Capítulo 26 - Sentimentos doidos

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Lena

A semana toda foi uma grande loucura. O James estava totalmente neurótico com o casamento e todo pegajoso e cheio de saudades pelo fim de semana que passei fora. Quando eu não estava no trabalho estava com ele, resolvendo detalhes, escolhendo as coisas, enfim, preparando tudo para o nosso casamento. Eu queria ter contratado alguém para fazer tudo isso, mas o James queria tudo do jeito dele. Se não fosse o cansaço que ele estava me causando eu não teria do que reclamar. Ele era extremamente atencioso e prestava atenção em todos os detalhes que passariam facilmente despercebidos por mim. Mas ele bem que poderia fazer tudo sozinho. Eu não gostava daquilo, e me entediava facilmente. Limitava-me a concordar com tudo.

Estava feliz, claro. Era meu casamento. Depois do fim de semana com a Kara, parei para pensar e vi que eu estava apenas confusa e um pouco assustada com toda essa preparação, com a data já marcada. Mas tudo já havia voltado ao normal. Eu estava feliz em ter o James comigo e não reclamei nenhuma noite, quando a gente ficava olhando revistas, fazendo reuniões com o Buffet, o pessoal da decoração e tudo mais até tarde, e depois ele acabava dormindo em casa. É, eu estava realmente bem. Até senti um pouco de peso na consciência por não ter incluído ele na visita aos pais de Kara, e resolvi convidá-lo também. Infelizmente, ele não poderia ir. O casamento estava tirando muito do seu tempo e ele trabalharia no final de semana para adiantar umas coisas.

Meu pai não escondeu sua satisfação em saber disso. Mais uma vez estava irritada com todo aquele seu desprezo pelo meu noivo. Quando falava com minha mãe sobre os preparativos ele sempre dava um jeito de sair e não ficar sabendo de nada. E quando ouvia, criticava. Sempre.

Na sexta feira liguei para a Kara para avisar que iríamos viajar. Ela ficou super feliz. E eu também, claro. Adorava agradar minha amiga. Combinamos tudo e eu fui dormir, estava cansada e queria estar bem descansada para aproveitar o fim de semana.

No sábado bem cedo meus pais passaram em minha casa. Tá, nem era assim tão cedo, mas... pegamos minhas coisas e fomos para a casa da Kara. Ela estava radiante, não escondia sua alegria em passar o fim de semana em família. Desde que ficamos amigas tínhamos essa relação. Minha família e a dela eram, no fundo, uma grande e única família. Nossos pais se aproximaram muito pela nossa amizade, e acabaram ficando bem amigos também. Eu adorava isso.

Fomos conversando o caminho inteiro. Eu e ela no banco de trás do carro dos meus pais. Isso me lembrava muito as viagens que fazíamos logo que nos conhecemos. Sempre com meus pais, ou os pais dela. Sempre brincando e rindo, como duas adolescentes que éramos. Às vezes eu sentia falta disso.

Quando chegamos, tio Jeremiah e tia Elisa se mostraram extremamente contentes pela visita. Cumprimentaram meus pais, e abraçaram muito eu e a Kara. Era como se nós duas fossemos suas filhas. Ficamos conversando por um bom tempo. O assunto? Claro, meu casamento. Contei feliz sobre os preparativos, sobre minha ansiedade, meu vestido. Tudo. A Kara parecia estar incomodada, mas não falou nada sobre isso. Sua mãe às vezes olhava para ela, meio preocupada, mas também nada falou.

Depois de muito tempo conversando, tia Elisa foi terminar de arrumar o almoço e a Kara foi ajudar. Eu me ofereci também, mas elas recusaram minha ajuda.

Quando nos chamaram para almoçar, a Kara estava com os olhos um pouco vermelhos, e extremamente quieta. Eu não comentei nada para não estragar o clima alegre e descontraído, mas sem dúvidas iria perguntar depois. Depois do almoço, eu e minha mãe lavamos toda a louça. É, a gente tinha mesmo essa relação familiar. Não nos sentíamos como visita na casa deles. Então, nada mais justo.

Mais tarde descansamos um pouco e fomos a um barzinho tomar cerveja. Minha mãe e a mãe de Kara resolveram ficar, então fomos só com nossos pais. Aproveitei-me do momento. Meu pai e tio Jeremiah estavam entretidos, falando de futebol, e nem prestavam atenção na minha conversa com Kara.

- O que aconteceu mais cedo? Você estava chorando.

- Não, não estava. Foi só impressão sua.

- Estava sim, chorou na cozinha, com sua mãe. Às vezes você pensa que sou muito boba, ou muito cega, né?

- Eu só estava com saudades. Fiquei feliz por voltar para casa, mesmo que por um fim de semana. Você sabe como é, ficar longe dos pais por tanto tempo. Dá aquele vazio, parece que falta algo.

Ela estava mentindo, eu sabia. Mas, o que eu poderia fazer? Quando a Kara não queria me contar algo, nada no mundo a convencia. Então, fiquei na minha e voltamos a conversar sobre coisas bobas.

À noite já estávamos todos meio altos pelo tanto de cervejas, e resolvemos fazer um churrasco. Ficamos ali até bem tarde, e depois que todo mundo foi dormir, eu e a Kara ainda continuamos lá na varanda, conversando. Ela nunca havia bebido daquele jeito. Na verdade, nem eu.

Já estava me sentindo bem alterada. E estava novamente com todos aqueles sentimentos doidos por minha amiga. Dizem que água fria cura a bebedeira, não é? Não pensei duas vezes e me joguei na piscina.

- Lena, você é maluca! Essa água deve estar super gelada. E está ventando. Vai ficar doente.

- Para de ser sempre tão certinha, Kara. Vem aqui comigo. A água está ótima.

Mas ela nem se mexeu. Dei umas braçadas de um lado para o outro da piscina, até me sentir realmente melhor. Então saí, e Kara me esperava com uma toalha. Tirei a toalha de suas mãos, como se fosse mesmo me enxugar. Mas uma vontade doida e inconsequente me fez abraçá-la, molhada mesmo, bem forte, sentindo todo seu corpo contra o meu e toda a sensação que aquele contato me causava. A Kara não se desvinculou do abraço. Ficamos ali por alguns instantes. Coloquei minha mão em sua nuca. E confesso, naquele instante, senti novamente vontade de beijá-la. Encostei meus lábios em sua orelha:

- Vamos dormir juntas, essa noite, né?

Amor Platônico - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora