meu limite. Tentei me concentrar na sua felicidade e não em suas palavras. E era tão claro que ela estava feliz e animada com o fato de casar com o James. Eles só namoravam há uns meses, quase um ano, mas mesmo assim não era hora de casarem ainda. Eu não estava preparada!
Desde sempre, a cada relacionamento que ela tinha, eu me debulhava em lágrimas e em ciúmes. Aliás, meus ciúmes eram praticamente eternos, pois a cada rapaz que se aproximava dela eu pensava: "será esse?". E quando era, para mim, era o fim. Eu sempre achei que me acostumaria com isso, mas acho que o amor sempre acaba nos pregando peças. E essa era mais uma peça que acontecia comigo. Um casamento, meu Deus! O que eu faria da minha vida agora que ela estaria com alguém todo dia? Ela iria morar com alguém, trocar carícias diárias, ter filhos! E eu? O que seria de mim? Não sei se serei capaz de suportar isso.
– Você está diferente – disse me olhando nos olhos – Não está nem sorrindo...
– Só estou muito cansada – fugi de seus olhos.
– Eu sei o que é, Kara. Não precisa mentir para mim – meu coração foi a mil. Ela sabe?!
– Você sabe? – senti meu corpo tremer e um frio muito forte começou a me invadir.
– Claro, você sabe que eu te conheço muito bem. Você acha que só porque eu vou casar vou te deixar de lado. Isso nunca vai acontecer, Kara! – respirei aliviada, ela não sabia de nada – Você nunca vai sair da minha vida, nada entre a gente vai mudar! Não precisa ficar assim.
Fiquei em silêncio.
– Eu preciso de você para ser feliz! - continuou
Eu não estava mais aguentando o meu peito comprimindo daquela maneira. Por que eu tinha que sofrer tanto assim?
– O James vai me fazer feliz, mas preciso de você para essa felicidade ser completa!
Meu limite estava se aproximando.
– Você é a minha melhor amiga!
Era só uma questão de segundos...
– Eu te amo!
Assim que ela completou a frase eu não consegui mais me conter. Desabei num choro desesperado. Levantei-me bruscamente da mesa sob seu olhar assustado. Dirigi-me até a porta rapidamente.
– Kara! – ela me chamava preocupada.
Quando botei a mão na maçaneta numa atitude desesperada de sair daquela realidade, ela me alcançou. Eu só queria ir embora.
Não conseguia mais parar de chorar.
– Me deixa ir – consegui dizer com dificuldade.
A cada segundo que passava meu choro aumentava e ficava mais desesperado. Ela me abraçou sem ter o que dizer. Eu estava desesperada e ela preocupada. Chorava tanto que até perdia o ar. Parecia uma criança. Caí ao chão com ela ainda me apertando forte. Porém nada amenizava, nem um pouco, o que eu estava sentindo. Doía tanto que eu queria arrancar o coração do meu peito.
Por quê? Por que eu tinha que sofrer tanto?
Passei do meu limite.
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Amor Platônico - Adaptação Karlena
FanficVERSÃO KARLENA "...Por todos esses anos eu me acostumei em ver e não tocar, em amar e não ser amada. Tive namoradas também, e também foram poucas já que nunca conseguia tirá-la da cabeça e muito menos do coração. A verdade é que realmente me acostum...