Capítulo 6 - Talvez a felicidade esteja bem perto

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Boa Leitura!!!


*****

Lena

Acordei no meio da noite e só então me dei conta de que estava sozinha na cama. Levantei e olhei pela casa toda, mas a Kara havia ido embora. Eu não conseguia entender. Eu estava sofrendo tanto em ver minha amiga tão mal. Mas ela parecia não querer se abrir comigo, não querer minha ajuda. Depois dessa noite, tive certeza que não era só o meu casamento que a estava deixando tão sensível. Tinha algo mais, algo que ela estava me escondendo. Será que Kara finalmente se apaixonou por alguém? Se fosse isso, não havia porque esconder de mim. Deveria ser outra coisa. Mas o que? A gente não tinha segredos. Ou tinha? Fiquei por um bom tempo no sofá da sala, relembrando os últimos acontecimentos e tentando adivinhar porque ela havia chorado tanto.

Não consegui pensar em nada concreto. Apenas suposições.

Cheguei até a ficar meio decepcionada por ver que minha amiga não confiava tanto em mim. Mas depois coloquei meus pensamentos em ordem e vi como estava sendo boba. Tanto tempo de amizade. Se ela não queria me contar, eu não iria tentar obrigá-la. Mas sem dúvidas iria fazê-la entender que, independentemente de qualquer coisa, eu estaria ao seu lado. Perdida nas lembranças de tudo que vivemos nesse tempo todo de amizade, lembrei que era muito difícil para Kara me contar algumas coisas.

Como no dia que descobri que ela gostava de meninas.

Naquele dia a gente resolveu que iria a um barzinho novo. Ela estava linda naquela noite. E não demorou muito para que os homens notassem isso. Estávamos solteiras e foi só uma questão de tempo até dois rapazes virem pedir se podiam sentar com a gente. Ficamos lá por muito tempo. Todas aquelas bebidas já estavam fazendo efeito. E eu estava fazendo algo que não costumo fazer: ficando com o cara sem nem o conhecer direito. Mas cada vez que olhava para Kara e seu "pretendente", via o quanto ela estava sendo seca com ele. E estava com uma cara de brava que dava medo. Eu queria que ela ficasse com ele. Era um homem bonito, e eu nunca havia visto minha amiga com ninguém. Será que ela não percebia que ele estava querendo ficar com ela?

Resolvi levá-la até o banheiro para conversarmos.

Só percebi o quanto Kara estava bêbada quando ela tentou se levantar e teve que se apoiar para não cair. Quando falei sobre o rapaz, no banheiro, os olhos dela se encheram de lágrimas. A voz já estava meio mole pelo efeito da bebida.

– Não vai acontecer, Lena. Sabe por quê? Não sou como você. Não sinto atração por ele. Pode deixar de ser minha amiga se quiser. Mas está na hora de você saber. Sou lésbica.

Ela baixou a cabeça, como se estivesse confessando um pecado muito grave. Eu a abracei, sorri e disse:

– Será que arrumo alguns paqueras numa baladinha LGBT? Amanhã vou a uma com você. Deve ser mais fácil do que você encontrar uma namorada nos lugares que frequentamos.

Depois disso, eu ia para as festas LGBT com ela, ela ia para as festas hétero comigo.

Ela sabia que podia contar comigo para tudo, sempre soube. Talvez só precisasse de um pouco de tempo.

Fiquei ali até amanhecer. Cheguei à conclusão que não deveria mais tentar forçá-la a falar. Mas estaria ao lado dela mostrando que estava disposta a ajudar no que quer que fosse. Resolvi ligar pra ela para ver se estava tudo bem. Mas a Kara não atendeu.

Nem dessa vez, nem nas outras mil vezes que liguei. O celular estava desligado. Ela não deveria estar em casa. Eu havia combinado um almoço com meus pais e James. Decidi passar na casa dela depois.

Durante todo o tempo o James tentava me agradar. Encheu-me de mimos e carinho. Mas eu estava com a cabeça em outro lugar. Não conseguia parar de pensar em Kara. Estava tão preocupada. Tentava ligar para ela o tempo todo. E nada de ser atendida. Todo mundo notou que eu não estava bem, eu não poderia disfarçar. E também não quis contar tudo o que havia acontecido. Falei apenas que Kara estava meio triste nos últimos tempos e eu não sabia como ajudar.

Por um momento fiquei sozinha com meu pai na sala. Ele me conhecia tão bem. Podia ver a preocupação em meus olhos.

– Filha, por que não vai atrás da sua felicidade?

– Como assim, papai? – eu nunca entendia bem o que ele queria dizer. Eu estava feliz. Estava mal por não suportar ver minha amiga sofrendo. Mas, eu ia casar! Estava indo atrás da minha felicidade. Não estava?

– Às vezes você fecha os olhos para coisas que podem mudar a sua vida. Não quero falar sobre isso para não te confundir nem te forçar a nada. Mas, olhe ao seu redor, Lena. Talvez a felicidade esteja bem perto. E não esteja no James.

– Pai, eu não sei por que você não gosta dele, mas vamos nos casar. Não adianta! Nada do que o senhor me disser vai mudar isso.

A conversa terminou nesse instante. Às vezes esse mistério todo me deixava irritada. No fundo, ele fazia isso tudo para que eu não me casasse. E eu sabia.

Ficamos na casa de meus pais até anoitecer. James resolveu que dormiria em minha casa naquela noite. Achei que seria bom dar uma passada rápida pela casa de Kara para ver se estava tudo bem. Ele não gostou muito da ideia, reclamou que eu dava mais importância a ela do que a ele. Isso me deixou muito irritada. Quase brigamos, mas ele resolveu ir comigo.

Depois de ser insistente na campainha, quem abriu a porta foi Barry. Ele era nosso amigo praticamente desde que conheci Kara.

Mas depois de um tempo ficou muito mais próximo a ela do que a mim. A presença dele ali era um sinal de que ela não estava bem ainda. Por que não me chamou? Eu deixaria de lado o almoço com meus pais e meu noivo para passar o dia com ela. Mas não, ela nem me atendeu!

Entramos, e quando a vi notei que as olheiras da noite anterior estavam muito maiores. Além disso, estavam associadas aos olhos vermelhos. Ela havia chorado a tarde toda. Eu tinha certeza. E ela estava tão diferente. Tão fria comigo. Eu fiz algo de errado?

Acho que não. Queria poder tirar dela isso que a fazia sofrer. Mas eu nem sabia o que estava causando tanto sofrimento.

Ficamos lá por mais alguns minutos e o James me chamou para ir embora. Naquele momento eu pensei e resolvi o que fazer. Só me casaria quando ela estivesse pronta. Era só um medo bobo de perder minha amizade. Mas era um medo bobo da minha melhor amiga. E se meu casamento faria mal a ela naquele momento, eu esperaria um pouco mais. James não iria gostar da ideia, então era melhor não contar para ele no momento. No outro dia passaria para vê-la depois do trabalho, e diria que ia esperar mais um pouco.

À noite, em minha cama, enquanto fazia amor com James, meus pensamentos estavam focados no tanto que Kara chorou no meu abraço, na noite passada, naquela mesma cama. Se ele notou que eu estava em outro planeta, não disse nada. Ainda bem. Ele iria acabar se estressando com toda a minha preocupação com Kara.

Amor Platônico - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora