Kara
Quando começou a amanhecer me entreguei ao cansaço. Fui acordada pelo carinho e o beijo de Lena que me arrepiaram toda.
Quem me dera acordar assim todos os dias!
– Bom dia – eu disse sonolenta, respondendo ao seu sorriso.
– Seu café, como prometido – disse orgulhosa da bandeja cheia de coisas que ela trouxe. Ela sabia exatamente o que eu gostava.
Comemos e enquanto ela terminava de se arrumar eu fiquei deitada pensando em quanto eu amava aqueles momentos com ela, e o quanto eles me faziam bem. Poder dormir abraçada a ela, acariciar seus cabelos, ter seu corpo junto do meu. Se a Lena não ficasse nunca com nenhuma outra pessoa, eu nem precisaria de mais do que já tinha para ser plenamente feliz. De verdade. O que eu tenho dela já me dá plena felicidade, a única coisa que atrapalha é o ciúme. É isso que me dói. Por que tenho que ser tão egoísta a ponto de sentir essa coisa horrível?
– Kara, viu só? Não tem nada demais a gente brincar de agir como adolescentes de vez em quando. Quero que, antes do meu casamento, a gente faça isso sempre que possível. Vai ser muito difícil ter que passar menos tempo com você, então devemos aproveitar ao máximo o momento – ela disse quando estávamos saindo.
Eu só podia rir dela com esse jeito criança tão lindo. E por mais que eu tentasse contestar ela sempre arrumava uma rápida solução. Adorava esse seu jeito espontâneo de criança que quer sempre dar um jeito em tudo. Como não amá-la?
Fui para o trabalho e a noite ela me ligou para marcar direitinho o almoço. O resto da semana foi bem tranquilo. O sentimento de paz que a Lena me proporcionou foi se estendendo e sempre que nós falávamos ela não tocava no assunto casamento, o que me fez esquecer um pouco a tristeza.
Na sexta, como combinado fui à casa dos pais da Lena. Tio Lionel abriu a porta e me recebeu alegre.
– Como vai minha família predileta? – perguntei sorridente enquanto os cumprimentava.
– Com muitas saudades suas! – disse tia Lilian.
– Você está bem? – perguntou tio Lionel olhando bem no fundo de mim.
– Estou – respondi um pouco desconcertada.
Sentamos para conversar e esperar a Lena, que ainda não tinha chegado. Tia Lilian começou a falar do casamento toda empolgada e eu tentei ao máximo não parecer incomodada, mas acho que tio Lionel reparou, por isso deixou a esposa falar sozinha.
– Oi, gente, desculpa pelo atraso – disse Lena entrando na sala.
Deu-me um abraço bem forte e um beijo no rosto. Cumprimentou os pais também e fomos almoçar.
Contei a eles sobre como estava meu emprego, eles sempre se interessavam muito pelos eventos que eu cobria. Era muito bom estar ali, me sentia mesmo em família. Eles teciam vários elogios e me mimavam o tempo todo. A comida era exatamente o que eu adorava e minha sobremesa preferida: mousse de chocolate.
– Nada como a sua comida, tia. A Lena tenta cozinhar, mas nada fica tão bom quanto o seu!
– Hey! – Lena riu e me beliscou, adorava implicar com ela nisso, ela ficava toda nervosinha.
Depois o assunto inevitavelmente acabou caindo no casamento. Normal, já que mãe e filha estavam todas empolgadas.
– Eu não aprovo mesmo esse casamento. Não acho que a Lena e o James formam um bom casal. Acho que não vão conseguir manter isso por muito tempo. Eu realmente não sei por que insistem nessa história toda – tio Lionel disse já não se segurando mais - Acho que você não deveria deixar minha filha fazer essa loucura, Kara – e olhando diretamente nos meus olhos - Você é a única pessoa que poderia impedir esse casamento, nós todos sabemos disso.
Eu fiquei calada pensando no que ele falou. O pior é que eu sei que eu poderia, mas eu não posso, não conseguiria.
As duas começaram a tirar a mesa e foram lavar louça, aproveitando esse tempo em que estávamos sozinhos, tio Lionel, para a minha surpresa, volta ao assunto.
– Você sabe que eu estava falando sério, não sabe? Você é a única que pode fazer isso.
– Mas por que eu ia querer tirar essa felicidade dela?
Ele respira fundo e dispara:
– Porque nós dois sabemos que é você quem vai fazê-la feliz.
Fiquei calada e sem reações. Ele sabe?
– Eu sempre soube, Kara.
Nisso a Lena voltou na sala para pegar alguma coisa que eu nem vi o que era. Mas ela percebeu o clima da conversa e saiu rapidamente. Então ele continuou.
– Deve estar sendo difícil para você.
Então eu não aguentei e comecei a chorar baixinho. Ele foi me levando até o escritório que era bem ali do lado e quando chegamos eu falei:
– É... está sendo muito difícil.
– Por que não faz alguma coisa? Já tem tanto tempo!
– E o que eu posso fazer?
– Fala pra ela! Acaba com esse casamento de uma vez por todas e faz minha filha feliz.
– Fazer a Lena feliz é o que eu mais quero nesse mundo! – disse convicta – Mas infelizmente a felicidade dela não cabe a mim.
– Claro que cabe! Ela ama você, Kara! – disse efusivo.
– Por que diz isso? – perguntei confusa.
– É tão claro, sempre foi. Ela sempre gostou de você, ela só não sabe disso, mas um dia, mais cedo ou mais tarde, ela vai reparar.
Só espero que não esteja já casada com aquele bobão.
– Ela não me ama...
– Ela ama sim! Eu sempre pensei que vocês iam acabar se acertando, mas já passou tempo demais, você tem que fazer alguma coisa para ela reparar – uma pontada de esperança me atingiu e eu comecei a ficar muito confusa. Tornei a chorar.
Tio Lionel me abraçou.
– Eu não sei o que fazer! Não quero atrapalhar a Lena. Eu a amo tanto! – disse entre o choro – Sou uma covarde! Sempre fui...
Eu acabei conversando bastante com ele e contando da minha dor desde que soube. Fiz várias declarações de amor a ela.
Realmente desabafei. Era bom saber que ele estava do meu lado.
– Você vai achar uma solução, Kara. E fique sabendo que eu estou aqui para tudo que precisar. Você é como uma filha para mim e tudo que eu quero é que vocês duas fiquem juntas. Eu sei disso desde que se conheceram, sei que se amam e vão ser felizes, mas o quando, cabe a você – cada vez eu ficava mais confusa – Pensa nisso, minha filha.
Depois que eu me recompus saímos do escritório e fui me despedir das duas. Achei melhor ir para casa. Dei uma desculpa de trabalho e vi que a Lena ficou me analisando. Com certeza ia querer saber o que conversamos. Preciso pensar logo em alguma coisa para lhe falar.
Fui para casa e fiquei pensando no que tio Lionel me disse. Será? Eu a amo tanto!
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Amor Platônico - Adaptação Karlena
FanficVERSÃO KARLENA "...Por todos esses anos eu me acostumei em ver e não tocar, em amar e não ser amada. Tive namoradas também, e também foram poucas já que nunca conseguia tirá-la da cabeça e muito menos do coração. A verdade é que realmente me acostum...